Para quem gosta de um ambiente bem limpo, é satisfatório sentir o cheiro de desinfetantes em casa. Entretanto, o uso excessivo deste tipo de produto pode gerar sérios riscos à saúde e contribuir até para a formação de superbactérias.
Todo mundo conhece alguém (ou até é essa pessoa) que ama misturar produtos de limpeza de cheiro e ação intensos, como água sanitária, desinfetantes, vinagre e álcool, no momento de fazer a limpeza. Estas combinações, entretanto, podem ser prejudiciais tanto imediatamente como no futuro: no curto prazo, podem levar a irritações da pele, das mucosas e a intoxicações; com o tempo, podem até favorecer o desenvolvimento de bactérias resistentes que são prejudiciais à saúde.
“Essas misturas loucas que fazemos de produtos de limpeza podem ser perigosas. Muitas pessoas acabam ficando intoxicadas por causa dos reagentes químicos”, explica o biomédico Roberto Martins Figueiredo, mais conhecido como Dr. Bactéria. “Além disso, não precisamos desinfetar nossas casas, não vivemos em um hospital. O ideal é limpar o ambiente sem pensar em torná-lo asséptico”, completa.
Superbactérias filhas de desinfetantes
Um estudo publicado em agosto de 2023 na revista Nature Microbiology por investigadores australianos mostrou que o uso generalizado de desinfetantes pode contribuir para o surgimento e propagação de bactérias multirresistentes.
Os pesquisadores testaram a ação de dez desifetantes diluídos em água, como geralmente são usados para a limpeza residencial, e sua relação com a superbactéria Acinetobacter baumannii, frequente causadora de infecções hospitalares.
A exposição da A. baumannii aos desinfetantes fez com que ela perdesse sua capa protetora em sete casos, mas a vulnerabilidade não foi o suficiente para matá-la. As bactérias conseguem recompor a barreira e se tornam mais resistentes a antibióticos que utilizam o mesmo mecanismo. Como diz o ditado, os produtos não mataram e ainda as fizeram ficar mais fortes.
“Os produtos de limpeza podem promover a tolerância de A. baumannii a antibióticos que atuam intracelularmente, com ação semelhante à dos desinfetantes”, concluem os pesquisadores. “Deveríamos usar estes produtos com mais sabedoria”, indicam.
Como fazer a limpeza correta?
O Dr. Bactéria recomenda que não se use água sanitária na limpeza do chão. “O ideal é fazer uma mistura de água, bicarbonato e detergente. Só isso já é o bastante para limpar a maioria das superfícies sem manchar ou corroer. Só é necessário desinfetar os panos de pia, roupas usadas em hospitais ou o banheiro quando alguém está com uma virose, ou seja, quando temos que combater agentes que podem ser de fato contaminantes. Nesses casos, o ideal é usar os desinfetantes puros”, afirma.
O biomédico alerta que é importante comprar desinfetantes de marcas conhecidas e recusar as misturas caseiras que não têm composição conhecida: “Bactéria não sente cheiro de lavanda ou de jasmin. O que importa é a ação do produto”, sentencia.
Metrópoles