A dinâmica do ambiente econômico e geopolítico afetou o interesse de diretores executivos pelo mundo em crescer no exterior e impactou o Brasil, que, pela primeira vez em uma década, não figura entre os dez países ou territórios que os líderes globais consideram estratégicos para o crescimento de suas organizações em 2024. É o que revela a 27ª Pesquisa Global com CEOs (Global CEO Survey), organizada pela consultoria e auditoria PwC e apresentada nesta segunda-feira, 15, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. As informações são do site Valor Econômico.
Em um único ano, o Brasil recuou quatro posições no ranking de fontes estratégicas de crescimento para os CEOs globais, para a 14ª colocação. Em 2014, estava na quarta posição. Foram entrevistados mais de 4.700 líderes empresariais em 105 territórios e países, incluindo o Brasil, entre outubro e novembro de 2023. Na pesquisa, os líderes empresariais indicam três países ou territórios, excluindo aqueles onde residem, que consideram os mais importantes para as perspectivas de crescimento geral da seus organizações nos próximos 12 meses.
Também registraram redução de menções entre as pesquisas para 2023 e 2024 os Estados Unidos, seguidos por China, Alemanha, Reino Unido e Índia. Para a PwC, chamam a atenção a queda de 11 pontos percentuais dos Estados Unidos — de 40% para 29% de menções, ainda encabeçando o ranking, mas bem mais próximos da China, que passou de 23% para 21% — e o aumento, também em 11 pontos, da fatia de CEOs que não citaram nenhum país como destino de crescimento.
“Hoje, 50% do mundo está em conflito ou envolvido em conflito de alguma forma. Sobram 50% onde há alguma oportunidade de investimento, mas, dentro disso, metade oferece baixos retornos. Sobram, então, alguns que têm mais a agregar e o Brasil está aí dentro”, diz, ao Valor, Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil. “Mas tem outras economias com potencial de retorno muito grande, como a Índia e a China, que têm dado sinais de vitalidade, resiliência e entrega mais consistente. Quando os executivos olham para esse cenário como um todo, o Brasil acaba ficando um pouco para trás”, afirma.
Ainda que o Brasil tenha saído da lista dos 10 países com maiores perspectivas de crescimento de mercado para os pesquisados, Castro diz acreditar no potencial do país como personagem importante na transição para uma economia verde e em áreas como produção de alimentos e transição energética, além de oportunidades nos realinhamentos de cadeias produtivas e investimentos em infraestrutura.
O interesse de líderes empresariais pelo Brasil e dos CEOs brasileiros por outros mercados revelam, segundo a PwC, uma tendência de redução da relevância dos EUA e da China e a ampliação de laços entre países latinos, bem como uma aproximação com a Índia. Os EUA e a China continuam liderando o ranking de mercados mais importantes para CEOs no Brasil, mas as menções caíram de 49% para 44% no caso dos americanos e de 32% para 24% para os asiáticos. Por outro lado, subiram as menções dos diretores executivos no Brasil a mercados no México, Argentina, Colômbia e Chile, além da Índia.
Entre as pesquisas para 2023 e 2024, o Brasil como mercado relevante ganhou mais menções dos CEOs no Uruguai, Argentina, Chile e Venezuela, mas perdeu entre líderes empresariais de Portugal e Espanha.
A pesquisa mostra também que a proporção de CEOs otimistas com o crescimento global, apostando em aceleração nos próximos 12 meses, dobrou de 18% na edição anterior para 38%, movimento semelhante ao de diretores brasileiros (17% para 36%). Assim, a expectativa de desaceleração da atividade mundial caiu drasticamente entre as pesquisas — de 73% para 39% entre os respondentes do Brasil e de 73% para 45% no mundo —, mas ainda supera a fatia dos que preveem aceleração.
Os diretos executivos brasileiros confiam mais nas perspectivas da economia do país do que nas globais. Quando questionados sobre o crescimento de seu próprio país, 55% dos brasileiros enxergam tendência de aceleração para os próximos 12 meses — a média global é de 44%. Apenas líderes empresariais na Índia e na China estão mais otimistas em relação aos seus próprios países do que os brasileiros, com 86% e 59%, respectivamente, apostando em aceleração do seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2024.
“Ainda estamos vivendo o bônus de um novo governo, que completou um primeiro ano com incertezas e indefinições, mas que também teve reformas importantes e abertura de caminhos”, diz Castro, citando como exemplo a aprovação da reforma tributária no fim do ano passado. “Agora, vai começar o detalhamento, mas não se discutem mais os conceitos e horizonte, o que traz certo conforto para as empresas e executivos.”
A exposição a ameaças de curto prazo, como instabilidade macroeconômica e inflação, diminuiu entre os respondentes globais desde o ano passado. No Brasil, inclusive, a instabilidade macroeconômica se tornou a principal fonte de preocupação, à frente da inflação, que liderava no ano passado. Globalmente, ambas as ameaças estão empatadas em primeiro lugar. No mundo, o único risco de curto prazo que aumentou entre as pesquisas foi o cibernético, mas de forma tímida. A exposição às ameaças é medida como a probabilidade de perda financeira significativa.
“A inflação sempre assombrou mais o Brasil do que outros países, que não tinham essa memória inflacionária. Agora, essa inflação se mostra controlada, as taxas de juros estão caindo, o Brasil vê esse horizonte de investimentos para as empresas”, diz Castro.
Valor Econômico