Nesta quarta-feira, 6, manifestantes utilizaram uma caminhonete pertencente à companhia elétrica estatal do México para derrubar uma das portas do palácio presidencial. O grupo protestava contra o desaparecimento de 43 estudantes, um caso ainda sem solução que ocorreu há quase dez anos. A depredação aconteceu durante a coletiva de imprensa matutina do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, que estava em andamento no interior do edifício.
Manifestantes de Ayotzinapa derriban puerta de palacio presidencial en México
— La Razón Digital (@LaRazon_Bolivia) March 7, 2024
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Autoridades tomaram medidas de segurança, erguendo barreiras ao redor do prédio para evitar uma invasão, enquanto a polícia utilizou gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Segundo informações da imprensa local, alguns dos participantes do ato foram detidos, mas não foram divulgados detalhes sobre a identidade dos envolvidos ou o número exato de pessoas presas. Apesar da confusão, centenas de manifestantes permanecem acampados do lado de fora do Palácio Nacional, localizado na Cidade do México, a capital do país.
“Querem provocar”
Após o tumulto, AMLO disse que “a porta seria consertada” e que “não havia problema”, acrescentando não ter planos para reprimir os protestos. Ele também informou que o governo continua as investigações sobre o caso dos estudantes desaparecidos, mas acusou os manifestantes de terem sido manipulados por ONGs e grupos de defesa dos direitos humanos, cujo objetivo seria desestabilizar o governo.
“Querem é provocar”, disse o líder mexicano sobre as ONGs, sem apresentar provas da acusação.
O presidente criticou ainda os advogados dos desaparecidos, por supostamente proibirem o governo de conversar com as famílias das vítimas – também para isso não apresentou provas. Em resposta, o Centro de Direitos Humanos Miguel Agustin Pro Juarez (Prodh), que representa as famílias, condenou o incidente desta quarta-feira, negou as acusações e pediu o “restabelecimento de um diálogo respeitoso”.
Entenda o caso
Os 43 estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa teriam sido atacados entre a noite de 26 e a madrugada de 27 de setembro de 2014, no estado de Guerrero. Eles estavam a caminho da Cidade do México para participar de um ato político em memória do massacre de 1968, quando centenas de manifestantes foram mortos durante um protesto contra o governo. Durante o trajeto, o grupo teria sido sequestrado por policiais corruptos e entregue a narcotraficantes do cartel Guerreros Unidos. Segundo a versão do então procurador responsável pelo caso, Jesús Murillo Karam, os criminosos teriam confundido os estudantes com rivais, resultando na morte e na queima de seus corpos.
No entanto, em 2016, investigadores independentes rejeitaram essa versão, alegando que as confissões dos policiais envolvidos foram obtidas mediante tortura. Eles também apontaram a participação do Exército e do Centro de Investigação e Segurança Nacional (Cisen) nos desaparecimentos.
Sob pressão, uma comissão da verdade, estabelecida por AMLO, discordou do veredicto de Karam e classificou o episódio como um “crime de Estado”, envolvendo militares, autoridades federais e regionais, além de membros de cartéis. Em 2022, o general aposentado do Exército, José Rodríguez Pérez, foi preso por seu envolvimento no crime, e um total de 20 militares foram detidos. Até o momento, apenas os restos mortais de três estudantes foram identificados, mas as investigações continuam em andamento.
Com informações de VEJA