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Tecnologia com base em inteligência artificial tem aproximadamente 80% de chance de acertar a estimativa sobre os óbitos
Uma “calculadora de morte” de inteligência artificial (IA) é capaz de prever quando uma pessoa vai morrer. O estudo foi publicado na revista Nature Computational Science, na segunda-feira 18.
“Usamos a tecnologia por trás do ChatGPT para analisar vidas humanas, representando cada pessoa como a sequência de eventos que acontecem em sua vida”, explicou Sune Lehmann, autora do estudo, em entrevista ao jornal norte-americano New York Post.
No relatório, os pesquisadores apresentaram um algoritmo batizado de “life2vec”, que usa detalhes selecionados da vida de um indivíduo, como renda, profissão, residência e histórico de saúde, para determinar a expectativa de vida com quase 80% de chance de acerto.
“Usamos o fato de que, em certo sentido, as vidas humanas compartilham uma semelhança com a linguagem”, explicou Sune. “Assim como as palavras se sucedem nas frases, os eventos se sucedem na vida humana.”
Como a calculadora de IA que “prevê” foi desenvolvida
O life2vec calcula os resultados da vida de um homem ou mulher ao examinar seu passado. “Este modelo pode prever quase tudo”, disse Sune, ao mencionar que a sua equipe também usou o programa para prever a personalidade e decisões de pessoas.
“Previmos a morte, porque é algo em que as pessoas trabalham há muitos anos (por exemplo, companhias de seguros)”, acrescentou a especialista. “Então, tínhamos uma boa noção do que era possível.”
Os pesquisadores examinaram 6 milhões de dinamarqueses, que variavam em sexo e idade, entre 2008 e 2020. A equipe usou o life2vec para descobrir quais pessoas viveriam provavelmente por pelo menos quatro anos além de 1º de janeiro de 2016.
“A escala do nosso conjunto de dados nos permite construir representações em nível de sequência das trajetórias de vida humana individuais, que detalham como cada pessoa se move no tempo”, informa o relatório. “Podemos observar como a vida dos indivíduos evolui em um espaço de diversos tipos de eventos (informações sobre um ataque cardíaco se misturam com aumentos salariais ou dados sobre a mudança de uma área urbana para uma área rural).”
A equipe alimentou a IA com dados sobre cada participante do estudo, por meio de linguagem simples, como: “Em setembro de 2012, Francisco recebeu 20 mil coroas dinamarquesas como guarda em um castelo em Elsinore”, ou “durante seu terceiro ano no internato secundário, uma estudante acompanhou cinco aulas eletivas”.
Os pesquisadores, então, atribuíram diferentes tokens digitais (dispositivo de geração de senhas automáticas) a cada dado, categorizados de maneira bastante específica.
Por exemplo, uma fratura no antebraço é representada como S52; trabalhar em uma tabacaria é codificado como IND4726, a renda é representada por 100 tokens digitais diferentes; e “hemorragia pós-parto” é O72.
Com as informações fornecidas, a life2vec previu quase perfeitamente quem havia morrido até 2020 em mais de três quartos das vezes. Sune reiterou que nenhum participante do estudo recebeu suas previsões de morte.
“Isso seria muito irresponsável”, disse a especialista. Ela observou que sua equipe aguarda compartilhar eventualmente mais detalhes de seus resultados, sem que a privacidade dos envolvidos na pesquisa seja violada. “Mas ainda podemos aprender quais são os fatores que podem ajudá-lo a viver mais. Não nos aprofundamos nisso, mas essa é outra aplicação importante do modelo.”
O bot não está atualmente disponível para o público nem empresas. Caso se torne aberto para uso convencional, a especialista afirma que a IA provavelmente não será usada para informar como redigir apólices de seguro nem tomar decisões de contratação.