O anúncio do nome do norte-americano Robert Francis Prevost como novo papa, feito nesta quinta-feira (8/5), gerou uma onda de publicações nas redes sociais mencionando o capítulo 13 do Apocalipse, o último livro da Bíblia, frequentemente chamado de “livro da revelação“.
“Cumprimento da profecia de Apocalipse 13”, escreveu um usuário na plataforma X.
Quais os principais pontos do Apocalipse 13?

O capítulo 13 do Apocalipse, parte do Novo Testamento, é um dos textos mais enigmáticos e debatidos da Bíblia. Escrito por João no século I, este capítulo menciona duas bestas: uma que emerge do mar e outra que surge da terra. Este trecho é conhecido por introduzir o número 666, frequentemente associado ao “número da besta”. A interpretação desse capítulo tem gerado diversas teorias e especulações ao longo dos séculos.
O texto descreve a primeira besta como semelhante a um leopardo, com pés de urso e boca de leão, recebendo poder de um dragão. A segunda besta, que emerge da terra, é frequentemente vista como um falso profeta. Essas imagens são ricas em simbolismo e têm sido objeto de inúmeras interpretações teológicas e esotéricas.
“E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a boca de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio”.
Quais as interpretações históricas e religiosas?
Kenner Terra, pastor e doutor em ciências da religião, explica que o Apocalipse 13 é frequentemente associado ao conceito de “anticristo”. Isso se deve à descrição de uma figura com poder político emergindo do mar e outra com poder religioso surgindo da terra. Historicamente, durante a Reforma Protestante, o papa foi frequentemente identificado como o “anticristo” ou o falso profeta mencionado no texto.
Além disso, há interpretações que ligam a besta que emerge do mar a um líder político que dominaria o mundo. Esta visão é frequentemente explorada em narrativas de ficção, como na série “Deixados Para Trás”, que imagina um cenário apocalíptico onde um grupo de pessoas tenta sobreviver ao fim dos tempos.
Como as teorias e profecias se relacionam com o Apocalipse 13 e o papa?
As teorias da conspiração frequentemente utilizam o Apocalipse 13 para construir narrativas sobre o fim dos tempos. Nas redes sociais, essas teorias podem associar eventos contemporâneos a profecias bíblicas, muitas vezes de forma simplista e sensacionalista. Um exemplo é a associação do nome “Leão XIV” com o capítulo 13 do Apocalipse, devido à menção de uma besta com “boca de leão”.
Kenner Terra critica essas teorias, afirmando que elas conectam elementos de maneira aparentemente óbvia, mas sem sentido, criando narrativas que podem ser perigosas e alienadoras. Ele ressalta que o texto de João é, na verdade, uma crítica ao imperador romano Nero César, utilizando imagens e alegorias do seu tempo para transmitir sua mensagem.
Principais pontos de conexão nas teorias:
- Poder e Autoridade: A “besta” recebe grande poder e autoridade (Apocalipse 13:2), o que alguns interpretam como o poder temporal e espiritual reivindicado pelo papado ao longo da história.
- Blasfêmia: A besta profere blasfêmias (Apocalipse 13:5-6), o que, para alguns, se relaciona com os títulos e prerrogativas papais que eles consideram usurpar o lugar de Deus.
- Perseguição aos Santos: A besta guerreia contra os santos e os vence (Apocalipse 13:7), o que é associado às perseguições de cristãos dissidentes pela Igreja Católica em diferentes períodos históricos.
- Marca da Besta (666): O famoso “número da besta” (Apocalipse 13:16-18) tem sido alvo de inúmeras interpretações, e algumas teorias tentaram relacioná-lo ao nome ou títulos papais através de cálculos numéricos.
Desenvolvimentos recentes:
Com a recente nomeação do novo papa, Leão XIV, algumas teorias conspiratórias ressurgiram nas redes sociais. A escolha do nome “Leão”, associado à “boca de leão” da primeira besta em Apocalipse 13:2, e o fato de ele suceder Leão XIII, cujo número coincide com o capítulo bíblico, foram apontados como “coincidências” que reforçariam essas teorias.
Perspectivas alternativas:
É importante notar que essas interpretações são controversas e não são compartilhadas por todas as correntes cristãs. Muitos estudiosos bíblicos entendem o livro do Apocalipse como uma obra simbólica que se refere principalmente ao contexto histórico do Império Romano e suas perseguições aos primeiros cristãos. Nessa visão, a “besta” representaria o poder imperial opressor, e não necessariamente uma figura religiosa específica como o papa.
Além disso, dentro do próprio cristianismo, a Igreja Católica não reconhece essas interpretações e considera o papa como o sucessor de Pedro e o líder da Igreja fundada por Cristo.
Qual o contexto histórico do Apocalipse 13?
Para compreender o Apocalipse 13, é importante considerar o contexto histórico em que foi escrito. João, o autor do Apocalipse, viveu em um período de perseguição aos cristãos pelo Império Romano. O uso de imagens simbólicas, como as bestas, servia como uma crítica velada ao poder imperial, especificamente ao imperador Nero, conhecido por sua tirania.
João utiliza alegorias semelhantes às encontradas no livro de Daniel, do Antigo Testamento, que também menciona criaturas monstruosas. Ao fazer isso, ele cria uma crítica poderosa e codificada ao regime opressor de sua época, oferecendo esperança e resistência aos cristãos perseguidos.
O Apocalipse 13 continua a ser um texto de grande interesse e debate. Suas imagens simbólicas e sua linguagem enigmática oferecem um campo fértil para interpretações variadas, desde análises teológicas até teorias da conspiração. No entanto, é crucial abordar o texto com uma compreensão do seu contexto histórico e das intenções do autor, evitando simplificações e distorções que possam desviar de seu significado original.
Os primeiros passos do #PapaLeão14: da Capela Sistina à oração na Capela Paulina, passando pelo abraço dos cardeais e a saudação aos colaboradores e funcionários do Vaticano na Casa Santa Marta pic.twitter.com/aqJdPXP4uu
— Vatican News (@vaticannews_pt) May 8, 2025