A democracia representativa brasileira, embora imperfeita, tem um fundamento sólido: o equilíbrio entre os Poderes. É esse sistema que impede o surgimento de projetos autoritários, mascarados de boas intenções. No entanto, há tempos a esquerda brasileira, hoje capitaneada pelo governo Lula, parece enxergar o Congresso Nacional não como um espaço legítimo de debate e fiscalização, mas como um entrave incômodo ao seu projeto de poder.
Na prática, o Legislativo se transformou em um “inimigo político” a ser contornado, domesticado ou ignorado. As propostas impopulares do Executivo não conseguem passar pelo crivo do parlamento? Então, na lógica atual, o erro está no Congresso — não na proposta. O problema não está na rejeição, mas em quem rejeita.
Esse desprezo pela casa legislativa ficou ainda mais evidente em manifestações de expoentes da própria militância de esquerda. A jornalista Eliane Cantanhêde, em publicação recente nas redes sociais, tratou com naturalidade preocupante a ideia de que o Congresso atrapalha o governo, insinuando que o país só avançaria se o Legislativo deixasse de fazer o seu papel fiscalizador. A fala, além de perigosa, escancara uma visão distorcida de democracia: uma em que apenas um lado dita as regras, escolhe quem pode falar, e impõe sua vontade sem resistência institucional.
Mas o ataque não para por aí. A sanha autoritária do governo se estende também às redes sociais — principal arena de atuação da oposição. Os esforços contínuos para censurar vozes dissonantes e criminalizar discursos críticos revelam um claro projeto de silenciamento. A liberdade de expressão, direito fundamental em qualquer democracia, vem sendo diluída em nome de um suposto “combate à desinformação”, termo que, na prática, serve como mordaça seletiva.
Esse autoritarismo disfarçado de virtude precisa ser denunciado. Nenhuma democracia sobrevive quando um poder tenta subjugar os demais. Nenhuma liberdade floresce quando o contraditório é calado. E nenhum projeto de país será legítimo se for construído à base da supressão dos representantes do povo.
O Brasil não precisa de um poder central forte o suficiente para atropelar os demais. Precisa, sim, de instituições fortes, autônomas e respeitadas. Se para governar é preciso calar a oposição, submeter o Legislativo e controlar o que pode ou não ser dito, então o nome disso não é democracia. É tirania.
Por Júnior Melo – Advogado e Jornalista