Fortalecidos após assumir ministérios no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, partidos do Centrão se movimentam para ganhar ainda mais musculatura em 2024 e avançam nas tratativas para montar uma superfederação. As negociações envolvem PP, Republicanos e União Brasil, siglas que juntas somam 151 deputados e 17 senadores. Assim, caso o acordo saia do papel, o grupo terá as maiores bancadas tanto na Câmara quanto no Senado, o que pode mudar a correlação de forças no Legislativo.
Embora o bloco de parlamentares do Centrão seja quem, há anos, dá as cartas no Congresso, individualmente os partidos que compõem o grupo informal não representam as maiores bancadas. Atualmente o União é o terceiro com mais representantes na Câmara, com 59 deputados, o PP, o quarto, com 50, enquanto o Republicanos, com 42, apenas o sétimo. As duas legendas que hoje polarizam as discussões políticas, PL e PT, estão à frente, com 95 e 68, respectivamente.
Ter a maior bancada é importante, por exemplo, para ter preferência na hora de dividir o comando de comissões. Pelas regras internas das duas casas legislativas, o maior partido — ou maior federação — pode escolher primeiro com qual quer ficar. Além disso, o bloco de legendas, uma vez unido, teria mais chances de eleger os sucessores de Arthur Lira (PP-AL), na presidência da Câmara, e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na do Senado.
Foto: Arte / O Globo.
Troca no União
As negociações para a formação da superfederação, contudo, só devem avançar a partir de março, quando haverá uma troca de comando no União Brasil. Atual vice da legenda, Antonio Rueda é o nome de acordo para suceder o deputado Luciano Bivar (PE) na presidência nacional do partido.
Bivar é apontado internamente como principal entrave até aqui para que a federação das três legendas vingasse, já que perderia o comando do partido ao se unir às outras duas legendas. Por outro lado, Rueda é um dos principais entusiastas da união das legendas e já disse a aliados que viabilizar a federação será uma de suas primeiras ações como presidente do partido.
Além de Bivar, outro fator que precisará ser solucionado são disputas regionais entre as três legendas. Em alguns estados, como Pernambuco e Paraíba, lideranças locais estão em lados opostos e será necessário conciliar o interesse de todos. A avaliação de dirigentes envolvidos nas tratativas, contudo, é que se houver consenso entre Rueda e os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do Republicanos, Marcos Pereira, a ideia sairá do papel.
Pela vontade do próximo presidente do União Brasil, a federação seria colocada em prática já a tempo de ser aplicada nas eleições municipais de 2024. Apesar disso, outros integrantes da cúpula do partido, também interessados na federação, pregam cautela e dizem que é preciso analisar como estará o cenário político a partir do momento que o União Brasil trocará a direção.
Do lado do PP, Ciro Nogueira é quem encabeça as negociações. Ao GLOBO, ele se mostrou otimista com a possibilidade de um acordo em breve.
— Tem grande chance (de a federação ser formada). Deve acontecer — afirmou ele.
No fim de 2022, Nogueira chegou a discutir uma fusão do PP com o União Brasil, mas as tratativas esbarraram justamente em Bivar, que na época buscava apoio do PT para disputar a presidência da Câmara contra Lira, no início deste ano, o que acabou não ocorrendo. Nesse novo cenário, a ideia passou a ser formar a federação e incluir também o Republicanos, o que daria mais robustez ao grupo. Nogueira tratou do assunto há alguns meses com Marcos Pereira, que se mostrou aberto a negociar.
Mas a disputa pela presidência da Câmara pode novamente representar empecilho para o acordo. Pereira e o líder do União, Elmar Nascimento (BA), se movimentam para conquistar a cadeira de Lira em 2025. Uma federação das duas siglas vai requerer que eles entrem em acordo para uma candidatura única.
Sucessão de Lira
Dentro do União Brasil há uma cobrança por uma ala da legenda de que o partido deixe claro suas diferenças com Lula. Apesar disso, a expectativa é que a mudança no comando do partido não represente uma guinada para a oposição. A cúpula da legenda tem interesse em que o Planalto não inviabilize Elmar como candidato a presidente da Câmara e também não prejudique a tentativa de Davi Alcolumbre (União-AP) de voltar ao comando do Senado. Depois de fevereiro de 2025, com a cúpula do Congresso renovada e com a proximidade da eleição presidencial, a tendência é que o partido se afaste de Lula e faça parte da construção de uma alternativa presidencial de direita em 2026.
Implementadas em 2022, as federações substituíram as antigas coligações. Acabaram sendo uma resposta à cláusula de barreira, que pune com falta de tempo de propaganda e fundo partidário as legendas que não elegeram um número mínimo de deputados federais. Pelo modelo, as siglas precisam atuar como se fossem uma única sigla por no mínimo quatro anos. A união entre os partidos permite que os resultados obtidos na eleição para a Câmara sejam contados em conjunto.
A federação entre União Brasil, PP e Republicanos, por sua vez, não seria visando imediatamente uma sobrevivência dos partidos, mas sim como uma forma de aglutinar legendas de perfis similares. A união entre os três partidos fortaleceria o poder de negociação por espaços no governo e no Congresso. As três legendas, juntas, já indicaram o comando de cinco ministérios de Lula, mas ao mesmo tempo também não têm se furtado a agir contra o Executivo em algumas votações, além de abrigarem nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
AS POSIÇÕES DE CADA UM
- PP: Caciques do Progressistas, como o presidente Ciro Nogueira, veem grandes chances da federação avançar no próximo ano
- União Brasil: Sucessor de Luciano Bivar, Antonio Rueda tem interesse em colocar em prática a ‘superfederação’ já em 2024
- Republicanos: O partido tem evitado falar publicamente sobre a composição com os outros dois partidos, mas dirigentes têm participado de reuniões para discutir assunto
PRÓS E ENTRAVES
- A união entre as três legendas fortaleceria o poder de negociação por espaços no governo e no Congresso
- Ao passar a ser a maior bancada teria preferência no momento de dividir o comando de comissões
- União Brasil e Republicanos têm nomes cotados para a sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara, o que demandaria acordo entre as siglas
- Os três partidos também precisariam pacificar conflitos regionais às vésperas de eleições municipais em 2024
Fonte: O Globo.