Foto: Isac Nóbrega/PR
O almirante de esquadra Flávio Rocha, ex-secretário do governo Jair Bolsonaro, recentemente entrou para a reserva da Marinha após concluir um período de quatro anos no Almirantado. Rocha era o último almirante diretamente vinculado a Bolsonaro nos quadros da ativa da Marinha, embora não tenha mantido contato com o ex-presidente após o fim do governo.
A saída de Rocha representa o fim de uma crise que envolveu a Marinha, o Ministério da Defesa e o Itamaraty. Por pressão do Ministério das Relações Exteriores, o governo evitou que Rocha assumisse o cargo de secretário de Segurança Nuclear e Qualidade da Marinha. Os pedidos da diplomacia tinham como pano de fundo a atuação do almirante como uma espécie de chanceler paralelo durante o mandato de Bolsonaro, influenciando decisões no Itamaraty.
O protagonismo de Rocha causou incômodo entre diplomatas, e a reação só ocorreu quando o almirante voltou à Marinha após a derrota de Bolsonaro. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, foi responsável por barrar a nomeação de Flávio Rocha na secretaria que cuida de assuntos nucleares. Rocha acabou escanteado, sem cargo executivo, e foi nomeado como assessor do gabinete do comandante para assuntos de segurança nuclear e proteção radiológica.
A Marinha ressaltou que não houve cerimônia para a passagem à reserva do referido almirante. O histórico recente da Marinha e a indisposição do governo com os militares que haviam trabalhado em posições de destaque sob Bolsonaro fizeram Rocha cair, mas ele não perdeu o apoio e admiração dos pares.
Flávio Rocha era um dos oficiais-generais da Marinha mais envolvidos em assuntos nucleares. Na Secretaria de Assuntos Estratégicos, ele foi um dos responsáveis por promover uma virada nas negociações pelo combustível do submarino nuclear brasileiro. Enquanto a Marinha buscava desatar nós na negociação com a França, Rocha buscou autoridades russas para iniciar conversas com foco em conseguir a tecnologia para a integração do reator nuclear ao submarino.
Em 2021, o almirante visitou Moscou para amarrar os pontos da cooperação militar, e Bolsonaro apresentou o projeto do submarino nuclear a Vladimir Putin durante a polêmica viagem à Rússia pouco antes do início da guerra contra a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Mesmo escanteado e com cargo rebaixado na burocracia da Marinha, Flávio Rocha fez, já no governo Lula, seis viagens internacionais para tratar de negociações sobre o submarino nuclear brasileiro.
Foram quatro visitas à França no período, acompanhando o comandante Olsen em Paris, Cherbourg, Toulon e Orly. Além disso, ele participou de pelo menos duas reuniões da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) em Viena, na Áustria. Essa presença causou rebuliço na missão brasileira junto ao órgão de 35 nações, especialmente porque a AIEA questiona os desígnios do Brasil, que pediu à agência um acordo para poder usar combustível nuclear em uma embarcação militar, apesar de não ter armas atômicas.