Foto: Reprodução
De acordo com os dados da concessionária, o Complexo do Alemão, na Zona Norte, está na liderança do ranking de comunidades onde o furto de energia é maior. Segundo a empresa 86% das ligações da região é irregular. A Rocinha vem logo em seguida, com 84% de “gatos”. As demais, pela ordem são: Vila Kennedy (82%), Cesarão/Três Pontes (82%), e Cidade de Deus (61%), todas na Zona Oeste. A Light explica que, embora o sistema esteja preparado para absorver uma carga extra, já prevendo as perdas, a grande quantidade de ligações irregulares provoca uma sobrecarga maior do que o suportado.
— O que está acontecendo é que com essa onda de calor fora do que seria o típico, o consumo está muito além da média histórica e nessas regiões onde não tem a disciplina da cobrança e a regularidade do consumo, o aumento ainda é maior do que nas regões onde o consumidor acaba estando regular e pagando direitinho suas contas — afirma Rodrigo Brandão, diretor Light.
“Apropriação indébita”: Estudantes fazem vaquinha on-line para recuperar R$ 19 mil da festa de formatura ‘perdidos’ por colega
O aumento elevado das temperaturas também provoca nessas comunidades, segundo o diretor da Light, o chamado consumo perdulário. Ou seja, ao contrário do consumidor regular que cria mecanismos de economia para reduzir a conta, como evitar ficar com o aparelho de ar condicionado ligado por muito tempo, nas residências onde a ligação é clandestina não existe essa cultura. Segundo a companhia, esse comportamento acaba acarretando uma sobrecarga no sistema, que pode prejudicar o abastecimento:
— Se não houver a disciplina do consumo a chance de ter falta de energia é grande — alerta Brandão .
A empresa diz que mesmo nas áreas com problema de segurança, suas equipes não costumam encontrar barreiras para entrar quando é para restabelecer o fornecimento de energia. A resistência é maior quando o objetivo é regularizar as ligações informais, com casos em que as equipes são ameaçadas ou mesmo expulsas das comunidades.
Relembre o caso: Estudantes ficam sem festa de formatura após colega perder o dinheiro da comemoração
Além de manter um corpo técnico treinado para identificar fraudes, das mais simples às mais complexas, como medidores adulterados, a empresa está investindo também em novas formas de combate ao gato. Uma delas é a tecnologia de blindagem de rede, com a montagem de um padrão técnico dificultando o acesso do fraudador ao sistema. O problema é que a solução não é barata e sai a um custo de R$ 4 mil por consumidor.
Os furtos de energia provocam um prejuízo anual para a concessionária de cerca R$ 750 milhões, valor que a empresa tem de desembolsar sem ter o retorno na tarifa de energia. Levando em conta o número de inadimplentes, esse valor pode atingir R$ 1 bilhão.
Parte do prejuízo provocado pelos gatos de energia acaba indo para a conta de quem paga tarifa regularmente. Pelos cálculos da concessionária, a cada R$ 100 da conta de luz, R$ 7 são pagos por causa do furto de energia.
Além dos prejuízos provocados pelos “gatos” de luz. a Light diz ainda que desde 2015, perdeu 18% do mercado do “bom pagador”. Nesse caso estão desde pessoas que saíram do Rio como os que migraram para outras formas de energia, como a solar.
Operação da PF e do MP contra milícia:Investigado no caso Marielle é um dos alvos
A concessionária informou que vem realizando uma série de inspeções contra furto de energia. Em territórios dominados pelo tráfico ou milícia, a empresa conta com o apoio das autoridades policiais. A reincidência, no entanto, é muito grande, chegando a 80% em alguns casos.
Na opinião de João Bosco, presidente da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha, existem vários fatores que acabam levando o morador de comunidade para a ilegalidade. Uma delas, é a financeira, quando as pessoas não conseguem suportar o pagamento do valor da tarifa.
Guardiões de um tesouro: conheça os restauradores dos palácios do governo do Rio e suas 950 peças históricas
A solução nesses casos pode ser a tarifa social do governo federal, que rende descontos de até 65% na conta. A Light diz que atualmente, 835.639 clientes estão cadastrados para receber o benefício , além de fazer busca ativa para localizar 946.215 famílias que, segundo estimativa da companhia, têm direito.
Mas a queixa nas comunidades é que um dos critérios para acessar o benefício é o limite de consumo, de 220 kWh por mês, quando apenas um aparelho de ar-condicionado ligado seis horas por dia consome mensalmente 180 kWh. Outro fator que levaria os consumidores para a ilegalidade seria a falta de investimentos, na opinião do presidente da União Pró Melhoramentos dos Moradores da Rocinha.
-Os cabos não são trocados há muito tempo. Só fazem reparos. Os transformadores são os mesmos 300 de mais de dez atrás atrás, quando a população era bem menos – aponta João Bosco, acrescentando que a população atual é de 160 mil moradores que vivem em 40 mil residências.
Cláudio Castro diz que ‘não mudou de lado’ com recriação da Secretaria de Segurança: ‘Continuo não acreditando no modelo lá de trás’
Wagner Rodrigues, agente de saúde e morador da Vila Kennedy há mais 40 anos, também acredita que a falta de investimentos empurra o consumidor de comunidade para a ilegalidade. Ele diz que a estrutura de energia elétrica da comunidade, com mais de 60 mil habitantes, é a mesma de décadas atrás, quando a população era bem menor. O resultado, segundo diz, são os picos de luz em dias muito quentes.
—O morador paga luz e a empresa não oferece melhoria na rede. Então, ele para de pagar e faz a ligação clandestina. O mau serviço o leva à ilegalidade — afirma.
A Light informou que atuou, este ano, em 1.445 linhas da sua rede de distribuição, de um total de 1.700 em toda a sua área de concessão, tendo executado, aproximadamente, 72 mil serviços de manutenção e modernização da rede elétrica.
Também fez mais de 148 mil podas em galhos de árvores próximos à rede. A concessionária que em tempos normais atua com 300 equipes , com dois eletricistas cada, trabalhando turno, diz que pode ampliar em 60% seu efetivo e mobilizar até 1.400 equipes para situações emergenciais, para garantir agilidade nos atendimentos.
A concessionária lembra que furtar energia é crime e está previsto no artigo 155 do Código Penal, com pena de até oito anos de prisão, além de causar prejuízos à toda a população, pois podem causar incêndios e acidentes. A Light não aplica multa, porém, ao constatar um “gato”, normaliza o serviço do cliente e cobra o valor referente à energia que foi consumida e não faturada no período em que a fraude esteve ativa.
De janeiro até meados de dezembro de 2023, a empresa realizou 610 mil inspeções para identificar e eliminar os “gatos”, assim como para buscar prevenir as fraudes, com o uso de tecnologia e a instalação de equipamentos antifurto.