Na primeira semana de julho de 2025, o sistema instantâneo de pagamentos brasileiro, o PIX, se tornou alvo de um sofisticado ataque cibernético, provocando alarme entre usuários, instituições financeiras e órgãos reguladores. O incidente, considerado o maior já registrado na infraestrutura bancária nacional, concentrou a atenção sobre a segurança digital no Brasil e sobre os riscos de um ecossistema cada vez mais conectado. Estima-se que o prejuízo decorrente da ação tenha alcançado cerca de R$ 540 milhões, impactando diversas empresas e milhares de pessoas físicas.
O Banco Central, diante da dimensão do problema, optou por uma medida severa, mas necessária: suspender o acesso de intermediários como a C&M Software, que atuam no elo entre clientes e grandes bancos. A decisão buscou proteger as operações e evitar que o golpe se alastrasse ainda mais pelo sistema financeiro, enquanto equipes especializadas analisavam as brechas exploradas e tentavam rastrear o caminho do dinheiro desviado. O episódio reacendeu discussões sobre fragilidades do sistema e o papel crucial do constante aprimoramento de protocolos de defesa.
Como ocorreu o ataque ao PIX?

O ataque cibernético ao PIX envolveu técnicas avançadas de invasão, com o objetivo de acessar transações realizadas por meio de intermediadores financeiros. Hackers utilizaram uma combinação de engenharia social e exploração de vulnerabilidades em sistemas de terceiros, especialmente em plataformas autorizadas a operar pagamentos instantâneos por meio de APIs fornecidas pelo Banco Central. Essa ofensiva sofisticada conseguiu burlar proteções e registrar operações ilícitas em uma janela de tempo extremamente curta.
Entre as vítimas destacam-se instituições financeiras de pequeno e médio porte, além de fintechs que utilizam serviços de integração fornecidos por empresas como a C&M Software. Especialistas apontaram que os criminosos digitalizaram padrões de transferência para evitar detecção inicial, transferindo valores em lotes e mascarando os beneficiários finais. Essa ação em larga escala exigiu monitoramento criterioso por parte do Banco Central e a rápida coordenação para interromper fluxos suspeitos.
Ataque à C&M Software
- Empresa-alvo: A principal empresa afetada foi a C&M Software, uma prestadora de serviços que atua como ponte entre bancos (especialmente os menores) e o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), que inclui o Pix.
- Vulnerabilidade explorada: O ataque explorou credenciais indevidas, permitindo que os criminosos acessassem contas reservas mantidas pelos bancos no Banco Central.
- Facilitação interna: Um ex-funcionário da C&M Software, João Nazareno Roque, confessou ter vendido suas credenciais (login e senha) por uma quantia em dinheiro, facilitando o acesso dos hackers aos sistemas internos da empresa. Ele também teria recebido dinheiro para criar um sistema de acesso para os criminosos.
- Desvio de recursos: Os hackers conseguiram enviar valores de forma fraudulenta dessas contas reservas para outras contas, muitas delas usadas como “laranjas” para pulverizar o dinheiro.
Impacto e Resposta do Banco Central
- Não afetou clientes finais: O Banco Central e as instituições envolvidas afirmaram que o ataque não afetou diretamente as contas de clientes finais (pessoas que usam o Pix para suas transações diárias). O foco foi nas contas reservas das instituições financeiras.
- Valores desviados: As estimativas iniciais do prejuízo variam, mas fontes do mercado indicam que o desvio pode ter chegado a valores significativos, possivelmente na casa dos centenas de milhões ou até bilhões de reais.
- Suspensão de instituições: O Banco Central suspendeu cautelarmente diversas instituições financeiras do Pix (incluindo Voluti Gestão Financeira, Brasil Cash, S3 Bank, Transfeera, Soffy, Nuoro Pay e Creditag) por suspeita de terem recebido recursos desviados ou por estarem envolvidas de alguma forma no incidente.
- Mecanismos de recuperação: O Pix possui mecanismos como o Mecanismo Especial de Devolução (MED) e o Bloqueio Cautelar, que permitiram que uma parte dos valores fosse bloqueada e recuperada. No entanto, a velocidade e a articulação do crime dificultaram a recuperação total.
- Investigações: O caso está sendo investigado pela Polícia Federal, Polícia Civil de São Paulo e o próprio Banco Central.
Quais falhas de segurança o ataque trouxe à tona?
A invasão expôs não apenas vulnerabilidades técnicas, mas também desafios na cadeia de autorização e autenticação do PIX. Um dos principais pontos levantados foi a dependência de terceiros para viabilizar operações, ampliando a superfície de ataque e dificultando o controle centralizado sobre permissões de acesso. A existência de múltiplas camadas na comunicação entre clientes, intermediadores e bancos tradicionais dificultou a detecção precoce da fraude.
- Adoção desigual de mecanismos de autenticação em duas etapas
- Falta de padronização nas rotinas de monitoramento
- Ausência de limites rigorosos para transações em alguns perfis de contas
- Deficiências em protocolos de resposta a incidentes
Outro aspecto crítico identificado foi a velocidade com que as operações via PIX são realizadas. Embora apresente benefícios evidentes para usuários finais, a instantaneidade do sistema dificulta o bloqueio de transferências fraudulentas em tempo real, aumentando significativamente o potencial de prejuízo em situações de ataque coordenado.
Como se proteger em meio a ataques ao PIX?
Para se proteger e manter seu dinheiro seguro, siga estas dicas essenciais:
- Fique atento a golpes de engenharia social:
- Não clique em links suspeitos: Golpistas frequentemente enviam links falsos por e-mail, SMS ou aplicativos de mensagens, que levam a sites fraudulentos idênticos aos de bancos. Sempre verifique o remetente e o endereço do link antes de clicar. Se tiver dúvidas, digite o endereço do seu banco diretamente no navegador.
- Desconfie de ofertas muito vantajosas: Promoções, prêmios ou investimentos com retornos “garantidos” e muito acima do mercado são iscas comuns. Lembre-se do ditado: “Quando a esmola é demais, o santo desconfia.”
- Não compartilhe dados pessoais ou bancários: Seu banco nunca pedirá sua senha, código de segurança ou outros dados confidenciais por telefone, e-mail ou mensagem. Se alguém pedir, é golpe.
- Cuidado com a “central de atendimento falsa”: Golpistas podem ligar se passando pelo seu banco, informando sobre uma suposta transação suspeita e pedindo para você realizar um PIX para “cancelá-la” ou “regularizar a situação”. Desligue a ligação e entre em contato diretamente com seu banco pelos canais oficiais.
- Use a tecnologia a seu favor:
- Mantenha seu aplicativo do banco atualizado: As atualizações geralmente incluem melhorias de segurança que protegem você contra novas ameaças.
- Utilize senhas fortes e únicas: Crie senhas complexas, com letras maiúsculas e minúsculas, números e símbolos. Evite usar a mesma senha para diferentes serviços.
- Ative a autenticação de dois fatores (2FA): Muitos bancos oferecem essa camada extra de segurança. Com o 2FA, além da senha, você precisará de um segundo código (enviado por SMS, aplicativo gerador de códigos, etc.) para acessar sua conta ou realizar transações.
- Instale um antivírus confiável: Mantenha seu celular e computador protegidos contra malwares que podem roubar suas informações.
- Ao fazer um PIX:
- Confirme os dados do recebedor: Sempre verifique o nome completo e o CPF/CNPJ do recebedor antes de confirmar a transação. Muitos golpes dependem da sua falta de atenção nesse momento.
- Limites de valores: Ajuste os limites diários e noturnos do seu PIX para valores que você considera seguros. Em caso de fraude, o prejuízo será menor.
- Evite fazer PIX para desconhecidos: Seja cauteloso ao enviar dinheiro para pessoas ou empresas que você não conhece ou confia.
Quais as consequências e as próximas ações para a segurança do PIX?

O prejuízo milionário registrado após o ataque provocou a reavaliação urgente dos critérios para habilitação de intermediadores financeiros, levando a medidas cautelares determinadas pelo Banco Central, como a suspensão imediata do acesso à plataforma PIX por parte de empresas consideradas vulneráveis. Ao mesmo tempo, bancos e fintechs foram orientados a intensificar políticas internas de monitoramento e investimento em cibersegurança.
Está em discussão a implementação de novos limites provisórios para transações via PIX, especialmente para contas recém-criadas ou pertencentes a empresas que estejam fora de padrões de conformidade estritos. O fortalecimento das práticas de análise comportamental para identificar operações fora do perfil do usuário passou a ser fundamental, assim como a integração de bancos de dados antifraude em tempo real.
- Revisão das permissões concedidas a parceiros e intermediadores
- Criação de protocolos automáticos de contenção de riscos
- Capacitação constante das equipes de TI para identificar novas ameaças
- Campanhas educativas para conscientização dos usuários sobre cuidados digitais
Após o ataque, especialistas indicam que a confiança no PIX depende de ação conjunta entre reguladores, setor bancário e tecnologia da informação. O investimento em infraestrutura robusta e o diálogo transparente com a população são vistos como pilares para a continuidade do sistema, que permanece essencial para a economia digital do Brasil.