Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O dólar iniciou a semana sob pressão de fatores tanto internos quanto externos. A moeda americana alcançou R$ 5,389 na manhã desta segunda-feira, 10, o maior nível desde 5 de janeiro de 2023. A postura mais cautelosa do mercado antes da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano) na quarta-feira, e a instabilidade política após o resultado das eleições para o Parlamento Europeu, que indicou enfraquecimento dos governos da Alemanha e da França, fortaleceram o dólar. No início desta tarde, a cotação estava em R$ 5,35, com alta de 0,59%.
No Brasil, questões relacionadas à política fiscal do governo Lula têm adicionado pressão à cotação da moeda. Na sexta-feira, o dólar já havia registrado uma alta significativa após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participar de um evento fechado no banco Santander. A moeda americana subiu 0,5%, passando de R$ 5,25 para R$ 5,32.
Durante o evento, Haddad mencionou que há um conjunto de alternativas a serem apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva caso o crescimento das despesas obrigatórias do governo consuma o espaço para as despesas discricionárias dentro da regra fiscal. Ele não se comprometeu explicitamente a respeitar o crescimento máximo das despesas, mas também não mencionou mudanças no arcabouço fiscal, o que gerou preocupações no mercado.
Em uma entrevista à imprensa após o evento, Haddad criticou o vazamento de “informações falsas”, negou alterações no arcabouço fiscal e assegurou que manifestou disposição para contingenciar gastos durante o encontro.
Elson Gusmão, diretor de câmbio da corretora Ourominas, observa que o mercado está atento à valorização do dólar no exterior e continua preocupado com incertezas fiscais internas. Há expectativas em torno das negociações de Haddad com o Congresso sobre a Medida Provisória que restringe o uso de créditos de PIS/Cofins, uma medida editada para compensar a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia e de municípios menores, que entrou em vigor na última semana.
A medida do governo limita o uso de créditos de PIS/Cofins pelas empresas para compensar o pagamento de outros tributos. Distribuidoras e representantes de postos de combustível alertam para um possível aumento nos preços da gasolina, etanol e diesel a partir de terça-feira, 11, o que pode afetar as expectativas de inflação e juros.
Além das questões fiscais, há uma deterioração das expectativas em relação à inflação e aos juros. Segundo o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, a projeção de inflação para este ano foi elevada pela quinta semana consecutiva. Para 2024, a estimativa passou de 3,88% para 3,90%. Um mês antes, a mediana era de 3,76%. Para 2025, foco principal da política monetária, a estimativa subiu de 3,77% para 3,78%, ante 3,66% um mês atrás. Apesar da contínua desancoragem das expectativas de inflação, o mercado manteve a projeção da Selic para 2024 em 10,25% ao ano. Há um mês, estava em 9,75%.
Haddad afirmou anteriormente que não teme um repasse de preços ao consumidor devido ao aumento de custo alegado pelas empresas por conta da Medida Provisória do crédito de PIS/Cofins. Segundo ele, a devolução dos créditos está garantida. Ele explicou que a Receita Federal identificou um problema na sistemática de compensação e que deseja dar transparência ao tema, além de avançar com uma nova sistemática de devolução do PIS/Cofins na exportação.
No cenário externo, o euro também está sendo pressionado em relação ao dólar devido ao avanço da extrema direita nas eleições parlamentares da União Europeia, o que levou o presidente francês, Emmanuel Macron, a convocar eleições legislativas antecipadas.
Os investidores também estão repercutindo os dados de geração de empregos nos EUA em maio, que superaram as expectativas na sexta-feira, sugerindo pouco espaço para o Fed reduzir os juros este ano. A expectativa é que o banco central americano deixe suas taxas de juros inalteradas pela sétima vez consecutiva nesta semana.