Em editorial publicado nesta quarta-feira, 27, o jornal O Estado de São Paulo criticou a conduta da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, pelo episódio do último domingo, 24.
A ministra usou jato da Força Aérea Brasileira (FAB) para comparecer à final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo, no estádio do Morumbi.
O objetivo oficial da viagem era assinar um protocolo de ações entre o governo federal e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para combater o racismo no esporte.
No entanto, em publicações nas redes sociais, a ministra e suas assessoras adotaram uma conduta descontraída, incompatível com sua função.
O Estadão ironiza que “Depois de tão penosa missão, e como afinal ninguém é de ferro, a ministra, flamenguista declarada, aproveitou para torcer confortavelmente para seu time do coração a expensas dos contribuintes.”
De acordo com o editorial, é lamentável constatar, a partir destes acontecimentos, que faltam à ministra bom senso, responsabilidade e humildade.
A falta de bom senso
Para o jornal, Anielle pecou pela falta de bom senso ao requisitar um jato da FAB para se deslocar entre Brasília e a capital paulista.
A escolha é contraposta a de seus colegas Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, e André Fufuca, ministro dos Esportes.
Almeida recorreu a um voo comercial para estar presente no mesmo evento. Já André Fufuca precisou utilizar o avião da FAB por contingências incontornáveis.
O seu voo comercial atrasou e não havia opção que garantisse sua chegada a tempo para assinar o protocolo com a CBF.
A irresponsabilidade
A irresponsabilidade fica patente por Anielle ter agido como torcedora, não como membro do primeiro escalão do governo federal em viagem de trabalho.
O mau exemplo, segundo o Estadão, estimulou suas assessoras a se comportarem como “brucutus das torcidas organizadas, inclusive fazendo gestos obscenos para a torcida adversária.”
Anielle viajou acompanhada de Marcelle Decothé e Luna Costa, respectivamente chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos da pasta e assessora especial de comunicação estratégica.
Decothé publicou um vídeo em que insulta a torcida do São Paulo, chamando-a de “branca, que não canta, descendente de europeu safade (sic)”.
“Diante dessa atitude indefensável, a exoneração, ocorrida no final da tarde de ontem, era a medida justa e necessária. Ganha o serviço público.”
A falta de humildade
Ao ser questionada pela conduta inapropriada, Anielle rebateu que precisou abrir mão de estar com suas filhas para cumprir com agenda oficial.
” A sra. Anielle Franco ainda teve a audácia de recorrer à maternidade, um ponto sagrado para a sociedade brasileira, para justificar seu erro.”
O jornal prossegue: “Jogou na mesa a carta da mulher que abre mão de tudo, inclusive da família, para trabalhar pela “causa” em pleno domingo. É muita desfaçatez.”
Para Estadão, ao se aborrecer, ministra mostrou despreparo para lidar com escrutínio público.
No final do documento, o periódico afirma que se a ministra não está preparada para que sua agenda pública seja escrutinada pelos cidadãos, deve colocar seu cargo à disposição do presidente Lula da Silva.
E conclui:
“se a ministra é tão ciosa da missão de combater o racismo, a misoginia e a violência de gênero, de resto uma pauta incontornável para qualquer país civilizado, não deveria desmoralizá-la, servindo-se dela como espécie de manto moral para encobrir seus deslizes.”
A íntegra do editorial está disponível no site do Estadão.