Foto: Pedro Kirilos/Estadão
Após contabilizar lucro e dividendos recordes em 2022, a Petrobras terminou o ano de 2023, o primeiro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de volta ao comando da estatal, com um resultado positivo de R$ 124,6 bilhões. A cifra representa uma queda de 33,8% frente o período anterior, mas é a segunda maior da história da empresa.
No último ano do governo Bolsonaro, a estatal registrou um lucro recorde de R$ 188,3 bilhões, montante 76,6% superior ao apurado em 2021. Em 2022, a empresa também anunciou o pagamento de R$ 215,7 bilhões em dividendos aos acionistas.
Já em 2023, o pagamento de dividendos aos acionistas teve recuo expressivo, numa sinalização da empresa de que irá trocar esses pagamentos em níveis muito acima das empresas pares para priorizar investimentos.
O volume de dividendos caiu 66,4% no ano passado, mas ainda somou expressivos R$ 72,4 bilhões. A decisão da empresa de não pagar dividendos extras, como no ano anterior, frustrou investidores. Analistas esperavam uma distribuição adicional entre US$ 4 bilhões e US$ 9 bilhões.
Já os investimentos, apenas no quarto trimestre de 2023, subiram 23,7% ante o mesmo período de 2022 e 4,9% ante o trimestre imediatamente anterior, para US$ 3,55 bilhões.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse em carta publicada junto ao balanço divulgado pela companhia nesta quinta-feira que os dividendos de R$ 72,4 bilhões, referentes ao exercício de 2023, são um “valor que se reverte para a sociedade brasileira”.
No final de fevereiro, Prates já havia sinalizado que os recursos a serem distribuídos aos acionistas poderiam diminuir. Suas declarações fizeram as ações da estatal desabar, e a companhia perdeu R$ 29,9 bilhões em valor de mercado em um único dia.
Segundo ele, além dos dividendos, o País também se beneficia com a arrecadação de impostos, com a estatal em 2023 pagando R$ 240 bilhões em tributos, e os sucessivos recordes de valor de mercado desde que assumiu a gestão da companhia, em janeiro de 2023.
Prates afirmou que, em 2023, o retorno das ações preferenciais da companhia na Bolsa de Nova York alcançou 112%. “Um valor muito superior ao maior dos retornos das majors (20%), evidenciando quão acertada foi a decisão de manter os dividendos em patamares adequados, ao mesmo tempo em que aumentamos os investimentos para entregar crescimento rentável, o que se reflete em maiores valores de mercado”, explicou Prates.
Segundo ele, a Petrobras “voltou para prosperar, gerar valor a longo prazo e contribuir para a construção de um mundo melhor”.
Dona de 36,6% do capital da empresa, via Tesouro, Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e seu braço de participações, o BNDESPar, a União deve ficar com R$ 26,5 bilhões em 2023. Em 2022, a União ficou com cerca de R$ 79 bilhões.
Este é o terceiro anúncio seguido de pagamento a acionistas após a mudança da política de dividendos da companhia, que hoje tem previsão de proventos na ordem de 45% do fluxo de caixa livre (diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos do trimestre).
Até julho de 2023, esse porcentual era de 60%. Apesar da redução, a regularidade dos dividendos da Petrobras sob o governo Lula surpreendeu positivamente o mercado, o que ajuda a explicar a apreciação do papel no período.
No quarto trimestre de 2023, a Petrobras teve um lucro líquido de R$ 31 bilhões, 28,4% a menos do que há um ano, e 16,6% superior ao registrado no trimestre imediatamente anterior, segundo informou a empresa à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nesta quinta-feira, 7.
A receita de vendas no período caiu 15,3%, para R$ 134,5 bilhões, frente ao quarto trimestre de 2022, mas subiu 7,6% em relação ao terceiro trimestre.
Já o Ebitda, que mede a capacidade de geração de caixa da companhia, ficou em R$ 66,8 bilhões no quarto trimestre de 2023, queda de 8,5% ante o quarto trimestre de 2022 e avanço de 1% em relação ao terceiro trimestre de 2023.
Resultado
“O ano 2023 não foi igual a 2022. O Brent caiu 18%, e crackspread (diferença entre o produto bruto e o refinado) do diesel, 23%. Ainda assim, a Petrobras foi uma das empresas do setor que melhor enfrentou esse cenário. Nosso Ebitda (geração de caixa) foi impactado por essas quedas, mas em menor grau que as grandes petroleiras. Compensamos as adversidades produzindo mais e com mais eficiência”, disse ao Estadão/Broadcast o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Sergio Caetano Leite.
O preço anual médio do barril tipo brent foi de US$ 82,62 em 2023, ante US$ 101,19 em 2022, uma queda de 18,4% que ajudou a esvaziar o resultado da companhia, encarado como “operacionalmente sólido” pelo mercado. No quarto trimestre, esse preço médio do Brent foi de US$ 84,05, 5,3% abaixo do verificado um ano antes e 3,1% menos que nos três meses imediatamente anteriores.
O diretor disse que medidas recentes da atual gestão “sinalizam” a mudança de foco no curto prazo, pautado na maximização das margens da frente de exploração e produção, que marcou os últimos anos da estatal para uma “nova visão de longo prazo”.
Como exemplo, ele citou a troca do pagamento de dividendos em níveis muito acima das outras petroleiras pela priorização em investimentos que vão “perpetuar” o valor gerado pela companhia. “Estamos entre as empresas que mais cresceram produção em 2023 em relação às majors e com melhor índice de reposição de reservas. Isso se traduz em boas perspectivas de geração de valor futura”, afirmou.
O desempenho da Petrobras no ano passado refletiu principalmente o fim do programa de venda de ativos, o que reduziu a entrada de recursos no caixa da estatal.
Além disso, também influenciou o preço mais fraco do petróleo no mercado internacional frente a 2022, quando a cotação foi pressionada pelos desdobramentos da guerra na Ucrânia e as sanções à produção russa. Esses dois movimentos desequilibraram os balanços de oferta e demanda no mercado global e fizeram os preços da commodity disparar.
Por outro lado, os recordes operacionais e a bem-sucedida estratégia comercial para o diesel e gasolina ajudaram a garantir a estatal o segundo melhor resultado da história.
Estadão