Foto: Reprodução/Sérgio Lima/Poder360.
No final do ano passado, uma matéria da revista VEJA expôs que a conselheira do Tribunal de Contas do Piauí, Rejane Dias, esposa do ministro do Desenvolvimento Social, o petista Wellington Dias, enfrentava uma denúncia por corrupção passiva em um caso que corria em sigilo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O caso envolve locadoras de carros, contratos superfaturados e pagamento de propina. De acordo com o Ministério Público, durante o período de 2015 a 2018, enquanto Rejane ocupava o cargo de secretária de Educação do Piauí, com o marido governando o estado, ela teria recebido vantagens financeiras de uma empresa que prestava serviços de transporte para alunos carentes. VEJA agora teve acesso ao processo completo, revelando detalhes constrangedores. Além da esposa, a Polícia Federal identificou evidências de envolvimento na trama por parte da filha do ministro, do cunhado e do próprio ministro.
O extenso relatório da PF e do Ministério Público, com 979 páginas, descreve o que parece ser uma parceria criminosa entre o governo do Piauí e as empresas prestadoras de serviço. O enredo típico envolve autoridades beneficiando amigos, correligionários e financiadores de campanha com contratos públicos, seguido pela partilha dos lucros. O início do esquema remonta a 2008, quando o governador nomeou o professor Luiz Carlos Magno para a superintendência institucional da Secretaria de Educação, responsável por estruturar o transporte de estudantes. O professor, militante do PT, tornou-se empresário em empresas de locação de veículos após deixar o governo em 2009. Em 2014, durante o mandato de senador, Wellington Dias e Rejane usaram os serviços de uma das empresas do ex-professor em suas campanhas, lançando mão de uma mesma artimanha na prestação de contas eleitorais.
Em 2015, Wellington Dias reassumiu o governo, e Rejane, eleita deputada federal, licenciou-se para ocupar a Secretaria de Educação do estado. Nesse período, segundo a PF, o esquema foi intensificado. Concursos manipulados na Secretaria de Educação garantiam sucesso às empresas do ex-professor, que faturaram 200 milhões de reais nos anos seguintes. Uma fiscalização da Controladoria-Geral da União detectou indícios de superfaturamento, e a Polícia Federal foi acionada para investigar, levando à denúncia de mais de 40 pessoas por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, e lavagem de dinheiro. Os desvios estimados alcançaram 120 milhões de reais.
A parte mais constrangedora surgiu durante buscas nos endereços dos envolvidos, quando foram apreendidos livros, pen drives e computadores nas empresas do ex-professor. Os dados revelaram que a parceria entre os criminosos e a família do governador existia desde a campanha de 2014. Os registros indicaram que veículos utilizados na campanha de Wellington Dias foram registrados como “cortesias” da empresa, sem custos. A análise policial concluiu que o dinheiro destinado ao pagamento da locação dos veículos tinha como finalidade “desviar recursos públicos em favor das empresas investigadas e da própria acusada”. Mensagens nos computadores da locadora mostraram que a então ex-primeira-dama, Rejane Dias, recebia presentes e “empréstimos” em dinheiro. Após a posse do marido, ela passou a utilizar dois carros de luxo, presentes da empresa, avaliados em 331 mil reais. A locadora ainda disponibilizou dois carros e transferiu 100 mil reais para o cunhado do governador, dinheiro que, segundo a PF, tinha Rejane Dias como a verdadeira destinatária. A conselheira do TCE foi denunciada por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro no final do ano passado. Em depoimento, ela negou as acusações e alegou ilegalidade na investigação.
O nome do ministro Wellington Dias é citado diversas vezes no relatório da Polícia Federal. Além das “cortesias” e nomeações suspeitas, os investigadores encontraram uma coincidência curiosa relacionada ao governador. Pelos dados de geolocalização de um dos criminosos, descobriu-se que ele seguia um roteiro semelhante nas datas de pagamento dos contratos. O trajeto incluía visita ao banco, saque de dinheiro, ida à empresa e, posteriormente, à sede do governo do Piauí. O ministro não é um dos investigados no caso e, ao ser procurado, optou por não se pronunciar. O Brasil, na terça-feira, foi classificado na 104ª posição em um ranking de percepção de corrupção em 180 países divulgado pela Transparência Internacional.
Com informações da VEJA.