Nessa segunda-feira (31/3), o Ministério Público Federal (MPF) apresentou uma denúncia contra 13 ex-executivos e ex-funcionários da Americanas, uma das maiores varejistas do Brasil. A acusação se refere a supostas fraudes que teriam gerado um prejuízo estimado em R$ 25 bilhões. O caso ganhou notoriedade após a Polícia Federal (PF) indiciar os envolvidos, incluindo nomes de destaque como o ex-CEO Miguel Gutierrez.
O MPF acusa os denunciados de crimes como associação criminosa, falsidade ideológica e manipulação de mercado. Além disso, nove dos acusados enfrentam acusações de uso de informação privilegiada. As irregularidades teriam ocorrido entre 2016 e 2022, período em que Gutierrez ocupava a posição de CEO da empresa.
Como os ex-executivos da Americanas são acusados?

De acordo com a denúncia, Miguel Gutierrez teria sido o principal articulador do esquema fraudulento, executando manobras para inflar os valores mobiliários da Americanas. O MPF alega que essas ações visavam obter vantagens indevidas, manipulando o mercado e enganando investidores. Conversas por e-mail e WhatsApp entre os executivos, que discutiam ajustes fraudulentos nos resultados financeiros, foram apresentadas como evidências.
Os documentos revelam que Gutierrez teria conduzido pelo menos 28 manobras fraudulentas. Essas ações teriam sido realizadas com o objetivo de manter a cotação das ações da Americanas elevada, mascarando a real situação financeira da empresa. As fraudes incluíam a criação de verbas fictícias e operações não declaradas, conhecidas como “risco sacado”.
Veja a lista de denunciados pelo MPF:
- Miguel Gutierrez (ex-CEO da Americanas)
- Anna Saicali (ex-CEO da B2W, responsável pela área digital)
- Timotheo Barros (vice-presidente)
- Marcio Cruz (vice-presidente)
- Carlos Padilha (ex-diretor)
- João Guerra (ex-diretor)
- Murilo Corrêa (ex-diretor)
- Maria Christina Nascimento (ex-diretor)
- Fabien Picavet (ex-diretor)
- Raoni Fabiano (ex-diretor)
- Luiz Augusto Saraiva Henriques
- Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira
- Anna Christina da Silva Sotero
“Não resta nenhuma dúvida que Miguel Gutierrez tinha pleno conhecimento das fraudes praticadas dentro do grupo Americanas. O arquivo não deixa nenhuma dúvida sobre a origem e extensão dos problemas enfrentados pelo grupo, e que ele sabia de todas as manobras fraudulentas praticadas, incluindo as verbas fictícias de VPC [Verba de Propaganda Cooperada] e as operações não declaradas de risco sacado”, afirma o MPF.
Como a Americanas está lidando com a crise?
O escândalo contábil abalou profundamente a Americanas, que desde então luta para se recuperar. Em janeiro de 2023, a empresa revelou ao mercado a existência de “inconsistências contábeis” em seus balanços, estimando inicialmente um rombo de R$ 20 bilhões. Este evento marcou o início de uma crise sem precedentes na história corporativa do Brasil.
Atualmente, a Americanas está em processo de recuperação judicial, com previsão de sair dessa situação até o final de 2026. O presidente da empresa, Leonardo Coelho, afirmou que a companhia ainda enfrenta desafios significativos e que a recuperação completa levará tempo. A diretora financeira, Camille Loyo Faria, destacou que a expectativa é cumprir 99% do plano de reestruturação até o término do processo.
O que dizem os acusados?
Até o momento, a defesa de Miguel Gutierrez não se pronunciou sobre a denúncia. Em fases anteriores da investigação, seus advogados negaram as acusações, alegando falta de provas concretas. A defesa de Timotheo de Barros, outro ex-executivo acusado, criticou a denúncia, sugerindo que ela seria uma acusação midiática sem imparcialidade.
Os advogados dos outros denunciados não foram localizados para comentar o caso. A Americanas também não se manifestou oficialmente sobre as acusações, mas o espaço permanece aberto para declarações futuras.
Com o escândalo ainda em destaque, a Americanas continua a enfrentar desafios para restaurar sua imagem e estabilidade financeira. A empresa está focada em implementar seu plano de reestruturação, que inclui medidas para melhorar a governança corporativa e recuperar a confiança dos investidores.
O caso serve como um alerta para o mercado sobre a importância da transparência e da responsabilidade corporativa. A Americanas, uma vez considerada um pilar do varejo brasileiro, agora busca reconstruir sua reputação e garantir um futuro sustentável para seus negócios.