O deputado Lindbergh Farias (RJ), um dos vice-líderes do PT na Câmara, denunciou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à Comissão de Ética da Presidência da República nesta quinta-feira (28). O parlamentar pede que o órgão investigue se o chefe do BC mantém recursos em fundos exclusivos remunerados pela Selic, a taxa básica de juros da economia, cujo nível é definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
O petista argumenta que Campos Neto foi “evasivo” quando questionado, durante audiência pública na Câmara nesta quarta (27), se possui investimentos em fundos exclusivos.
– A Comissão precisa investigar eventual conflito de interesses na atuação do presidente do Banco Central – afirma Lindbergh.
Na Comissão de Finanças e Tributação, o chefe do BC se disse favorável à taxação dos fundos exclusivos, medida que faz parte do pacote do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aumentar a arrecadação e zerar o déficit das contas públicas ano que vem.
A denúncia do deputado do PT contra Campos Neto ocorre um dia após o chefe do BC se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro costurado por Haddad para melhorar a relação entre o governo e a autoridade monetária. O ministro definiu a agenda como algo institucional, de “construção de relação”.
– Excelente [reunião], de trabalho, muito produtiva, cordial. Lula recebeu bem. A conversa transcorreu muito bem – disse Haddad.
A relação entre Campos Neto e Lula tem sido conturbada. Desde que assumiu a presidência da República, o petista se referiu ao chefe do BC diversas vezes como “esse cidadão” e chegou, no começo do ano, a questionar a própria autonomia da autoridade monetária, aprovada pelo Congresso em 2021.
Em fevereiro, Lindbergh coordenou na Câmara o lançamento de uma frente parlamentar “contra os juros abusivos”. O evento de lançamento, que ocorreu no dia 14 daquele mês, contou com a participação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, outra crítica ferrenha de Campos Neto. Na ocasião, ela disse que a autonomia não dava direito ao BC de ser “irresponsável” com a economia.
O Copom cortou a taxa Selic de 13,75% para 13,25% ao ano em agosto, o que reduziu a tensão entre o governo e Campos Neto, que foi voto decisivo para o corte de 0,5 ponto porcentual – alguns diretores votaram por um ajuste menor. Neste mês, a autoridade monetária voltou a reduzir os juros básicos, desta vez para 12,75% ao ano.
*AE