Os pandas gigantes são conhecidos por sua dieta peculiar, composta quase exclusivamente de bambu, apesar de possuírem um sistema digestivo típico de carnívoros. Um estudo recente publicado na Frontiers in Veterinary Science trouxe novas luzes sobre como esses animais conseguem adaptar-se a essa dieta aparentemente inadequada. A pesquisa destacou a importância dos microRNAs (miRNAs) presentes no bambu na adaptação alimentar dos pandas.
Os miRNAs são pequenas moléculas de RNA não codificantes que desempenham um papel crucial na regulação da expressão genética. No caso dos pandas gigantes, esses miRNAs derivados do bambu podem influenciar diretamente seus hábitos alimentares, afetando o olfato e o paladar dos animais. Este estudo inovador sugere que os miRNAs do bambu entram na corrente sanguínea dos pandas, desempenhando funções regulatórias essenciais.
Como os microRNAs atuam nos pandas gigantes?

Os miRNAs presentes no bambu são absorvidos pelo sistema digestivo dos pandas e entram na corrente sanguínea. Uma vez circulando pelo corpo, esses miRNAs têm a capacidade de regular a expressão genética, influenciando uma série de processos fisiológicos. Entre esses processos estão o crescimento, desenvolvimento, ritmos biológicos, comportamento e respostas imunes dos pandas.
Além disso, os miRNAs têm um papel específico na regulação do olfato e do paladar dos pandas gigantes. Essas funções são fundamentais para os hábitos alimentares dos animais, já que influenciam diretamente suas preferências e capacidades de detectar e escolher alimentos.
Outros motivos:
Adaptações físicas:
- Os pandas desenvolveram um “pseudo-polegar”, uma extensão do osso do pulso, que lhes permite agarrar e manipular os caules de bambu com facilidade.
- Seus dentes molares são largos e planos, ideais para esmagar e mastigar a fibra do bambu.
- O seu sistema digestivo também se adaptou, com um revestimento espesso no esôfago e no estômago para proteger contra os pedaços afiados de bambu.
Disponibilidade e abundância:
- O bambu é uma planta abundante nas florestas onde os pandas vivem, proporcionando uma fonte de alimento constante e confiável.
Baixo custo energético:
- Embora o bambu seja pobre em nutrientes, ele exige menos energia para ser obtido e consumido do que a caça de presas.
Quais são as implicações do estudo?
A descoberta de que os miRNAs podem transmitir sinais de plantas para animais abre novas possibilidades para o estudo de tratamentos e prevenção de doenças em animais. Este conhecimento pode ser aplicado para melhorar a segurança alimentar de produtos à base de plantas, tanto para animais quanto para humanos. Além disso, o estudo dos miRNAs pode ajudar a entender melhor como as dietas vegetais afetam a saúde e o comportamento dos animais.
Os pesquisadores analisaram amostras de sangue de pandas gigantes de diferentes idades e sexos, identificando 57 miRNAs provavelmente derivados do bambu. Os resultados mostraram que a composição de miRNAs no sangue variava conforme a idade e o sexo dos pandas, sugerindo que esses fatores podem influenciar a adaptação dietética dos animais.
Como os microRNAs influenciam a transição dietética dos pandas?
O estudo concluiu que os miRNAs derivados do bambu podem mediar a transição dos pandas gigantes de uma dieta carnívora para uma dieta baseada em bambu. Essa transição é facilitada pela regulação das vias do metabolismo da dopamina, bem como das vias de transdução do sinal do olfato e do paladar. Esses achados são fundamentais para entender como os pandas gigantes se adaptaram a uma dieta que, à primeira vista, parece incompatível com sua fisiologia.
Em suma, a pesquisa sobre os miRNAs nos pandas gigantes não apenas revela detalhes fascinantes sobre a biologia desses animais, mas também abre novas direções para a pesquisa em nutrição e saúde animal. A capacidade dos miRNAs de influenciar a expressão genética e, consequentemente, o comportamento alimentar, pode ter implicações significativas para a conservação e manejo de espécies ameaçadas, como o panda gigante.