O Dia de Combate à Cefaleia, celebrado em 19 de maio no Brasil, destaca a importância de conscientizar a população sobre as dores de cabeça crônicas, especialmente a enxaqueca. Esta condição, mais do que um simples incômodo, pode afetar profundamente a qualidade de vida de quem a enfrenta regularmente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a enxaqueca como uma das doenças mais incapacitantes do mundo.
Os sintomas da enxaqueca vão além da dor de cabeça pulsante. Indivíduos afetados podem experimentar sensibilidade à luz e ao som, náuseas, tontura e dificuldades no sono, atenção e memória. Esses sintomas podem tornar as atividades diárias desafiadoras, impactando a vida pessoal e profissional dos pacientes.
Quais são as causas da enxaqueca?
A enxaqueca tem uma base genética significativa, com cerca de 180 loci identificados que predispõem à condição. Além disso, fatores hormonais, como o estrogênio, influenciam a prevalência dos sintomas, sendo mais comum em mulheres. No entanto, o ambiente também desempenha um papel crucial na evolução da doença.
Estilos de vida intensos, exposição constante a estímulos e estresse elevado podem agravar a frequência e a gravidade das crises. A alimentação é outro fator importante, com certos alimentos exacerbando os sintomas devido à hiperexcitabilidade cerebral. Estimulantes como café, chocolate e energéticos, bem como termogênicos como gengibre e pimenta vermelha, são geralmente desaconselhados.

Predisposição Genética
A enxaqueca é considerada uma condição hereditária, com estudos mostrando que a chance de um filho ter enxaqueca é maior se os pais também a tiverem. Variantes genéticas podem afetar a forma como as células cerebrais se comunicam e como os vasos sanguíneos se comportam, contribuindo para o desenvolvimento da doença.
Desequilíbrios Hormonais
Nas mulheres, as flutuações hormonais (especialmente do estrogênio) são um fator importante. Crises são comuns no período pré-menstrual ou menstrual, durante a gravidez (embora em alguns casos a gravidez possa aliviar as crises) e em mulheres que usam contraceptivos orais ou fazem reposição hormonal.
Estresse e Fatores Emocionais
O estresse excessivo, ansiedade, tensão e preocupações podem desencadear crises. O corpo em estado de alerta libera substâncias que podem levar à dor.
Hábitos de Vida
- Privação ou excesso de sono: Tanto dormir pouco quanto dormir demais podem ser gatilhos. Manter uma rotina de sono regular é fundamental.
- Jejum prolongado: Ficar muito tempo sem comer pode causar uma queda nos níveis de açúcar no sangue, provocando a produção de substâncias que desencadeiam a dor.
- Falta de exercícios físicos: A inatividade física pode contribuir para a ocorrência de crises.
- Desidratação: A ingestão insuficiente de líquidos pode levar a episódios de enxaqueca.
Alimentação e Bebidas
Alguns alimentos e bebidas podem ser gatilhos para pessoas sensíveis:
- Cafeína: Tanto o consumo excessivo quanto a privação de cafeína (em quem consome regularmente) podem desencadear crises.
- Chocolate.
- Queijos maturados.
- Vinho tinto e outras bebidas alcoólicas.
- Alimentos contendo nitratos (como frios e cachorros-quentes).
- Glutamato monossódico (GMS), um realçador de sabor comum em alimentos processados.
- Frutas cítricas.
- Alimentos gordurosos.
Como é feito o tratamento da condição?
O tratamento da enxaqueca vai além do simples manejo dos gatilhos. É necessário adotar uma abordagem global e integrada, que inclua mudanças no estilo de vida e na alimentação, além de tratamentos médicos comprovados. Medicamentos para crises, embora comuns, podem cronificar a condição se usados em excesso, levando a um ciclo de dor persistente.
Tratamentos de primeira linha, como a aplicação de toxina botulínica, são utilizados para reduzir a sensibilidade cerebral à dor. Outra opção são os medicamentos monoclonais Anti-CGRP, que bloqueiam o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, reduzindo a inflamação e a transmissão da dor.
1. Tratamento Agudo (para aliviar a crise):
- Analgésicos e Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): Para crises leves a moderadas, analgésicos como paracetamol e AINEs como ibuprofeno, diclofenaco e naproxeno podem ser eficazes. Devem ser tomados no início da dor para melhores resultados. No entanto, o uso frequente pode levar à cefaleia por uso excessivo de medicação.
- Triptanos: São medicamentos específicos para enxaqueca, muito eficazes para crises moderadas a graves. Agem nos vasos sanguíneos e nos circuitos da dor no cérebro. Exemplos incluem sumatriptano, rizatriptano, zolmitriptano e naratriptano. São mais eficazes quando tomados logo no início da enxaqueca.
- Antieméticos: Para controlar náuseas e vômitos frequentemente associados à enxaqueca, como domperidona e metoclopramida.
- Gepantes (nova classe de medicamentos): Atuam bloqueando o receptor do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), uma substância envolvida na dor da enxaqueca. Alguns exemplos são ubrogepante e rimegepante, que podem ser usados para o tratamento agudo e também para prevenção.
- Ditanas: Uma nova classe de medicamentos que atuam de forma similar aos triptanos, mas com menos efeitos colaterais relacionados ao coração. A lasmiditana é um exemplo.
2. Tratamento Preventivo (para reduzir a frequência e intensidade das crises):
Indicado para pacientes com crises frequentes (quatro ou mais por mês), graves ou que não respondem bem ao tratamento agudo. Pode levar de dois a três meses para observar os efeitos.
- Betabloqueadores: Medicamentos como propranolol, geralmente usados para hipertensão, mas também eficazes na prevenção da enxaqueca.
- Antidepressivos tricíclicos: Como a amitriptilina, também podem ter efeito preventivo.
- Anticonvulsivantes: Como o topiramato e o divalproato.
- Anticorpos monoclonais anti-CGRP: São tratamentos mais modernos e específicos, como erenumabe, fremanezumabe e galcanezumabe. Atuam bloqueando a ação do CGRP, que é crucial na fisiopatologia da enxaqueca.
- Toxina Botulínica (Botox): Indicado para casos de enxaqueca crônica (15 ou mais dias de dor por mês) que não respondem a outros tratamentos.
- Dispositivos de neuromodulação: Aparelhos não invasivos que podem estimular nervos (como o nervo vago ou supraorbital) ou usar estimulação magnética transcraniana para aliviar crises agudas e prevenir a enxaqueca crônica.
3. Medidas Não Farmacológicas e Mudanças no Estilo de Vida:
Essas medidas são fundamentais tanto para o alívio das crises quanto para a prevenção:
- Descanso: Repousar em um ambiente escuro e silencioso pode ajudar a aliviar a crise.
- Hidratação: Beber bastante água ajuda a prevenir a desidratação, que pode ser um gatilho.
- Gerenciamento do estresse: Técnicas de relaxamento, ioga, meditação e biofeedback podem reduzir a frequência e intensidade das enxaquecas.
- Higiene do sono: Manter uma rotina de sono regular, evitando excesso ou privação de sono.
- Dieta: Identificar e evitar gatilhos alimentares (como cafeína em excesso, chocolate, queijos envelhecidos, embutidos) pode ser útil para algumas pessoas.
- Atividade física regular: Exercícios leves a moderados podem reduzir a frequência das crises.
- Compressas: Aplicação de compressas frias na cabeça pode aliviar a dor.
Fisioterapia:
A fisioterapia pode ser uma aliada valiosa no tratamento da enxaqueca. Sessões que utilizam dispositivos de neuroestimulação ajudam a aliviar as crises, promovendo a estimulação elétrica transcutânea do nervo trigêmeo. Essa técnica diminui a transmissão de sinais de dor e reduz a excitabilidade cerebral, contribuindo para a diminuição da intensidade e frequência das crises.
A enxaqueca tem cura?
Embora a enxaqueca crônica não tenha cura, ela pode ser controlada. A avaliação individual é essencial para determinar o plano de tratamento mais adequado para cada paciente. Identificar gatilhos e fatores cronificadores é fundamental para o controle eficaz das crises, permitindo que os pacientes recuperem sua qualidade de vida.