“Sou diferente, sou careca, tatuada, mas sou muito pró-ativa”. É assim que Paula Pandemic, de 29 anos, começou o seu desabafo na internet, após receber diversos comentários negativos sobre sua aparência, em um grupo de vagas de emprego.
Sem trabalho fixo há uns meses e ciente de que sua dificuldade em conseguir uma oportunidade tinha muito a ver com sua aparência, ela escreveu um longo texto contando brevemente sua história, mostrando para as pessoas daquele mesmo grupo, que sua aparência não interferia em nada o seu desempenho profissional e que ela só estava ali para conseguir um trabalho digno como todos os outros membros.
“Tenho experiência como operadora de caixa, banhista em pet shop, recepcionista. Sei que existem lugares que não se importam com a aparência e sim com o desempenho profissional. Quem estiver precisando de uma pessoa para trabalhar e que seja séria e comprometida, por favor, entrem em contato comigo”, declarou ela.
Para a reportagem do Jornal Midiamax, Paula contou que em menos de 15 dias chegou a fazer 20 entrevistas de emprego, no entanto, as respostas que recebia dos contratantes eram sempre as mesmas: que ela não tinha o perfil da vaga.
“Hoje estou fazendo diárias em um hotel como camareira e estou feliz porque minha patroa reconhece meu trabalho e está satisfeita comigo”, conta. “Mas antes disso, fui em várias entrevistas e, querendo ou não, sei que não me aceitaram por causa da minha aparência. Eu ia nos processos seletivos, entravam 20 pessoas na sala com roupas e estilos ‘socialmente normais’ e eu já sabia que não conseguiria a vaga”, explica Paula.
Ela, que faz questão de chamar a atenção das pessoas para este assunto, na tentativa de sensibilizar aqueles que problematizam sua forma de se expressar ao mundo, lamenta o fato de “acharem que todas as pessoas tatuadas são marginais, que não gostam de trabalhar ou que não querem nada sério na vida”.
Paula lamenta a dificuldade de conseguir emprego. (Arquivo Pessoal)
‘A vida nos prega peças e surpresas’
Ainda em sua publicação nas redes sociais, Paula compartilhou que sempre trabalhou em negócios da família. Antes da pandemia, ela e seus pais gerenciavam uma loja que vendia aquários e peixes em um shopping da cidade. No entanto, lamentavelmente sua mãe faleceu e com isso, toda a família se desestruturou, resultando no fechamento do comércio.
“Na pandemia minha mãe faleceu, o nosso pilar, o esteio da nossa casa. Meu pai e ela eram casados há 34 anos e trabalharam na mesma área por 34 anos. Ele ficou muito mal e acabou falindo e com isso, ‘nós’ falimos”, lamenta Paula.
“Como eu sempre trabalhei com ‘negócios de família’, nunca me preocupei com tatuagens. E nunca imaginei que minha mãe iria morrer e que meu pai iria fechar tudo. A vida nos prega peças e surpresas”, continua ela na publicação.
Depois que a empresa da família fechou, Paula chegou a conseguir um emprego em um supermercado. No entanto, ela é responsável por cuidar de seu tio-avô, que tem Alzheimer, síndrome do pôr-do-sol e esquizofrenia. Por isso, é indispensável que a noite ela esteja em casa para cuidar de seu familiar. Assim, após seis meses, ela precisou sair do supermercado. Desde então, não conseguiu um novo emprego fixo em horário comercial, como desejava.
Paula e seus ‘avós’. (Reprodução, Arquivo Pessoal)
Comunicativa como é, Paula confidencializou que adora atendimento ao público. Além de gostar de conversar e conhecer novas pessoas, esta é também uma forma de quebrar os paradigmas que muitos têm, ao estereotipar ela apenas pelo estilo de se vestir e de se expressar.
“Eu sei que não é todo mundo que gosta, mas eu adoro atendimento ao público. Às vezes as pessoas ficam meio assim [receosas] de chegar em mim, mas aí eu vou conversando e logo a pessoa vai se soltando. É assim até com as pessoas de mais idade”, afirma.
E este foi um ponto que Paula fez questão de destacar em seu desabafo feito nas redes sociais. “Quem me conheceu como empresária sabe como eu sempre atendi meus clientes bem e como sou carismática. Mas Deus há de me abençoar porque eu sei o coração bom que tenho, e sei que existem pessoas como eu de coração bom”.
“Mas Deus abençoe pelos comentários, isso me dá mais forças para mostrar ao mundo que existem exceções e quebrar esse tabu”, finalizou ela, fazendo menção aos diversos comentários negativos que leu devido à sua aparência.
Veja a publicação de Paula:
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