A ideia de ressuscitar espécies extintas, um conceito que antes parecia pertencer apenas ao reino da ficção científica, está se tornando uma possibilidade real graças aos avanços na biotecnologia. A Colossal Biosciences, uma empresa americana, está na vanguarda desse movimento, trabalhando para trazer de volta à vida criaturas que desapareceram há milhares de anos. Recentemente, a empresa anunciou o nascimento de filhotes com características genéticas do lobo-terrível, um predador que habitou a Terra durante a última Era do Gelo.
Fundada em 2021, a Colossal Biosciences reúne uma equipe de cientistas dedicados a projetos de desextinção. Além do lobo-terrível, a empresa está focada em recriar outras espécies extintas, como o mamute-lanoso, o dodô e o tigre-da-tasmânia. Esses esforços não são apenas uma curiosidade científica, mas também uma tentativa de restaurar ecossistemas e aprender mais sobre a biodiversidade do passado.
Como funciona a desextinção feita pela Colossal Biosciences?
A desextinção envolve a utilização de técnicas avançadas de engenharia genética para recriar espécies extintas. No caso do mamute-lanoso, a Colossal planeja usar o elefante-asiático como um substituto genético, introduzindo genes antigos retirados de fósseis preservados. Para o dodô, a estratégia é semelhante, utilizando pombos para incorporar o material genético da ave extinta.
O tigre-da-tasmânia, um marsupial que desapareceu no século 20, pode ser recriado através de clonagem e manipulação genética de espécies próximas. Esses métodos não apenas visam ressuscitar espécies extintas, mas também podem fornecer informações valiosas para a ciência e a medicina, além de ajudar na recuperação de ecossistemas danificados.

O processo geral envolve as seguintes etapas principais:
1. Obtenção de Material Genético:
- DNA de parentes vivos: A Colossal se concentra em espécies extintas que possuem parentes vivos próximos. Por exemplo, o parente vivo mais próximo do mamute-lanoso é o elefante asiático, e o do tilacino é o diabo-da-Tasmânia.
- DNA de restos preservados: Cientistas coletam amostras de DNA de restos bem preservados das espécies extintas, como ossos, dentes ou tecidos congelados. No caso do lobo-terrível, por exemplo, DNA foi obtido de um dente de 13.000 anos e um crânio de 72.000 anos.
2. Sequenciamento e Montagem do Genoma:
- O genoma do parente vivo e o genoma da espécie extinta são sequenciados e montados. Isso cria um mapa genético de ambas as espécies.
3. Comparação Genômica e Identificação de Genes-Chave:
- Os genomas são comparados para identificar as diferenças genéticas que eram responsáveis pelas características únicas da espécie extinta (fenótipos).
- Os cientistas se concentram em identificar os “genes centrais” que impulsionavam essas características perdidas.
4. Edição Genética:
- Utilizando ferramentas de edição genética avançadas, principalmente a tecnologia CRISPR-Cas9, os cientistas modificam o DNA das células do parente vivo.
- O objetivo é inserir as sequências de DNA da espécie extinta nos locais correspondentes do genoma do parente vivo, alterando os genes responsáveis pelas características desejadas da espécie extinta. No caso do lobo-terrível, foram feitas 20 edições únicas em 14 genes do genoma do lobo cinzento.
5. Criação de Embriões Modificados:
- As células geneticamente editadas são usadas para criar embriões. Uma técnica comum envolve a transferência nuclear de células somáticas (SCNT), onde o núcleo de uma célula somática editada é inserido em um óvulo não fertilizado do qual o próprio núcleo foi removido.
6. Gestação e Nascimento:
- Os embriões modificados são implantados em fêmeas da espécie viva relacionada (barrigas de aluguel). No caso do lobo-terrível, cadelas foram usadas como barrigas de aluguel. Alternativamente, a Colossal está explorando a possibilidade de úteros artificiais.
- O objetivo é que a fêmea de aluguel leve o embrião a termo e dê à luz um filhote com as características genéticas da espécie extinta. No caso do lobo-terrível, três filhotes geneticamente modificados nasceram em outubro de 2024.
Quais são os desafios e implicações éticas?
Apesar dos avanços, a desextinção enfrenta desafios significativos e levanta questões éticas. A comunidade científica expressa preocupações sobre a viabilidade desses projetos, especialmente devido à degradação do DNA ao longo do tempo. Além disso, a falta de publicações científicas revisadas por pares sobre os métodos utilizados pela Colossal gera ceticismo.
Os críticos também questionam se os recursos investidos na desextinção não seriam mais bem aplicados na conservação de espécies atualmente ameaçadas de extinção. A edição genética realizada pela Colossal, que alterou apenas uma pequena fração do genoma dos lobos-cinzentos, levanta dúvidas sobre a autenticidade dos animais recriados como verdadeiros representantes das espécies extintas.
Quais os próximos passos da técnica com o lobo-terrível?
A Colossal Biosciences acredita que a desextinção pode trazer benefícios significativos, como a restauração de ecossistemas e a prevenção da extinção de espécies ameaçadas. No entanto, o debate sobre as implicações éticas e práticas desses esforços continua. Enquanto a ciência avança, a questão de saber se devemos trazer de volta espécies extintas permanece sem resposta definitiva.
O futuro da desextinção dependerá de avanços contínuos na biotecnologia e de um diálogo aberto sobre as implicações éticas e ambientais. A Colossal e outras empresas do setor continuam a explorar essas possibilidades, mas o impacto real desses esforços ainda está por ser visto.