A ideia de trazer de volta à vida espécies extintas tem fascinado cientistas e o público em geral por décadas. Nesta segunda (7/4), uma empresa chamada Colossal Biosciences anunciou um avanço significativo nesse campo, alegando ter “recriado” o lobo-terrível, uma espécie que desapareceu há mais de 10 mil anos. Essa notícia levanta questões sobre a viabilidade e as implicações éticas da desextinção.
Os lobos-terríveis, conhecidos cientificamente como Aenocyon dirus, eram semelhantes aos lobos cinzentos, mas com características distintas. A Colossal afirma ter utilizado técnicas avançadas de edição genética para criar híbridos que compartilham traços físicos com esses animais extintos. No entanto, a comunidade científica ainda debate se esses avanços representam um verdadeiro retorno à vida ou apenas uma aproximação genética.
Como funciona a desextinção do ‘lobo-terrível’?

A empresa Colossal Biosciences empregou uma abordagem inovadora para tentar trazer de volta o lobo-terrível. Utilizando fragmentos de DNA antigo extraído de fósseis, eles realizaram edições genéticas em lobos modernos. O processo envolveu a modificação de cerca de 20 regiões do genoma para replicar características do lobo-terrível, como tamanho e estrutura corporal.
Para isso, os cientistas usaram células progenitoras endoteliais de lobos cinzentos e editaram genes específicos para corresponder ao DNA dos lobos extintos. Esses núcleos editados foram então implantados em óvulos desnucleados, gerando embriões que foram gestados por cadelas de grande porte. Essa técnica menos invasiva de clonagem e edição genética é vista como um marco na biotecnologia.
Por que ressuscitar animais extintos?
A motivação por trás da desextinção vai além da curiosidade científica. A Colossal Biosciences acredita que a reintrodução de espécies extintas pode ajudar a restaurar ecossistemas e combater as mudanças climáticas. Por exemplo, os mamutes, que a empresa também pretende ressuscitar, desempenhavam um papel crucial na manutenção das pastagens da tundra, o que poderia ajudar a mitigar a liberação de dióxido de carbono.
Além disso, a desextinção pode oferecer novas oportunidades para a conservação da biodiversidade, permitindo que espécies extintas sejam reintroduzidas em seus habitats naturais. No entanto, esse conceito ainda enfrenta desafios éticos e práticos significativos, como o impacto sobre os ecossistemas atuais e o bem-estar dos animais recriados.
Razões Científicas:
- Avanço do conhecimento: A desextinção oferece uma oportunidade única para estudar a biologia, o comportamento e a ecologia de espécies extintas. Isso pode fornecer insights valiosos sobre a evolução, a genética e as interações ecológicas do passado.
- Desenvolvimento de tecnologias: As técnicas utilizadas na desextinção, como a edição genética (CRISPR) e a clonagem, impulsionam o desenvolvimento dessas tecnologias, que podem ter aplicações importantes na medicina humana e veterinária, bem como na conservação de espécies ameaçadas.
- Restauração de ecossistemas: Em alguns casos, a reintrodução de espécies extintas poderia ajudar a restaurar ecossistemas degradados, preenchendo nichos ecológicos importantes e restabelecendo interações tróficas essenciais. Por exemplo, a reintrodução do mamute-lanoso na Sibéria poderia ajudar a manter as pastagens e prevenir o derretimento do permafrost.
- Conservação genética: A desextinção pode permitir a recuperação de material genético perdido, o que poderia ser usado para aumentar a diversidade genética de espécies existentes e ameaçadas, tornando-as mais resilientes a doenças e mudanças ambientais.
Razões Éticas:
- Justiça restaurativa: Alguns argumentam que, como os humanos muitas vezes desempenharam um papel na extinção de espécies, temos uma obrigação moral de tentar trazê-las de volta. A desextinção seria uma forma de reparar danos causados ao meio ambiente.
- Valor intrínseco das espécies: Acredita-se que todas as espécies têm um valor inerente e que a sua perda empobrece o planeta. A desextinção seria uma forma de restaurar parte dessa biodiversidade perdida.
A técnica de desextinção realmente funciona?
Embora os avanços da Colossal Biosciences sejam impressionantes, a desextinção ainda está longe de ser uma realidade consolidada. A técnica utilizada não recria uma cópia exata do lobo-terrível, mas sim um híbrido geneticamente modificado. Além disso, a pesquisa ainda não foi revisada por pares, o que é um passo crucial para validar qualquer descoberta científica.
O uso da tecnologia Crispr, uma ferramenta de edição genética, é um componente central nesse processo. Ela permite que os cientistas façam alterações precisas no DNA, mas ainda há muito a ser explorado sobre suas limitações e efeitos a longo prazo. Assim, enquanto a desextinção oferece um vislumbre do futuro da biotecnologia, ela permanece em grande parte no reino da pesquisa experimental.
O caminho para a desextinção é repleto de desafios, mas também de possibilidades. À medida que a tecnologia avança, a capacidade de recriar espécies extintas pode se tornar uma ferramenta poderosa para a conservação e o estudo da evolução. No entanto, é essencial que esses esforços sejam guiados por princípios éticos e científicos rigorosos.
O debate sobre a desextinção continuará a evoluir, à medida que novas descobertas e tecnologias emergem. O que está claro é que a ciência está entrando em um território inexplorado, onde as fronteiras entre ficção e realidade estão se tornando cada vez mais tênues.