A empresa de biotecnologia Colossal Biosciences anunciou nessa segunda-feira (7/4) um feito que chamou a atenção do mundo: a “desextinção” do lobo-terrível, uma espécie que desapareceu há cerca de 13 mil anos. Este anúncio gerou entusiasmo e ceticismo em igual medida, levantando questões sobre a viabilidade e a ética de tal empreendimento científico.
O lobo-terrível, conhecido por sua presença marcante na América do Norte durante o Pleistoceno, é um ícone da megafauna extinta. A ideia de trazê-lo de volta à vida através da engenharia genética é fascinante, mas a comunidade científica tem levantado dúvidas sobre os métodos e as reivindicações da Colossal Biosciences.
Qual o plano da Colossal Biosciences para o lobo-terrível?

Para recriar o lobo-terrível, os pesquisadores da Colossal Biosciences utilizaram a edição do genoma do lobo-cinzento moderno, o parente vivo mais próximo do lobo-terrível. Foram realizadas modificações em 20 locais ao longo de 14 genes, com o objetivo de replicar características específicas dos lobos-terríveis, como o padrão da pelagem, o tamanho do corpo e a musculatura.
Essas modificações foram baseadas em amostras de DNA extraídas de fósseis encontrados nos estados de Ohio e Idaho. No entanto, a empresa admite que os animais resultantes não são cópias exatas dos lobos-terríveis extintos, mas sim versões geneticamente próximas, dentro das limitações tecnológicas atuais.
Quais as limitações da desextinção?
A desextinção de espécies extintas é um campo emergente e controverso da biotecnologia. Um dos principais desafios é a degradação do DNA em fósseis antigos, que dificulta a reconstrução precisa do genoma completo de espécies extintas. No caso do lobo-terrível, a Colossal Biosciences limitou suas modificações a apenas 20 mudanças em 14 genes, de um total de aproximadamente 19 mil genes que compõem o genoma de um lobo.
Além disso, a falta de publicação dos resultados em revistas científicas revisadas por pares levanta preocupações sobre a validade e a replicabilidade dos métodos utilizados. A comunidade científica destaca a importância de tais publicações para a credibilidade e o avanço do conhecimento científico.
Qual o posicionamento da ciência?
Os três animais nascidos do experimento da Colossal Biosciences são considerados por muitos especialistas como lobos-cinzentos ligeiramente modificados, ou “híbridos”, em vez de verdadeiros lobos-terríveis. A capacidade de recriar uma espécie extinta em sua totalidade é questionada, especialmente quando as modificações genéticas são limitadas e o genoma original não pode ser completamente restaurado.
Embora a ideia de desextinção seja intrigante, ela levanta questões éticas e práticas significativas. O impacto ecológico de reintroduzir espécies extintas em ecossistemas modernos, a viabilidade de sua sobrevivência e a ética de manipular geneticamente seres vivos são tópicos que continuam a ser debatidos intensamente.
O anúncio da Colossal Biosciences sobre o lobo-terrível é um exemplo do potencial e das controvérsias da biotecnologia moderna. À medida que a ciência avança, a possibilidade de trazer de volta espécies extintas se torna mais real, mas também mais complexa. A comunidade científica continua a explorar as implicações e os limites éticos dessas tecnologias, buscando um equilíbrio entre inovação e responsabilidade.
O futuro da desextinção dependerá não apenas dos avanços tecnológicos, mas também de um diálogo contínuo entre cientistas, legisladores e o público, para garantir que essas inovações sejam usadas de maneira ética e sustentável.