O relatório da Polícia Federal sobre o caso conhecido como “Abin Paralela” trouxe à tona uma série de suspeitas envolvendo o uso indevido de ferramentas de monitoramento dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O documento, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, detalha como autoridades e servidores teriam utilizado recursos da agência para rastrear ilegalmente a localização de diversas pessoas, incluindo ministros do STF, parlamentares e jornalistas.
Entre os mais de 30 indiciados estão nomes de destaque da política nacional, o deputado federal Alexandre Ramagem, que dirigiu a Abin durante o governo anterior, e o vereador Carlos Bolsonaro. O relatório também aponta para a participação de integrantes da atual cúpula da agência, incluindo o diretor-geral Luiz Fernando Corrêa, indicando que a prática teria ocorrido em diferentes gestões.
Como funcionava o monitoramento na Abin?
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) June 17, 2025
De acordo com as investigações e informações da CNN, o núcleo do esquema girava em torno do uso do sistema israelense de geolocalização FirstMile, desenvolvido pela empresa Cognyte. Essa ferramenta teria permitido o rastreamento de até 10 mil celulares por ano durante os primeiros anos do governo Bolsonaro. O monitoramento era realizado sem autorização judicial, o que caracteriza a irregularidade das ações.
O relatório da Polícia Federal destaca que Alexandre Ramagem, então diretor da Abin, teria sido o principal responsável por estruturar e coordenar a operação paralela. A estrutura teria funcionado à margem dos procedimentos legais, permitindo que informações sensíveis fossem coletadas e utilizadas para fins políticos e pessoais.
Quais foram as consequências para os envolvidos?
Os indiciamentos atingiram tanto ex-integrantes quanto membros atuais da Abin. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi apontado como beneficiário direto do suposto esquema, já que, segundo a investigação, tinha conhecimento das atividades e não tomou medidas para interrompê-las. Carlos Bolsonaro, por sua vez, teria chefiado o chamado “gabinete do ódio”, utilizando dados obtidos pela Abin paralela para alimentar campanhas de desinformação e ataques a adversários políticos nas redes sociais.
Além disso, a cúpula da agência foi indiciada por suspeita de tentar obstruir as investigações. Durante operações de busca e apreensão, houve relatos de ocultação de computadores e outros equipamentos, que posteriormente foram localizados e apreendidos pelos investigadores.
Quais autoridades teriam sido monitoradas pela Abin paralela?

Segundo o relatório, o monitoramento irregular atingiu uma ampla gama de pessoas públicas. Entre os alvos estavam ministros do Supremo Tribunal Federal, deputados federais e jornalistas. O objetivo principal era obter informações estratégicas para uso político, especialmente em períodos pré-eleitorais, como ocorreu em 2021.
- Ministros do STF: tiveram suas localizações rastreadas sem autorização judicial.
- Deputados federais: monitorados para obtenção de informações sensíveis.
- Jornalistas: alvos de espionagem para identificar fontes e estratégias de apuração.
O uso dessas informações teria alimentado campanhas de desinformação e estratégias de defesa de interesses pessoais e políticos.
Como a gravação de reunião impactou as investigações?
Um dos elementos centrais do inquérito foi a divulgação de um áudio de reunião realizada em 2020, no qual Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem e advogadas do senador Flávio Bolsonaro discutiam estratégias para monitorar auditores da Receita Federal. O objetivo seria acompanhar as investigações sobre o caso da suposta “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro. Na gravação, são sugeridas medidas administrativas e judiciais para afastar servidores envolvidos nas apurações.
Esse material reforçou as suspeitas de que havia uma articulação para utilizar a estrutura da Abin em benefício de interesses pessoais e familiares, ultrapassando os limites legais estabelecidos para a atuação da agência de inteligência.
Até o momento, os principais envolvidos não apresentaram defesa formal sobre as acusações. Em publicações nas redes sociais, Carlos Bolsonaro ironizou o indiciamento, enquanto a Abin informou que não irá se manifestar sobre o caso. O Supremo Tribunal Federal deve analisar o relatório da Polícia Federal e decidir sobre eventuais desdobramentos judiciais.