Na manhã desta quinta-feira (10/4), Virginia Fonseca, de 26 anos, esteve em uma clínica especializada no tratamento de dores de cabeça e enxaqueca para dar continuidade ao cuidado iniciado no fim do ano passado. A influenciadora digital e apresentadora convive com enxaqueca crônica e, antes de começar o tratamento, chegou a relatar que sentia dor todos os dias.
Estudos indicam que a enxaqueca é uma condição genética, com diversos loci no código genético predispondo os indivíduos à doença. Além disso, fatores hormonais, como a influência do estrogênio, fazem com que a enxaqueca seja mais prevalente em mulheres. No entanto, fatores ambientais e de estilo de vida também desempenham um papel crucial na frequência e gravidade das crises.
Como o médico explica a doença de Virginia?

Apesar de muitas pessoas associarem a enxaqueca apenas à dor de cabeça, a condição vai muito além. “A enxaqueca interfere em diversos aspectos da vida. Além da dor pulsante, os pacientes costumam apresentar sensibilidade aumentada à luz e ao som, além de náuseas, vertigens e distúrbios no sono, na concentração e na memória”, explica o neurologista Tiago de Paula, que acompanha Virginia. Ele é especialista em Cefaleia e integra tanto a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC) quanto a International Headache Society (IHS).
De acordo com o médico, a enxaqueca tem origem genética, sendo influenciada por cerca de 180 pontos específicos no DNA que aumentam a predisposição ao problema. “Há também um fator hormonal importante. O estrogênio, por exemplo, está relacionado ao aumento da sensibilidade e à frequência dos sintomas, o que justifica a maior incidência em mulheres”, esclarece.
Tiago também destaca que o ambiente e o estilo de vida têm papel relevante na manifestação e na intensidade das crises. “Pessoas que vivem sob constante estresse, têm rotinas agitadas, sono irregular e são frequentemente expostas a estímulos intensos costumam apresentar episódios mais frequentes e severos da doença”, conclui.
Quais são os gatilhos e fatores que agravam a enxaqueca?
Os gatilhos da enxaqueca podem variar de pessoa para pessoa, mas alguns são bastante comuns. O estresse, a falta de sono e a exposição a estímulos intensos são frequentemente citados como fatores que podem desencadear ou agravar as crises. Além disso, a dieta também pode influenciar a condição. Alimentos e bebidas que estimulam o sistema nervoso, como café, chocolate e bebidas energéticas, são conhecidos por potencializar os sintomas.
Outro aspecto importante é o uso excessivo de medicamentos para dor, que pode levar a um fenômeno conhecido como cefaleia por uso excessivo de medicamentos. Esse quadro ocorre quando os remédios, em vez de aliviar, acabam cronificando a dor, tornando as crises mais frequentes e intensas.
Como é feito o tratamento da enxaqueca crônica?
O tratamento da enxaqueca crônica envolve uma abordagem multidisciplinar e personalizada. Além de mudanças no estilo de vida e na alimentação, que são fundamentais, existem tratamentos de primeira linha com comprovação científica. A toxina botulínica, por exemplo, é utilizada para reduzir a sensibilidade do cérebro à dor, sendo aplicada em pontos nervosos específicos.
Outra opção são os medicamentos monoclonais Anti-CGRP, que bloqueiam o efeito do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, reduzindo a inflamação e a transmissão da dor. Em muitos casos, a combinação de diferentes terapias, como a toxina botulínica e os Anti-CGRPs, tem se mostrado eficaz no controle das crises.
Qual é o papel da fisioterapia e da neuroestimulação no tratamento da enxaqueca?
A fisioterapia pode ser uma aliada importante no tratamento da enxaqueca, ajudando a aliviar a tensão muscular e melhorar a postura, o que pode reduzir a frequência das crises. Além disso, dispositivos de neuroestimulação, que promovem a estimulação elétrica transcutânea do nervo trigêmeo, têm sido utilizados para diminuir a transmissão de sinais de dor e a excitabilidade cerebral.
Essas abordagens complementares são especialmente úteis para pacientes que não respondem bem aos tratamentos convencionais ou que desejam evitar o uso excessivo de medicamentos. A avaliação individual por um profissional de saúde é essencial para determinar o plano de tratamento mais adequado para cada paciente.
É possível controlar a enxaqueca crônica?
Embora a enxaqueca crônica não tenha cura, é possível controlá-la de maneira eficaz com o tratamento adequado. A identificação de gatilhos e fatores cronificadores é fundamental para o manejo da condição. Com um plano de tratamento personalizado, que pode incluir mudanças no estilo de vida, terapias medicamentosas e abordagens complementares, muitos pacientes conseguem reduzir a frequência e a intensidade das crises, melhorando significativamente sua qualidade de vida.
O acompanhamento médico regular é crucial para ajustar o tratamento conforme necessário e garantir que o paciente receba o suporte necessário para lidar com a condição de forma eficaz.