O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), armazena na nuvem de seu celular o depoimento do delegado da Polícia Federal que apurou um ataque hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2018.
O delegado Victor Neves Feitosa Campos prestou depoimento à PF em agosto de 2021 depois de ter sido afastado do inquérito por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O conteúdo armazenado na nuvem do celular de Cid (sistema de armazenamento remoto), obtido pelo Metrópoles, mostra a íntegra do depoimento de Victor com alguns trechos grifados.
A decisão de Moraes que afastou o delegado ocorreu no âmbito de um outro inquérito aberto para apurar o vazamento, pelo ex-presidente da República, de documentos sigilosos da investigação que era na época tocada por Victor Neves. Este inquérito que tramita no Supremo, no qual o delegado também é investigado, não está sob sigilo.
A divulgação da investigação da PF sobre um ataque ao TSE foi feita por Bolsonaro, ao lado do deputado federal Filipe Barros (PL-PR), em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais, em agosto de 2021. Na época, os documentos estavam hospedados, inclusive, em um site do irmão de Cid, Daniel Cid.
No depoimento feito em 2021, e até hoje armazenado por Cid, o delegado afirmou que concedeu acesso ao inquérito a Filipe Barros, após pedido formal do parlamentar, que alegou que era relator de uma proposta sobre voto impresso em uma comissão na Câmara. Segundo o delegado, o inquérito não estava sob sigilo.
No ano passado, sindicância da PF apontou que o documento não estava sob sigilo judicial, ainda que pesasse um sigilo interno que há sobre toda apuração em andamento, e afirmou que o delegado não cometeu irregularidades. No caso de Bolsonaro, a PF apontou que o então presidente cometeu crime de vazamento de informações por ter dado publicidade a um inquérito que ainda estava em curso.
Em um dos trechos do depoimento de Victor Neves grifados por Cid, o delegado afirma que o inquérito não estava sob sigilo. O segundo trecho marcado pelo militar é o que o delegado diz que não foi possível realizar no TSE a perícia da PF na época dos fatos e que o tribunal não havia encaminhado à polícia registros referentes ao incidente para elaboração de laudo.
No depoimento, o delegado também afirmou que não identificou, durante a investigação, nenhum elemento que apontasse para manipulação de votos ou fraude em qualquer eleição.
Em julho, a coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, mostrou que Cid foi o intermediário entre o deputado Filipe Barros e Bolsonaro para a entrega do inquérito da PF.
Metrópoles