Um ciclone considerado incomum na costa brasileira passou da condição subtropical para tropical durante o último fim de semana, conforme informações da Metsul. Batizado no domingo como Akará, em referência a um tipo de peixe na língua Tupi, pela Marinha do Brasil, o fenômeno continua atuando ao longo da costa da região Sul do país. Prevê-se que permaneça em alto-mar nesta terça-feira, sem uma aproximação significativa do continente.
Segundo a Climatempo, a tempestade tropical Akará não tem impacto direto nas condições de chuva ou ventos fortes que possam ocorrer no continente.
“Os temporais são das nuvens cumulonimbus, que provocam fortes pancadas de chuva e que crescem fartamente sobre o País por causa da grande disponibilidade de ar quente e úmido. Mas, a tempestade tropical causa ventos fortes sobre o oceano e isso deixa o mar agitado na costa do Sul e do Sudeste e os navegantes precisam ficar atentos aos avisos da Marinha do Brasil”, acrescenta a empresa brasileira de meteorologia.
Uma tempestade tropical é o último estágio de desenvolvimento abaixo de um furacão. “Mas até o momento, não há expectativa que Akará se intensifique mais e se transforme em um furacão”, afirma a empresa de meteorologia. É o primeiro ciclone a ser nomeado no Brasil desde a tempestade subtropical Yakecan, em maio de 2022.
A tendência é que vá se afastando mais na quarta-feira, 21, e a partir de quinta-feira, 22, não atuará mais sobre o País, de acordo com o meteorologista da Climatempo.
Imagens de satélite registradas na segunda-feira, 19, da tempestade tropical Akará sobre o mar a leste do Rio Grande do Sul. Foto: Reprodução/NOAA/Nasa/Via Metsul
Entenda como ocorreu a transição de subtropical para tropical, segundo o meteorologista Guilherme Borges:
- 14 de fevereiro: a Marinha do Brasil emitiu o alerta para a previsão do ciclone subtropical na noite do dia, 14.
- 15 de fevereiro: inicialmente o ciclone passou pelo estágio de uma depressão subtropical, com ventos menores do que 63 km/h e pressão atmosférica mínima de 1010 hPa. Ele foi identificado pela Marinha do Brasil como um ciclone em alto-mar, na costa do Rio de Janeiro, na altura de Arraial da Cabo, a pouco mais de 200 km afastado do continente. Com formação na noite de quinta-feira, 15, o ciclone subtropical continuou ganhando forçaem alto-mar, na costa do Rio de Janeiro.
- 16 de fevereiro: o sistema se manteve como depressão subtropical, ainda na costa do Rio de Janeiro, e à noite a pressão atmosférica mínima foi de 1008 hPa. Havia a expectativa que a depressão subtropical se transformasse em tempestade subtropical na noite de sexta-feira, 16.
- 17 de fevereiro: o sistema se manteve como depressão subtropical, na altura da costa sul do Rio de Janeiro, deslocando-se para o sul em direção à costa de São Paulo. a pressão atmosférica mínima foi de 1006 hPa na análise da Marinha do Brasil, por volta das 9 horas da manhã (horário de Brasília).
- 18 de fevereiro: na manhã de domingo, o sistema ganhou força e foi reclassificado como depressão tropical na altura da costa de São Paulo, com a pressão atmosférica mínima no centro em 1002 hPa. Como depressão tropical, este ciclone produzia ventos ainda menores do que 63 km/h. No entanto, na noite de domingo, na análise meteorológica da Marinha do Brasil de 21 horas (horário de Brasília), o ciclone se intensificou um pouco mais, com ventos mais fortes, e foi reclassificado como tempestade tropical, recebendo o nome de Akará. A pressão atmosférica mínima era de 1000 hPa e sistema estava em alto-mar, na altura do litoral sul de São Paulo e do Paraná, com ventos estimados entre 63 km/h e até valores menores do que 118 km/h.
- 19 de fevereiro: seguindo para a região Sul, a tempestade tropical Akará foi observada em alto-mar, na costa de Santa Catarina, com pressão atmosférica mínima de 998 hPa, com ventos entre 63 km/h e até valores menores do que 118 km/h. Por ser tropical os ventos se intensificam. Com esse limiar mais forte (lá, no oceano), o fenômeno, segue em alto mar, trazendo apenas uma leve agitação marítima na costa do Sul e Sudeste, sem impactos no continente, como já mencionado anteriormente.
Há risco de se tornar um furacão?
Assim como a Climatempo, a Metsul também avalia que não há risco de evolução para um furacão.
“O centro de baixa pressão na costa do Sul do Brasil foi elevado da categoria de depressão tropical a tempestade tropical, o estágio anterior a um furacão. Com isso, a tempestade foi nomeada e batizada como Akará”, acrescenta a Metsul.
A tendência é continue seguindo rumo ao Sul, longe do continente, até se dissipar totalmente, não oferecendo perigo em terra firme. Embora sem causar consequências no continente, Akará proporcionou o registro de algumas imagens de satélite na segunda-feira, 19, conforme divulgou a Metsul.
Imagens de satélite registradas na segunda-feira, 19, da tempestade tropical Akará sobre o mar a leste do Rio Grande do Sul. Foto: Reprodução/NOAA/Nasa/Via Metsul
Por que a tempestade foi batizada de Akará?
A empresa de meteorologia Climatempo afirmou que apenas as tempestades tropicais e subtropicais recebem um nome, e é exclusivamente a Marinha do Brasil que designa essas baixas pressões atmosféricas especiais. De acordo com o meteorologista Guilherme Borges, no início de 2023, a Marinha divulgou uma lista de possíveis nomes para os próximos eventos, incluindo Akará (um tipo de peixe), Biguá (uma ave marinha), Caiobá (um habitante da mata), Endy (luz do fogo) e Guarani (guerreiro).
Borges explicou que Akará é o nome indígena do acará, uma espécie de peixe de rio encontrado na região amazônica e em outros rios do Brasil. Ele destacou que o Akará é conhecido por sua carne saborosa, sendo frequentemente utilizado na culinária local, preparado de diversas maneiras, como frito, assado, cozido ou em ensopados, e é apreciado por sua carne branca e firme. Vale ressaltar que, enquanto o ciclone permanecer como depressão tropical ou subtropical, ele não receberá uma nomenclatura específica.
Classificação dos ciclones, segundo a Marinha do Brasil:
- Ciclones extratropicais: formam-se em latitudes altas, médias ou subtropicais e possuem núcleo frio em toda sua extensão vertical;
- Ciclones tropicais: formam-se próximo ao Equador e possuem núcleo quente em toda sua extensão vertical;
- Ciclones subtropicais: formam-se em latitudes subtropicais, tendo núcleo quente mais próximo a superfície e núcleo frio mais alto na atmosfera.
Entenda as diferenças entre depressão tropical e tempestade tropical, conforme a Climatempo:
- Depressão tropical é uma área de baixa pressão atmosférica com ventos máximos sustentados de até 63 km/h;
- Tempestade tropical é uma perturbação atmosférica mais organizada, com ventos máximos sustentados entre 63 km/h e 118 km/h e com pressão interna inferior à depressão subtropical. A pressão interna de uma tempestade tropical normalmente pode cair para valores em torno de 990 milibares ou menos, dependendo da intensidade da tempestade.
Por que os ciclones tropicais e subtropicais são raros no Brasil?
Ciclones subtropicais e tropicais demandam três elementos essenciais para sua formação: temperatura elevada da superfície do mar, umidade abundante nas proximidades da superfície e a presença de um ciclone frio nos médios níveis da atmosfera, aproximadamente a 5 km de altitude.
A Climatempo destaca que a conjunção desses três fatores, simultaneamente e em posições favoráveis, não é algo frequente devido à não constante elevação da temperatura da superfície do mar, a ausência ocasional de umidade suficiente na região e a não regular ocorrência de um ciclone frio a 5 km de altura. Portanto, esses sistemas são considerados raros.
Em contrapartida, os ciclones extratropicais são mais comuns, pois os componentes essenciais para sua formação, como variação horizontal de temperatura próxima à superfície e a ocorrência frequente de frentes frias na atmosfera, são eventos regulares, conforme apontado pela empresa de meteorologia.
A Marinha do Brasil registrou uma lista de tempestades tropicais e subtropicais desde 2011. Antes da tempestade tropical Akará, apenas uma delas havia sido catalogada como tempestade tropical, denominada Iba.
Durante o período de 14 a 16 de fevereiro de 2021, um ciclone permaneceu como depressão subtropical, sem receber um nome específico. Além disso, outra depressão subtropical foi registrada entre os dias 6 e 9 de janeiro de 2023, conforme informado pela Climatempo.
- Arani – tempestade subtropical – 14 a 16 de março de 2011;
- Bapo – tempestade subtropical – 5 a 8 de fevereiro de 2015;
- Cari – tempestade subtropical – 10 a 13 de março de 2015;
- Deni – tempestade subtropical – 15 a 16 de novembro de 2016;
- Eçaí – tempestade subtropical – 4 a 6 de dezembro de 2016;
- Guará – tempestade subtropical – 9 a 11 de dezembro de 2017;
- Iba – tempestade tropical – 23 a 28 de março de 2019;
- Jaguar – tempestade subtropical – 19 a 22 de maio de 2019;
- Kurumí – tempestade subtropical – 23 a 25 de janeiro de 2020;
- Mani – tempestade subtropical – 25 a 27 de outubro de 2020;
- Oquira – tempestade subtropical – 27 a 30 de dezembro de 2020;
- Potira – tempestade subtropical – 19 a 24 de abril de 2021;
- Raoni – tempestade subtropical – 28 de junho a 1º de julho de 2021;
- Ubá – tempestade subtropical – 9 a 12 de dezembro de 2021;
- Yakecan – tempestade subtropical – 16 a 19 de maio de 2022.
Em 2004, o Estado de Santa Catarina foi impactado por um furacão que resultou em mais de 27,5 mil moradores desalojados, quase 36 mil residências danificadas, 518 feridos e 11 óbitos, gerando prejuízos estimados em R$ 1 bilhão. Naquela época, ainda não havia uma nomenclatura específica para esses fenômenos, e o furacão foi denominado Catarina. Após sua passagem, a Marinha decidiu instituir uma lista para nomear futuros eventos similares.
Por sua vez, a tempestade Anita foi classificada como subtropical, originando-se nas proximidades do litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina entre os dias 8 e 12 de março de 2010, conforme informações da Climatempo.
As informações são de Estadão/Renata Okumura