O mais recente relatório de emprego nos Estados Unidos trouxe uma revelação surpreendente que capturou a atenção do mercado, destacando uma economia robusta no início de 2024.
No mês de janeiro, foram criados 353 mil empregos, registrando o maior aumento mensal desde fevereiro de 2023 e superando as expectativas de forma significativa. Embora as projeções apontassem para um acréscimo de 170 mil empregos, o resultado ultrapassou as previsões em mais de sete desvios padrões, evidenciando a contínua força do mercado de trabalho.
Esse fenômeno contribuiu para manter a taxa de desemprego abaixo de 4% pelo 24º mês consecutivo, uma realização rara desde a Segunda Guerra Mundial e apenas superada por períodos de baixo desemprego nas décadas de 1950 e 1960.
O ambiente de emprego robusto foi acompanhado por um aumento anual nos salários de 4,5%, o que levantou preocupações entre os investidores em relação à persistência da inflação.
Cenário deixa dirigentes do Fed mais cautelosos
A expectativa de um corte na taxa de juros nos EUA tem sido um ponto de foco, mas a robustez da economia sugere uma resistência à desinflação, potencialmente desafiando a trajetória esperada de alívio inflacionário observada na segunda metade de 2023.
Este cenário tem levado dirigentes do Federal Reserve, incluindo o presidente Jerome Powell, a adotarem uma postura mais cautelosa, diminuindo as expectativas de redução dos juros, atualmente situados entre 5,25% e 5,5%, já no mês de março.
Essa disposição contra um corte prematuro de juros reflete uma visão que venho sustentando: a antecipação dos investidores por essa medida era prematura.
Agora, por exemplo, com a projeção do modelo GDPNow indicando um crescimento real do PIB de 4,2% no primeiro trimestre de 2024, acima dos 3,0% estimados em janeiro, a perspectiva de manutenção da política monetária atual se fortalece, contrariando as expectativas de um alívio iminente na política monetária.
Fonte: Fed Atlanta.
Os detalhes do payroll
Uma análise minuciosa dos dados do payroll revela nuances que apontam para uma realidade menos robusta no mercado de trabalho do que as manchetes sugerem.
Um aspecto crucial é a diminuição na média de horas trabalhadas, que agora está em 34,1 horas semanais, o nível mais baixo desde os períodos críticos da Covid-19 e da crise financeira de 2008.
Esse declínio indica que o aparente aumento salarial de 4,5% pode não representar um ganho real de renda, considerando a redução das horas de trabalho.
Além disso, a composição do emprego piorou, com a eliminação de quase 100 mil postos de trabalho em tempo integral e a criação de 870 mil vagas em tempo parcial no último ano.
Esse fenômeno pode explicar, pelo menos em parte, o paradoxo do elevado número de empregos gerados sob a administração Biden e sua baixa popularidade, sugerindo a criação de empregos de qualidade inferior.
O início do ciclo de corte de juros nos EUA foi adiado
Em resumo, os números sugerem que as expectativas de um corte nas taxas de juros podem ser postergadas para maio ou junho, alinhando-se mais com a leitura inicial de um mercado de trabalho excessivamente aquecido.
Em outras palavras, a narrativa de uma economia “Goldilocks” (Cachinhos Dourados), onde o crescimento é acompanhado de inflação controlada, parece ganhar força.
Esse cenário refletiu-se no aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, com a taxa de 10 anos se aproximando novamente de 4,15%, e no fortalecimento do dólar globalmente.
Ao mesmo tempo, esse movimento prejudica os ativos de risco, especialmente nos mercados emergentes, como o Brasil.
A situação é complicada pelas declarações de Jerome Powell no programa “60 Minutes” da CBS, onde indicou que cortes nas taxas de juros podem não ocorrer neste trimestre, enfatizando a necessidade de mais dados que confirmem uma redução sustentável na inflação para a meta de 2%.
Ele alertou contra a precipitação em reduzir as taxas antes da conclusão efetiva dos esforços anti-inflacionários.
Por fim, as expectativas de corte nas taxas de juros para maio diminuíram, passando de uma quase unanimidade para 55%, e o número previsto de reduções na taxa para o ano foi ajustado de sete para cinco.
Portanto, é provável que a volatilidade continue a caracterizar o mercado, especialmente em antecipação aos próximos dados de CPI.
Fonte: CME.
As informações são do site Seu Dinheiro