A astronomia carrega o fardo de uma antiga pergunta existencial e ainda sem respostas: há vida fora da Terra? um dos principais fatores para procurar seres como os que se conhece por aqui é encontrar água, mas há uma dificuldade técnica em avaliar a presença desse elemento em exoplanetas, elementos celestes cada vez mais comuns. Agora, uma união entre diversos centros de pesquisa encontrou uma possível solução para isso – o gás carbônico.
De acordo com o artigo publicado nesta quinta-feira, 28, no periódico científico especializado Nature Astronomy, identificar planetas com um quantidade menor de dióxido de carbono em relação aos corpos celestes vizinhos pode ser uma maneira de detectar água indiretamente. “A vida na Terra é responsável por 20% do total de CO2 capturado, todo o restante é absorvido, principalmente, pelos oceanos”, afirma a professora de ciências planetárias do Massachusetts Institute of Technology e uma das líderes do estudo, Julien de Wit, em comunicado. “Em outro planeta, esse número pode ser muito maior.”
E a vida?
Além do gás carbônico os autores sugerem que pesquisas futuras também levem em consideração a presença de ozônio. Além da água, a ocorrência de vida também pode ser uma das responsável pela redução do dióxido de carbono. O ozônio, por outro lado, é formado por três átomos de oxigênio e está intimamente relacionada a presença de seres vivos, como as plantas, visto que elas produzem esse elemento como parte da fotossíntese.
Essa técnica pode revolucionar essa área de pesquisa, porque os equipamentos existentes hoje não são capazes de detectar água liquida em outros planetas e tampouco são eficientes em dizer se há seres vivos de forma confiável. A tecnologia atual, no entanto, permite que elementos como CO2 e O3 sejam facilmente analisados porque eles são gazes do efeito estufa e, por isso, interagem de maneira muito bem compreendida com o infravermelho – uma das ferramentas disponíveis para estudar corpos celestes distantes.
Que outros benefícios podem vir dessas investigações?
Através do estudo da vida e da presença desses elementos em outros planetas, é possível prever o que vai acontecer conosco, aqui na Terra. “Ao examinar os níveis de CO2 nas atmosferas de outros planetas, podemos medir empiricamente a habitabilidade e compará-la às nossas expectativas teóricas”, explica o professor de estudo de exoplanetas da Universidade de Birmigham e um dos líderes do estudo, Amaury Triaud. “Isso ajuda a obter contexto para a crise climática que enfrentamos na Terra, a fim de descobrir em que ponto os níveis de carbono tornam um planeta inabitável. Vênus e a Terra, por exemplo, parecem incrivelmente semelhantes, mas há um nível muito alto de carbono na atmosfera de Vênus. Pode ter ocorrido um ponto de virada climático no passado que levou Vênus a se tornar inabitável.”
Agora, os pesquisadores precisam testar essa hipótese. Nos próximos meses, eles devem estudar exoplanetas já identificados para analisar a assinatura dos elementos descritos no novo artigo em suas atmosferas.
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