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Em matéria escrita para o Estadão, publicada na última sexta-feira (5), o jornalista Alexandre Calais opinou sobre a escolha do próximo presidente da Petrobras.
O colunista afirmou que se Aloizio Mercadante, Miriam Belchior, Magda Chambriard, Ricardo Savini ou qualquer outro indivíduo assumir a presidência da Petrobras nos próximos dias, substituindo o atual presidente Jean Paul Prates, essa pessoa será o 43º presidente em 70 anos de história da empresa. Isso equivale a um novo presidente a cada ano e meio, um período insuficiente para implementar qualquer estratégia eficaz. Em vez de se concentrarem na empresa, os presidentes gastam muito tempo lidando com disputas políticas menores. Isso é frustrante e, neste governo que insiste em tentar reescrever a história, também é imprudente.
A Petrobras quase desafiou a afirmação do bilionário americano John D. Rockfeller de que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada e o segundo melhor é uma empresa de petróleo mal administrada. A Petrobras, envolvida em escândalos de corrupção durante os governos de Lula e Dilma Rousseff, esteve à beira da falência – embora as empresas estatais nunca quebrem. Durante o governo de Dilma, a empresa registrou perdas impressionantes de R$ 21,6 bilhões em 2014 e R$ 34,8 bilhões em 2015.
Foi um período assustador. O investimento na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, tornou-se um símbolo da corrupção na empresa. Com um custo inicial estimado em R$ 7,5 bilhões, as obras consumiram quase R$ 60 bilhões – e ainda não foram concluídas.
A Petrobras começou a se recuperar após o impeachment de Dilma e a ascensão de Michel Temer ao poder. Foi criado o mecanismo de preço de paridade de importação (PPI), que basicamente fazia com que os ajustes de preços dos combustíveis acompanhassem a cotação do petróleo no exterior, já que é uma commodity global. Isso foi uma tentativa de evitar que a empresa fosse usada, por exemplo, como instrumento para combater a inflação quando esta ameaçava a popularidade dos presidentes, como já havia acontecido muitas vezes.
Em 2016, a aprovação da Lei das Estatais, na esteira dos escândalos financeiros na Petrobras, também trouxe mais um reforço para evitar a interferência política desenfreada na petroleira, evitando a nomeação de pessoas completamente estranhas à atividade da empresa, apenas para agradar a determinados partidos ou políticos específicos. A estatal poderia começar a deixar de ser uma simples moeda de troca.
Com o retorno de Lula ao poder, tudo isso começou a desmoronar. O PPI foi rapidamente abandonado, e a questão dos preços dos combustíveis passou a seguir uma fórmula que poucos conhecem. A pressão para manter os preços em níveis baixos, principalmente em momentos em que a popularidade do governo está baixa, como agora, é sempre grande.
Não é surpresa que a Petrobras não reajuste o preço da gasolina há 154 dias em suas refinarias. De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina nas refinarias da estatal está 17% abaixo do praticado no Golfo do México, referência para importação de combustíveis, o que significaria um espaço de R$ 0,58 para aumento do litro do combustível no mercado brasileiro.
Em uma entrevista à GloboNews, o ex-presidente da estatal no governo Bolsonaro, Roberto Castello Branco, disse que a atual política de preços da petroleira já se mostrou prejudicial à companhia. “Ela não é boa para a sociedade brasileira, porque a empresa perde sua capacidade de investimento, perde sua capacidade de distribuir dividendos, e não podemos esquecer que 37% desses dividendos vão para o Tesouro Nacional.”
Em relação à Lei das Estatais, na verdade, ela nunca foi levada muito a sério. Os governos sempre encontram uma maneira de contorná-la. E, no ano passado, uma mudança no próprio estatuto da Petrobras, aprovada praticamente apenas com os votos do governo no conselho da empresa, flexibilizou um pouco mais as exigências para indicação de nomes para cargos na empresa.
Lula nunca escondeu que gostaria que a Petrobras voltasse a ser a mesma empresa de seu primeiro mandato. Investindo em refinarias, gasodutos, estaleiros, plataformas. Mesmo sem levar em conta as condições econômicas, mesmo que isso não faça sentido do ponto de vista da empresa. É a política do gasto é vida.
E fazendo questão de esquecer completamente que tudo isso já deu muito errado e é a origem do maior escândalo de corrupção já visto neste país. As obras de Abreu e Lima já foram retomadas – e na licitação para tocar essas novas obras, quem ganha? Andrade Gutierrez e Novonor, ex-Odebrecht – as empreiteiras atoladas em problemas investigados na Operação Lava Jato.
Como tudo no mundo é uma questão de perspectiva, a saída de Prates – um ex-senador petista – neste momento provoca medo entre os investidores. Há um temor de que o próximo presidente, o 43º, vá cumprir à risca a determinação de Lula, coisa que, pelo jeito, Prates não tem feito. E o que vem à memória disso tudo, definitivamente, não é bom.