Um chinês conseguiu escapar do regime comunista com um remo e uma prancha, a bordo de um stand up paddle. Li Cheng En, nome fictício dado para preservar sua identidade, já que sua família ficou na China, conseguiu driblar a rígida patrulha armada dos guardas do governo, se escondeu das câmeras de vigilância, superou as cercas e se jogou ao mar depois de anoitecer, no ponto mais próximo da costa de Taiwan.
Segundo o jornal britânico The Guardian, a fuga ocorreu a partir da praia de Xiamen, localizada na província chinesa de Fujian. O dissidente entrou no mar à noite — a data não foi informada a fim de não colocá-lo em risco —, sendo observado por uma mãe e um bebê que estavam na praia.
Li Cheng En aproveitou a escuridão e começou a remar com a máxima força que tinha, embora tivesse a certeza de que seria capturado. “Por volta das 19h30, quando eu decidi partir, pensei que não tinha mais escolha para mim”, afirmou. Pouco antes, ele esperou a troca de turno da guarda. “Me joguei ao mar e pensei que, se quisessem me pegar, eles me pegariam”, lembra.
Como também é surfista, Li disse que estava confiante na prancha que possuía e que o mar estava calmo. Porém, era um mês de janeiro, e as águas da região costumam ficar muito geladas. Ele passou pelos sistemas de alarme chineses, mas um deles disparou. “Começou a tocar muito alto. Fiquei muito nervoso naquele momento e remei para longe daquele local o mais rápido que pude”, relata.
Horas depois de remar, Li Cheng En sentiu a terra à sua frente. Ele chegou a uma ilha de praia vazia no arquipélago de Kinmen, que pertence a Taiwan e fica a pouco mais de 5 km da China.
“Quando cheguei à praia de Kinmen, uma onda me derrubou da prancha. Mas vi as Lágrimas Azuis, era tão lindo”, afirmou, referindo-se ao fenômeno sazonal de bioluminescência que ocorre com algas na costa. “Cada onda carregava luz azul e fiquei muito feliz em vê-la”, completou.
Fuga do regime comunista
Li é um homem de meia-idade, de fala calma e que agora vive legalmente em Taiwan, embora temporariamente. Hoje, ele não pode trabalhar ou sair da área da cidade. A reportagem do The Guardian cita o diário Observer, que verificou a história do chinês por meio de documentos judiciais, rastreamento GPS de sua viagem e reportagens da mídia chinesa.
Ele estava sob investigação por “subversão do estado de poder” por defender os direitos humanos e, se fosse condenado, estaria sujeito a uma dura pena. “A sentença seria de 4 a 15 anos de cadeia; então, eu não podia mais ficar na China nem um dia sequer”, explica. Por isso, fugiu.
Li pertence a uma lista crescente de dissidentes que fogem do regime cada vez mais autoritário de Xi Jinping na China. Sob Xi, as autoridades do Partido Comunista Chinês reprimem ativistas, advogados, grupos culturais e defensores dos direitos humanos. Muitos foram presos ou estão impedidos de deixar o país.
R7