Para começo de conversa, este texto aqui não tem nada a ver com o que eu penso sobre a política atual, mas sim uma análise sobre como a classe artística está clara e nitidamente dividida. Mas sabe o que é pior: eu sinto que o atual momento político foi o que mais dividiu a classe artística brasileira comparado a eleições anteriores.
E mais: o sentimento que eles passam é que a divisão é entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, o vilão e o mocinho. Será que eles esqueceram do nosso passado? Será que eles não aprenderam que pensar diferente não é motivo algum para você odiar uma pessoa? Ou que a arte que eles produzem nada tem a ver com a opinião política deles? E isso não é razão para a propagação de um ódio entre uma classe tida como mais “letrada”, mais carismática, de fato, e com um enorme poder nas mãos.
Como é triste ver os irmãos Gagliasso se ofendendo publicamente por conta de dois políticos que não merecem desunir uma família dessa maneira. Eu penso na mãe desses rapazes. Que motivo banal, o tempo passa e eles só se afastam por terem opiniões políticas diferentes.
Dia desses, eu estava no palco do show de Zé Neto e Cristiano em Brasília. No mesmo espaço estava Eduardo Bolsonaro. Já o conhecia antes de seu pai chegar à presidência. Papo leve, divertido, basicamente sobre a música da dupla. Mas naquele dia o que mais me chamou atenção foi a maturidade de Paula Vaccari, mulher de Cristiano, que estava ao nosso lado. Foram essas as palavras dela: “Leo, se alguém do Lula, ou ele mesmo, quiser vir ver o show deles no palco será muito bem recebido. Aqui todos são e sempre serão muito bem tratados”.
Por que o pop e o sertanejo estão tão divididos por conta de política? A música nada tem a ver com suas ideologias partidárias. É nítido que a TV Globo não convida mais os grandes artistas sertanejos por eles terem a imagem associada a Bolsonaro: desde Gusttavo Lima a Henrique e Juliano, nem Fernando e Sorocaba. Dia desses, a dupla George Henrique & Rodrigo foi desconvidada de ir ao Caldeirão do Mion após um dos cantores postar um vídeo atirando, sendo que ele tem porte de arma e cumpria todas as exigências para a prática do esporte. A Globo “deduziu” que aquilo era atitude de um bolsonarista.
Da mesma maneira é deprimente ver comentaristas de emissoras de direita, como a Jovem Pan, usando palavras extremamente depreciativas ao se referir a grandes artistas brasileiros que se posicionam contra o atual presidente, como Fernanda Montenegro e Xuxa, entre tantos, só por eles serem de esquerda. Ignorando toda a obra e história da pessoa.
Mas olha, eu já vi tanto artista quebrar a cara por subir em palanque para defender alguém e que, pouco tempo depois, virou motivo de chacota e vergonha. E quando será que eles vão aprender ? E, por favor, não me venham falar da Lei Rouanet e nem do cachê de prefeituras, por que, até que prove o contrário, tá tudo dentro da lei. Lei essa que os nossos representantes no Congresso votaram. Enfim…
Esse texto não é favorável à isenção. Jamais! Artistas devem se manifestar politicamente, mas isso não pode ser motivo para que eles sofram retaliações. Tudo tem limite. Artistas deveriam ser os primeiros a respeitar as diferenças. E não é isso que se vê na hora de assinatura de contratos, de formar sua “panelinha” da próxima novela ou convidar pro seu programa de TV. Entretenimento pode sim fazer pensar, levantar bandeiras, mas isso não pode estar associado ao ódio que se vê por aí. Triste momento da arte brasileira.
FONTE: METRÓPOLES