O ex-policial militar do Distrito Federal Rosenberg Freitas Silva foi preso pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), junto com a sua esposa Shirleny Silva Rego, suspeito de participar de uma organização criminosa especializada em dar golpes em seguradoras de veículos. O prejuízo causado às empresas pode superar a cifra de R$ 2 milhões.
O homem é apontado como um dos cabeças da organização criminosa. Os veículos em nome do ex-militar chamam a atenção pelos altos valores.
A coluna apurou que Rosemberg é dono de duas Porsches Cayenne, uma moto BMW R1250 e outra Honda PCX, além de três carros de menor valor, como um Honda Fit e um Hyundai HB20.
Segundo a investigação conduzida pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), Rosenberg Freitas Silva é ex-policial militar licenciado da PMDF. Na condição de soldado da PMDF não estável, foi licenciado após regular Processo Administrativo Disciplinar em razão da emissão de 150 cheques sem fundos.
Em 2006, o investigado foi preso em flagrante por estelionato contra uma unidade das Lojas Americanas em Taguatinga. À época, logo após a aquisição de celulares, com cartão de crédito, Silva apoderou-se sorrateiramente da máquina de cartão da empresa e cancelou a compra. Flagrado pelos vigilantes, brigou com eles e fugiu, mas acabou preso pela PMDF.
Também em 2006, o ex-PM foi investigado por falsidade ideológica e uso de documento falso. O investigado apresentou uma certidão falsa em processo de habilitação para aquisição de imóvel junto à Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo.
Golpe
Nas primeiras horas desta segunda-feira (18/9), a PCDF desencadeou megaoperação para desmantelar organização criminosa especializada em simular acidentes de trânsito e destruir carros de luxo para receber altos valores de indenização pagos por seguradoras.
A ação, coordenada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), cumpriu seis mandados de prisão temporária, além do sequestro de 20 veículos e o bloqueio de R$ 2 milhões das contas dos investigados.
Estruturado, o grupo criminoso era formado por um empresário, uma advogada, um ex-policial militar do DF, a mulher do PM e outros dois integrantes. O bando, de acordo com as investigações, faturou pelo menos R$ 2 milhões forjando acidentes violentos com perda total dos veículos para embolsar o dinheiro do seguro.
Atuando desde 2015, a organização criminosa simulou 12 acidentes e destruiu 25 veículos de luxo de montadoras como Porsche, Audi, BMW, Mercedes e Volvo.
Os cabeças do esquema torravam o valor das apólices em viagens internacionais para os destinos mais caros do mundo, tanto na Europa quanto na Ásia e no Oriente Médio. Parte da grana era reinvestida pelos “playboys da batida” na compra de outros carros, que, novamente, seriam destruídos em colisões frontais que impossibilitassem o conserto dos veículos. Os acidentes forjados ocorreram nas cidades de Brazlândia, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Vicente Pires e Brasília.
Fábrica de acidentes
A organização criminosa tinha um modus operandi definido no momento de comprar um determinado carro, circular com ele por alguns meses e depois planejar a colisão. As batidas sempre ocorriam em locais ermos e escuros, para dificultar a presença de testemunhas. Os integrantes do esquema adquiriam veículos importados de certo tempo de uso e de difícil comercialização, alguns ainda avariados.
Os investigadores descobriram que os veículos eram consertados e, logo depois, os criminosos contratavam seguros, sempre com valor de indenização correspondente a 100% da tabela Fipe, muito superior ao valor de aquisição e conserto dos carros. Para driblar o mercado segurador e dificultar a descoberta de vínculos criminosos, o bando se revezava na condição de proprietário, contratante do seguro, condutor, terceiro envolvido no acidente e recebedor da indenização, às vezes via procuração.
Da mesma forma, para dificultar a apuração policial, os membros da organização criminosa registravam as ocorrências dos acidentes por meio da Delegacia Eletrônica, afastando questionamentos da polícia judiciária sobre as circunstâncias dos supostos acidentes. Em seguida, o bando dava entrada no processo para o recebimento da indenização do seguro, sempre com base na tabela Fipe.
Viagens e curtição
A Polícia Civil não confirmou a identidade dos seis alvos da operação. No entanto, a coluna descobriu quem são os líderes da organização criminosa. Um dos chefes do esquema é o empresário Glauber Henrique Lucas de Oliveira. Nas redes sociais, ele coleciona uma rotina de viagens internacionais que retrata o lucro amealhado com os acidentes forjados.
O empresário e a mulher dele — a advogada também presa na operação — costumam viajar para capitais europeias, como Roma, Paris e Madri. Estadias em belas estações de esqui pelo mundo ou em resorts paradisíacos à beira-mar também costumam figurar no roteiro dos criminosos. A ostentação é exposta em fotos e vídeos no Instagram.
“Esta é quinta operação da PCDF contra fraudes no recebimento de indenização de seguro de veículos. A cada ação, há diminuição de simulações de acidente em Brasília, o que reduz o risco das seguradoras e, consequentemente, o preço do seguro do brasiliense”, disse o delegado-chefe da 18ª DP, Fernando Cocito.
Esposas comparsas
As companheiras de Glauber e Rosemberg também foram alvo de mandados de prisão temporária e de busca e apreensão. As duas mulheres, entre elas uma advogada, cediam os dados pessoais para o registro dos acidentes forjados, adquiriam veículos, contratavam apólices de seguro e recebiam indenizações.
Os mandados de prisão e de busca e apreensão foram expedidos pelo juiz titular da Vara Criminal e Tribunal do Júri de Brazlândia. Todos os investigados foram indiciados pelo crime de pertencimento a organização criminosa, que prevê pena de reclusão de 3 a 8 anos.
Esta é quinta operação da PCDF contra fraudes no recebimento de indenização de seguro de veículos. As anteriores ocorreram nos anos de 2011 (Operação BR Segura, da 18ª DP de Brazlândia); 2013 (Operação Perda Total, da extinta Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco), atualmente Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor); e 2020 (Operação Total Loss e Navio Fantasma, ambas da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri).
Metrópoles