Na manhã desta sexta-feira (13/6), um episódio envolvendo o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, movimentou o cenário político e jurídico em Brasília. Segundo informações da CNN, a Polícia Federal (PF) chegou à residência de Cid, localizada no Setor Militar Urbano, para cumprir um mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, enquanto os agentes já estavam no local, a ordem foi revogada pelo próprio magistrado, alterando o curso da operação.
Mesmo com a revogação do mandado, Mauro Cid foi conduzido à sede da PF para prestar novo depoimento. O caso está inserido em uma investigação mais ampla, que apura possíveis tentativas de obstrução de justiça e favorecimento pessoal envolvendo figuras do alto escalão político. O episódio também tem ligação direta com o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, que foi detido no Recife no mesmo dia.
Qual o contexto da investigação envolvendo Mauro Cid?
A investigação que levou à expedição do mandado de prisão contra Mauro Cid faz parte de um inquérito do STF que apura supostas ações para dificultar o andamento de processos judiciais relacionados a uma organização criminosa. Segundo informações da Procuradoria-Geral da República (PGR), Gilson Machado teria tentado, em maio, obter um passaporte português para Mauro Cid junto ao consulado de Portugal no Recife. O objetivo seria facilitar a saída de Cid do Brasil, levantando suspeitas de tentativa de fuga e de obstrução das investigações em curso.
- Delação Premiada e Suposta Violação:
- Mauro Cid firmou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.
- Surgiu a suspeita de que ele teria violado os termos do acordo ao utilizar um perfil falso no Instagram para criticar autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes e a Polícia Federal, e para divulgar uma versão paralela dos fatos, contrariando o que disse em depoimento.
- A defesa de Bolsonaro e outros advogados já pediram a anulação da delação, alegando contradições e “vícios insanáveis”. O descumprimento das condições da delação pode levar à anulação dos benefícios penais concedidos.
- Venda de Joias:
- Cid é investigado por envolvimento na suposta venda de joias e presentes recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que teriam sido omitidos dos órgãos públicos e negociados para enriquecimento ilícito.
- Ele teria confessado ter vendido um Rolex por 35 mil dólares e repassado parte do dinheiro, em mãos, para Bolsonaro.
- Em sua delação, Cid afirmou que a ideia de vender as joias ilegalmente surgiu como forma de “bancar as despesas” processuais de Bolsonaro.
- Fraude em Cartões de Vacina:
- Cid é investigado por estar no centro de um esquema de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.
- Essas fraudes teriam possibilitado a emissão de cartões de vacinação falsos para ele, Bolsonaro e membros da família do ex-presidente.
- A Polícia Federal indiciou Bolsonaro, Cid e outras 15 pessoas por participação neste esquema. Cid afirmou em delação que recebeu ordens de Bolsonaro para inserir esses dados falsos.
- Trama Golpista e Ataques à Democracia:
- Mauro Cid é peça fundamental nas investigações sobre uma possível trama golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ataques às instituições democráticas.
- Ele trocou mensagens e áudios com outras pessoas discutindo a possibilidade de um golpe de Estado.
- Cid também auxiliou Bolsonaro na elaboração de um discurso em que o ex-presidente atacou as urnas eletrônicas e questionou a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro.
- Em sua delação, Cid detalhou reuniões onde teria sido discutido um plano para se manter na Presidência, incluindo uma minuta que previa a prisão de autoridades.
- Suspeita de Tentativa de Fuga:
- Recentemente, Mauro Cid foi alvo de uma ação da Polícia Federal por suspeita de planejar uma fuga do país utilizando um passaporte português.
- O ex-ministro Gilson Machado foi preso por suposta ajuda a Cid na obtenção desse passaporte.
- A defesa de Cid nega a tentativa de fuga, afirmando que o pedido de cidadania portuguesa foi feito por motivos familiares, já que toda a sua família já possuía a cidadania.
Como Gilson Machado se envolveu no caso?
O ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, tornou-se alvo das autoridades após supostamente atuar para viabilizar a emissão do documento internacional para Mauro Cid. De acordo com a PGR, Machado também teria promovido, em suas redes sociais, uma campanha de arrecadação de doações em dinheiro destinadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Essas ações passaram a ser monitoradas pela Polícia Federal, que considerou a possibilidade de Machado buscar alternativas em outros consulados ou embaixadas para alcançar o mesmo objetivo.
- Obstrução de justiça: Machado é investigado por possível tentativa de dificultar a ação penal.
- Favorecimento pessoal: O auxílio a Mauro Cid para obtenção de passaporte é visto como tentativa de ajudar na fuga.
- Arrecadação de recursos: A campanha financeira promovida por Machado também está sob análise dos investigadores.
Quais as próximas etapas da investigação?
Com a abertura de novo inquérito autorizada pelo STF, a expectativa é que novas diligências sejam realizadas, incluindo buscas e apreensões, além de oitivas de envolvidos. A PGR solicitou ao ministro Alexandre de Moraes a autorização para adoção de medidas cautelares, com o objetivo de evitar qualquer tentativa de evasão ou destruição de provas. O andamento do caso será acompanhado de perto pelas autoridades, que buscam esclarecer se houve, de fato, tentativa de obstrução das investigações e quem mais pode estar envolvido nas ações investigadas.
- Realização de novos depoimentos, incluindo Mauro Cid e Gilson Machado.
- Possibilidade de buscas em endereços ligados aos investigados.
- Análise de movimentações financeiras e comunicações entre os envolvidos.
A decisão de revogar o mandado de prisão contra Mauro Cid, mesmo após o início do cumprimento, evidencia a complexidade e a dinâmica das investigações em curso. O caso ilustra como as decisões judiciais podem ser revistas rapidamente diante de novos elementos apresentados. Para as autoridades, o foco permanece na coleta de informações que possam esclarecer os fatos e responsabilizar eventuais envolvidos em tentativas de obstrução ou favorecimento indevido.
O desdobramento desse episódio continuará sendo acompanhado por órgãos de investigação e pela sociedade, já que envolve personagens de destaque no cenário político nacional. O processo segue em andamento, com a expectativa de que novas informações possam surgir a partir dos depoimentos e das diligências autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal.
