Há quase 300 dias preso por suposta omissão nos antidemocráticos de 8 de janeiro, o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Eduardo Naime Barreto foi submetido a novos atendimentos médicos nessa segunda-feira (27/11).
Essa é a terceira vez que o militar precisou ser cuidado por uma equipe médica desde que foi detido, em 7 de fevereiro.
Segundo a esposa do militar, Mariana Adôrno Naime, o coronel tem sofrido com “fortes dores na cabeça”, “dormência nos braços” e “vômitos”.
“Naime já estava com problemas na saúde desde antes da prisão. Em julho agora, ele desmaiou na cela e, dias depois, teve de passar por segundo atendimento. Desde 19 de novembro o Naime vem apresentando fortes dores na cabeça, dormência nos braços e vômitos”, disse.
Ao Metrópoles Mariana contou que, nessa segunda-feira (27/11), após solicitação, o militar passou por atendimento na UPA de São Sebastião.
“Ontem [(27/11)], me ligaram do batalhão informando que ele foi levado ao hospital, depois de uma semana sem melhorar. Lá [na unidade de saúde] Naime tomou medicamentos e hoje está em observação”, afirmou.
“Estamos muitos preocupados com a saúde dele. São quase 10 meses, ou 300 dias na prisão. A saúde dele não está boa, por isso entramos com pedido de revogação. Ele tem emprego fixo, tem residência fixa. Ele pode responder [ao processo] em casa, com uso de tornozeleira”, completou.
Conforme relatado por Mariana, a morte do “patriota” Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, durante banho de sol na Papuda, em 20 de novembro, agravou ainda mais a situação do coronel.
“Ele ficou pensando que Cleriston tinha comorbidades semelhantes às dele [Naime] e acabou morrendo na prisão. Em seguida, veio o aniversário dele [Naime]. Tudo isso o desestabilizou emocionalmente. Desde então, o Naime parou de querer interagir, sair ou até solicitar um médico. Precisei ir lá [batalhão] conversar com ele. Estamos muito preocupados com a saúde do Naime, pois tudo isso é gatilho para infarto ou AVC”, explicou.
Procurada, a PMDF informou que “o coronel Jorge Eduardo Naime requereu a realização de consulta médica e exames preventivos”. “Os pedidos foram encaminhados ao Departamento de Saúde e Assistência ao Pessoal da PMDF para providenciar o atendimento”, declarou a corporação.
Atendimentos médicos anteriores
Em 13 de julho, o coronel foi encontrado desacordado na cela em que está preso, nas instalações da corporação, e acabou levado a um hospital. Segundo familiares, Naime foi atendido no Hospital de Base e liberado momentos depois. O policial teve queda de pressão e caiu na cela.
À época, a coluna Na Mira, do Metrópoles, apurou que o oficial foi encontrado caído, inconsciente, com um armário sobre ele. Após a retirada do móvel, Naime recebeu atendimento no local. Ele recobrou a consciência e não tinha sinais de lesões nem fraturas.
Inicialmente, o coronel foi levado por volta de meia-noite a um hospital de convênio, mas, por se tratar de detento, teve de ser encaminhado ao Hospital de Base, que é público. Ele passou por exames e voltou ao batalhão em que está detido.
Segundo a esposa de Naime, ele estava pré-diabético, com hipertensão e iniciou check-up médico antes de ser preso. Após ser detido, em fevereiro, perdeu 14 quilos e não fez mais exames de sangue para acompanhamento do quadro de saúde.
“Estou desesperada e pedindo socorro. A gente está no limite. Ele já estava com problemas de saúde antes de ser preso. Agora, parece que está morrendo aos poucos. O corpo está falhando”, afirmou. Mariana Naime também fez um apelo em sua conta no Instagram. Veja:
Em 24 de julho, o militar passou por outro atendimento médico. Na data, a PMDF disse que o policial solicitou a presença de um médico que foi atendê-lo e verificou não ser necessário levá-lo ao hospital.
Prisão de Naime
O coronel Jorge Eduardo Naime Barreto era comandante do Departamento de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) quando aconteceram os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, ele está preso desde fevereiro e é investigado pela corte.
O policial havia sido exonerado pelo ex-interventor federal na Segurança Pública do DF, Ricardo Cappelli, em 10 de janeiro. A saída dele ocorreu na mesma data que a de outros 12 servidores vinculados à pasta responsável pela área.
A corregedoria da PM investigava a informação de que Naime teria retardado a atuação da PM na data dos ataques, com o propósito de deixar os terroristas fugirem. O coronel foi exonerado do cargo que ocupava dias após os atos golpistas, mas até hoje nega as acusações.
No mês passado, a Procuradoria Geral da República (PGR) denunciou o coronel e outros membros da alto comando da PMDF, sugerindo a manutenção da prisão de Naime.
O subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos acusa os oficiais de omissão. Para a acusação, os sete policiais que integravam a cúpula da PMDF poderiam ter agido para evitar a invasão às sedes dos Três Poderes.
Informado sobre o grande aumento de pessoas no acampamento em frente ao QG do Exército, em Brasília, o antigo comandante deu de ombros quanto à ação de policiais militares no local: “Deixa os ‘melancia’ se virar”. A mensagem, que consta em denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi retirada de uma conversa entre Naime e o coronel Marcelo Casimiro, em novembro de 2022.
De acordo com a denúncia da PGR, o termo “melancia” faz uma referência a militares do Exército Brasileiro que teriam uma “casca verde”, em uma alusão à cor da farda, e seriam internamente “vermelhos” por apoiar ideologias políticas de “esquerda”.
Naime ainda considerou que a PMDF não deveria sequer ter feito bloqueio no acesso ao Setor Militar Urbano para auxiliar o Exército, ressaltando que o ato teria decorrido de decisão do comandante-geral da corporação, coronel Fábio Augusto Vieira.
A defesa do coronel Jorge Eduardo Naime também se posicionou por meio de nota. No documento, os advogados Iuri Cavalcante Reis, Pedro Afonso Figueiredo e Izabella Hernandez Borges disseram que “a defesa discorda do posicionamento do órgão acusador e provará, em resposta à acusação, a inexistência de qualquer conduta omissiva ou ato de conivência praticado no dia 8 de janeiro de 2023”.
“Pelo contrário, apesar de estar no gozo de uma dispensa-recompensa, o coronel foi convocado para se dirigir à Praça dos Três Poderes, quando o tumulto já estava em estágio bastante avançado, ocasião na qual atuou nos estritos termos legais, objetivando não só proteger e zelar o patrimônio público, como também efetuou diversas prisões de vândalos”, afirmou a defesa de Naime.
Metrópoles