A preocupação com o futuro do chocolate tomou novos contornos em 2025 após a divulgação de uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. O estudo, publicado no início deste ano, ressaltou desafios enfrentados na produção do cacau, matéria-prima essencial para o chocolate, especialmente em países produtores da África Ocidental e também no Brasil. Esse cenário colocou produtores, pesquisadores e consumidores atentos ao que pode estar por vir se medidas urgentes não forem adotadas.
A produção do chocolate envolve um longo percurso, iniciado nos cultivos de cacaueiros, árvores tropicais sensíveis a doenças e variações do clima. O cacau, após sua colheita, é fermentado, seco, aquecido, resfriado e, finalmente, misturado com açúcar e leite em pó até chegar ao formato conhecido e apreciado mundialmente. A indústria do chocolate depende fortemente da estabilidade das safras de cacau, fator que está cada vez mais difícil de garantir diante dos desafios ambientais crescentes.
A produção de cacau está ameaçada?
A pesquisa apontou que aproximadamente 70% do cacau no mercado mundial têm origem em países como Costa do Marfim e Gana, ambos na África Ocidental. Nesses locais, o clima tropical favorece o cultivo do cacaueiro, embora as lavouras estejam expostas a riscos. Chuvas excessivas e aumento na frequência de doenças, resultado das mudanças climáticas, causaram prejuízos significativos na produção, dificultando a recuperação de safras e ameaçando o abastecimento global do doce.
Além disso, o estudo indicou que o Brasil também enfrenta obstáculos semelhantes. Regiões tradicionalmente produtoras de cacau, principalmente no sul da Bahia e em partes do Pará, têm registrado oscilações na produção devido a pragas, fungos e alterações no regime de chuvas, agravando o quadro de instabilidade. A combinação de fatores ambientais e bióticos criou um cenário de incerteza para produtores locais e colocou a sustentabilidade da atividade em debate.

O chocolate chegará ao fim?
Diante da possibilidade de escassez do chocolate, a ciência intensificou esforços na busca de soluções inovadoras. Equipes de pesquisa têm explorado novas variedades de cacaueiro mais resistentes a doenças e mudanças climáticas, além do desenvolvimento de tecnologias para monitoramento de lavouras. O uso de biotecnologia e melhoramento genético tornou-se uma das ferramentas mais promissoras nessa corrida para preservar a produção e minimizar perdas.
- Introdução de cultivares resistentes a fungos e vírus
- Sistemas de irrigação e manejo sustentável do solo
- Técnicas de controle biológico de pragas específicas
A colaboração entre universidades, centros de pesquisa e a indústria do chocolate resultou em projetos-piloto no Brasil e na África, demonstrando que a transferência de conhecimento científico para o campo é fundamental para garantir a viabilidade do cacau a longo prazo.
Quais alternativas existem para enfrentar a crise do cacau?
Diversas estratégias têm sido discutidas para amenizar os impactos da crise do cacau. A diversificação de culturas nas propriedades rurais, a disseminação de práticas agrícolas regenerativas e a adoção de políticas de apoio aos pequenos produtores surgem como caminhos viáveis. Organizações internacionais e governos locais, por exemplo, têm estimulado o reflorestamento e a proteção de áreas nativas, reforçando a importância dos ecossistemas para a resiliência do campo.
- Ampliação de investimentos em pesquisa agrícola
- Fortalecimento de parcerias entre setores público e privado
- Capacitação e assistência técnica aos produtores
- Promoção do consumo consciente de chocolate
- Apoio aos Produtores e Fortalecimento da Cadeia:
- Crédito e Financiamento: Disponibilização de linhas de crédito e programas de financiamento (como o Pronaf no Brasil e iniciativas de CRA Sustentável) para auxiliar produtores na transição para práticas mais sustentáveis, na revitalização de lavouras e na aquisição de tecnologias.
- Associativismo e Cooperativismo: Estímulo à formação de cooperativas e associações para integrar e engajar o setor produtivo, aumentando a competitividade e o retorno econômico para os produtores.
- Transparência e Rastreabilidade: Implementação de tecnologias como blockchain para tornar as cadeias de suprimentos agroalimentares mais transparentes, garantindo a origem sustentável do cacau e o cumprimento de regulamentações (como a EUDR na Europa).
- Combate ao Trabalho Infantil e Análogo ao Escravo: Ações efetivas para zerar o trabalho infantil e análogo ao escravo nas áreas de produção de cacau, garantindo condições de trabalho dignas.
- Inovação e Tendências de Mercado no Setor de Chocolate:
- Chocolates Funcionais e Diferenciados: Foco em produtos com benefícios adicionais, como os “plant-based” (veganos), sem laticínios, ou com ingredientes que potencializam a saúde (nozes, sementes, adaptógenos).
- Novas Combinações de Sabores: Exploração de sabores inéditos e combinações ousadas (chocolate com frutas cítricas, pistache, etc.) para atender a consumidores que buscam novas experiências gastronômicas.
- Mercado Artesanal e de Origem: Crescimento da demanda por chocolates produzidos com processos artesanais e com foco na origem dos ingredientes, valorizando a autenticidade e a qualidade.
- Certificações de Sustentabilidade: Aumento da procura por chocolates com certificações que atestam a sustentabilidade da produção, o respeito ao meio ambiente e às condições sociais.
O debate também inclui a possibilidade de substitutos sustentáveis para parte dos ingredientes tradicionais do chocolate, embora não exista, até o momento, uma alternativa amplamente aceita capaz de replicar o sabor e a textura do produto original. O cenário, agora, exige um esforço conjunto para manter aceso o legado de uma das iguarias mais consumidas do planeta.
Com o futuro do chocolate em pauta, o setor produtivo, a ciência e o consumidor estão diante de novos desafios. A busca por saídas inovadoras sinaliza caminhos promissores, mas deixa claro que o envolvimento de todos os elos dessa cadeia será decisivo para garantir que o chocolate continue presente nas mesas ao redor do mundo.