Após o ex-ministro Guido Mantega desistir de concorrer à presidência da Vale, as ações da empresa ganharam impulso, registrando um aumento de 1,99% por volta das 14h, atingindo R$ 69,75.
No dia anterior, os papéis haviam caído 2,2% devido a questões políticas, iniciando o dia em baixa a R$ 67,91. Contudo, durante a primeira hora de negociação, as ações mudaram para território positivo, atingindo o pico de ganhos no início da tarde, logo após a divulgação da notícia sobre a reviravolta do governo em relação à nomeação do aliado para a presidência da Vale.
Ao longo do ano, a empresa enfrentou um processo tumultuado de debate sobre a escolha do seu líder. O prolongamento do mandato do atual CEO, Eduardo Bartolomeo, por mais um ano não era bem visto pelo mercado financeiro, que acreditava que ele não promoveria mudanças benéficas para o aumento da produção de minério de ferro e, por conseguinte, dos dividendos aos acionistas.
A sugestão de Mantega, que estava sendo articulada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, também não era bem recebida devido à percepção de interferência política em uma empresa privada. Além disso, analistas consideravam que Mantega não apoiaria a redução de funcionários para cortar custos, nem a expansão de licenças para exploração. O nome de Luiz Henrique Guimarães, ex-CEO da Cosan, era o mais favorável aos olhos dos investidores.
Somado a isso, os papéis da companhia foram penalizados por repercussões quanto aos acidentes com barreiras em Minas Gerais. Ontem, Lula fez uma postagem nas redes sociais afirmando que Vale “nada fez” para reparar os danos causados a famílias e ao meio ambiente após a tragédia de Brumadinho.
Lula desiste de emplacar Mantega como CEO da Vale
Desde o início do atual mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, conversas de bastidores apontam que o presidente gostaria de emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência da Vale. Nas duas últimas semanas, o Planalto voltou à carga com a ideia, mas a influência do governo na mineradora diminuiu em relação ao que era nos governos anteriores do PT.
A principal mudança na correlação de forças na Vale se deu no fim de 2020. A empresa, uma das maiores mineradoras do mundo, passou por uma reestruturação societária e se tornou uma corporação (corporation, como preferem os analistas de mercado), ou seja, uma companhia aberta de capital pulverizado, sem um controlador definido. Nenhum dos sócios tem poder suficiente para, sozinho, dar as cartas na mineradora, privatizada em 1997.
Essa reestruturação encerrou o acordo de acionistas que deu as cartas na companhia por pouco mais de 20 anos, após sua privatização.
Esse acordo acomodava os interesses dos sócios privados, o banco Bradesco e o conglomerado japonês Mitsui, com os do governo – que manteve participações relevantes via BNDES e fundos de pensão de estatais, com destaque para a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil (BB), e mantém, até hoje, ações especiais com direito de veto em decisões sensíveis, como a venda de minas.
Representado principalmente pelo BNDES e pela Previ no acordo de acionistas, o governo conseguia influir mais diretamente na gestão de Vale, até mesmo na escolha do presidente da empresa, como ocorreu em 2011, quando Roger Agnelli deixou o cargo por pressão do governo Dilma.
Foi substituído por Murilo Ferreira, cujo nome voltou a correr nos bastidores como uma alternativa a Mantega palatável para o governo.
Após o término do acordo entre acionistas e a realização da operação de troca de ações que dispersou o capital, houve significativas alterações na distribuição de influências na Vale. Nos últimos anos, o BNDES liquidou sua participação, e a Previ reduziu sua parcela. A influência direta do governo sobre a Vale diminuiu.
A Previ permanece como principal acionista da empresa, mas com uma participação direta de 8,7%. Essa porcentagem de votos está longe de ser suficiente para eleger um grande número de membros no Conselho de Administração ou para aprovar a escolha de presidentes executivos durante uma assembleia de acionistas.
É aguardado que Mantega divulgue ainda hoje uma carta formalizando sua decisão de não ocupar um cargo na empresa.
Folha de SP