Sal e pressão arterial ainda geram debates acalorados no meio médico, especialmente quando profissionais questionam diretrizes estabelecidas há décadas. Dr. Hussein Awada (CRM-SP 177707), médico pós-graduado em Nutrologia, Medicina do Esporte e Medicina Integrativa, tem chamado atenção em suas redes sociais ao questionar a relação direta entre consumo de sal e hipertensão, citando dados históricos e estudos científicos que, segundo ele, contradizem as recomendações atuais.
O especialista, que atende pacientes com doenças crônicas e conta com mais de 1 milhão de seguidores em suas redes sociais, defende que a teoria atual sobre sal e hipertensão teve origem em estudos limitados do início do século XX. Atualmente, organismos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam consumo máximo de 5 gramas de sal por dia, alertando que o excesso está relacionado a hipertensão e doenças cardiovasculares.
Qual a origem da teoria que associa sal à hipertensão?
A teoria que conecta sal à hipertensão crônica teve origem em 1904, com o estudo de Ambard & Beauchard, baseado em apenas seis pacientes. Dr. Hussein Awada destaca que essa base científica limitada se tornou fundamento para diretrizes que persistem até hoje, mesmo com evidências contraditórias surgindo ao longo dos anos.
Posteriormente, entre 1920 e 1922, Allen reforçou essa teoria com apenas quatro estudos não replicados. Em 1944, Kempner criou a “Dieta do Arroz” para hipertensos, restringindo drasticamente o sal, mas ignorando que a dieta também era rica em potássio, nutriente conhecido por reduzir a pressão arterial. O médico explica que muitos fatores foram desconsiderados nessas pesquisas iniciais, gerando conclusões questionáveis.
Como nossos ancestrais consumiam sal sem problemas cardiovasculares?
Registros históricos mostram que um romano médio consumia cerca de 25 gramas de sal por dia, segundo cálculos de Plínio o Velho. Os romanos adicionavam sal abundantemente aos pratos com verduras e utilizavam o tempero em diversas preparações. Dr. Hussein questiona como civilizações inteiras mantinham esse consumo elevado sem os índices de hipertensão observados atualmente.
Dados americanos mostram que no século XVI o consumo chegava a 40 gramas diários, enquanto o primeiro caso de hipertensão foi registrado apenas em 1.600. No século XVIII, o consumo era de aproximadamente 20 gramas por dia, ainda muito acima das recomendações atuais. Esses dados levantam questionamentos sobre outros fatores que podem estar relacionados ao aumento da hipertensão na população moderna.
Quantas pessoas são realmente sensíveis ao sal?
Estudos mostram que aproximadamente 60% dos pacientes com hipertensão apresentam sensibilidade aumentada ao sal, enquanto 40% dos hipertensos não demonstram alterações na pressão arterial com o consumo do mineral. Dr. Hussein enfatiza que isso significa que nem todos os hipertensos precisam restringir drasticamente o sal.
Entre pessoas com pressão normal, cerca de 80% não são sensíveis ao sal, ou seja, não apresentam aumento momentâneo da pressão arterial após o consumo. Até mesmo entre pré-hipertensos, 75% também não demonstram sensibilidade ao mineral. Entretanto, as evidências científicas atuais mantêm a recomendação de redução do consumo, pois estudos consistentes apontam associação entre alto consumo de sódio e doenças cardiovasculares, especialmente quando mediadas pela hipertensão.
Por que atletas usam sal para melhorar performance?
Atletas de ultra endurance podem perder entre 1 a 2 gramas de sal por litro de suor. Considerando que esses atletas perdem no mínimo um litro de suor por hora, em eventos de 10-12 horas a perda de sódio pode ser significativa. Dr. Hussein destaca que fisiculturistas e corredores utilizam estrategicamente o sal para otimizar hidratação e performance.
Cápsulas de sal são recomendadas para atletas de endurance, em dose de uma a duas cápsulas a cada 2-3 horas de atividade intensa. A reposição de sódio previne câimbras e hiponatremia, condição caracterizada pela diminuição perigosa de sódio no sangue. A recomendação científica é de cerca de 500mg de sódio para cada litro de água consumido durante atividades prolongadas, pois a reposição adequada de eletrólitos é fundamental para manter o desempenho atlético.
Qual a diferença entre sal natural e sódio processado?
Dr. Hussein faz distinção importante entre sal marinho integral e o sódio presente em alimentos ultraprocessados. Segundo dados oficiais, no Brasil três quartos do sódio na dieta provêm de alimentos processados e ultraprocessados, como pães, molhos, biscoitos, refeições prontas e carnes processadas. O médico argumenta que o problema não está no sal adicionado aos alimentos naturais, mas no consumo excessivo de produtos industrializados.
A Pesquisa de Orçamento Familiares do IBGE mostra que o consumo de sódio na população brasileira excede em mais de duas vezes o limite máximo recomendado pela OMS. Os brasileiros consomem em média 9,3 gramas de sal por dia, quase o dobro dos 5 gramas recomendados. A estratégia defendida pelo especialista é focar na redução de alimentos processados, mantendo o uso consciente de sal natural em preparações caseiras.
Como o corpo regula naturalmente o sal consumido?
Rins saudáveis mantêm um nível de sódio constante no organismo através do ajuste da quantidade excretada na urina. Quando o consumo e a perda de sódio não estão equilibrados, o corpo possui mecanismos sofisticados para regular essa concentração. Dr. Hussein defende que o organismo humano evoluiu com sistemas eficientes de regulação do sal.
Os rins participam do controle das concentrações de íons como sódio, potássio e cloretos. De acordo com as concentrações no sangue, esses íons podem ser eliminados em maior ou menor quantidade na urina, mantendo o equilíbrio necessário para o funcionamento adequado do organismo. O médico argumenta que pessoas com função renal normal conseguem processar quantidades significativas de sal sem problemas, desde que mantenham hidratação adequada.
O que dizem as evidências científicas atuais sobre sal?
A Organização Pan-Americana da Saúde confirma que mais da metade das mortes por doenças cardiovasculares são atribuídas à hipertensão, condição que pode ser agravada pela ingestão excessiva de sal. Apesar das considerações do Dr. Hussein, as evidências científicas atuais mantêm a recomendação de redução do consumo de sódio como medida preventiva.
Globalmente, estima-se que o consumo excessivo de sódio esteja associado a cerca de 3 milhões de mortes e perda de 70 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade. Mais de 95% das populações mundiais consomem sódio em excesso, com média de 3,9 gramas por dia. A redução do consumo de sal é considerada pela OMS uma das melhores intervenções custo-efetivas para prevenir hipertensão e doenças cardiovasculares, com meta de redução de 30% no consumo até 2025.
Fontes Oficiais
Organização Mundial da Saúde (OMS) – https://www.who.int
Ministério da Saúde do Brasil – https://www.gov.br/saude
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) – https://www.paho.org
SciELO Brasil – https://www.scielo.br
Biblioteca Virtual em Saúde MS – https://bvsms.saude.gov.br