Durante a Segunda Guerra Mundial, russos e finlandeses adotaram um método inusitado para conservar o leite: colocavam um sapo vivo dentro do líquido. Essa prática, que pode parecer estranha nos dias de hoje, tinha uma base científica sólida que ajudava a prolongar a vida útil do leite em tempos de escassez e falta de refrigeração.
A pele dos sapos é conhecida por produzir substâncias antibacterianas naturais. Sem acesso a refrigeradores, essa técnica oferecia uma solução eficaz para manter o leite fresco por mais tempo. Pesquisas modernas revelam que a pele dos anfíbios contém mais de cem tipos de antibióticos naturais, destacando a eficácia dessa prática antiga.
Como o sapo age na conservação do leite?

Em 2010, cientistas dos Emirados Árabes identificaram peptídeos antibióticos na pele dos sapos, capazes de impedir que o leite azedasse e proteger os consumidores contra infecções bacterianas. A espécie Rana temporaria, comum na Eurásia, era a mais utilizada devido à sua eficácia comprovada contra bactérias como Salmonella e Staphylococcus.
Os sapos desenvolveram essas defesas naturais ao longo de milhões de anos, vivendo em ambientes úmidos e repletos de bactérias. Essa adaptação evolutiva é essencial para sua sobrevivência, proporcionando fortes defesas contra patógenos.
Acredita-se que a prática funcionava da seguinte maneira:
- Liberação de substâncias antimicrobianas: A pele dos sapos secreta diversas substâncias como peptídeos antimicrobianos, que os protegem contra bactérias, fungos e outros microrganismos presentes no ambiente. Ao colocar um sapo vivo dentro do recipiente com leite, essas secreções poderiam inibir ou retardar o crescimento de bactérias que causam a deterioração do leite.
- Criação de um ambiente ácido: Algumas secreções da pele do sapo poderiam alterar o pH do leite, tornando-o ligeiramente mais ácido. Um ambiente mais ácido dificulta a proliferação de certas bactérias.
É importante ressaltar alguns pontos cruciais:
- Não é um método seguro ou recomendado: Essa prática era realizada em situações extremas de necessidade e não era um método confiável ou seguro para a conservação de alimentos. A contaminação do leite por outras bactérias presentes no sapo ou no ambiente era um risco significativo.
- Evidências científicas limitadas: Não há estudos científicos rigorosos que comprovem a eficácia e a segurança dessa prática. Os relatos são mais anedóticos e baseados em observações empíricas em um contexto específico.
- Questões de higiene e bem-estar animal: Do ponto de vista da higiene e do bem-estar animal, essa prática é totalmente inadequada.
Como funcionava o método?
O método era bastante simples: um sapo vivo era colocado dentro do recipiente com leite fresco. As substâncias antibacterianas presentes na pele do sapo agiam como conservantes naturais, mantendo o leite próprio para consumo por mais tempo. Em áreas rurais, onde a refrigeração não estava disponível, essa técnica era uma solução prática e acessível.
Curiosamente, essa prática não era uma novidade da época. Registros históricos indicam que povos antigos já conheciam as propriedades antibacterianas de alguns anfíbios, utilizando-os de maneira semelhante.
Por que o método caiu em desuso?
Apesar da eficácia comprovada, o uso de sapos para conservar leite não é recomendado atualmente. Sapos podem transmitir doenças zoonóticas, e muitas espécies estão ameaçadas de extinção. Além disso, nem todos os sapos possuem essas propriedades antibacterianas, e algumas espécies são venenosas, podendo contaminar o leite.
Hoje, cientistas replicam as substâncias antibacterianas em laboratório, evitando o uso direto dos animais. Isso permite a exploração dos benefícios dessas substâncias sem colocar em risco a saúde humana ou a biodiversidade.
As pesquisas sobre os antibióticos naturais dos sapos continuam a avançar. Cientistas buscam novas formas de utilizar essas substâncias no combate a superbactérias resistentes a medicamentos. Uma dessas substâncias já demonstrou eficácia contra a iraqibacter, uma bactéria perigosa.
Com 40,7% das espécies de anfíbios ameaçadas, a conservação desses animais é crucial. Cada espécie extinta representa a perda de potenciais medicamentos ainda não descobertos. As pesquisas atuais são conduzidas de forma ética, coletando pequenas amostras sem prejudicar os animais, que são devolvidos à natureza após os estudos.