Foto: Wright Auction House via www.wright20.com.
Jessica Vincent entrou em junho em um movimentado brechó Goodwill no condado de Hanover, Virgínia, passando por videocassetes, luminárias e objetos de vidro comumente vendidos em grandes varejistas. Nada realmente chamou sua atenção até que ela viu um vaso de vidro furta-cor.
Depois de dar uma volta pela loja, ela voltou para o vaso em formato de garrafa com redemoinhos vermelhos e verdes. Ela notou um pequeno “M” na parte inferior que ela acreditava representar Murano, uma ilha perto de Veneza e o lar histórico de artigos de vidro italianos.
Ela tinha uma sensação de que poderia valer alguma coisa.
“Tive a sensação de que poderia ser uma peça de US$ 1 mil ou US$ 2 mil”, disse ela, acrescentando, “mas eu não tinha ideia de quão bom realmente era até que fiz um pouco mais de pesquisa”.
Não havia preço no vaso. Vincent, 43 anos, disse a si mesma que pagaria US$ 8,99 e nada mais. Quando o caixa a chamou, custava US$ 3,99.
Quando ela voltou para casa do brechó Goodwill, ela se juntou a grupos do Facebook para identificação de vidros para saber mais sobre o vaso. Alguns membros disseram a ela que parecia ter sido projetado por Carlo Scarpa, um renomado arquiteto italiano, e a encaminharam para a casa de leilões Wright Auction House.
Ela enviou fotos e quase imediatamente Richard Wright, presidente da casa de leilões, perguntou se poderia ligar. “No minuto em que vi as fotos, tive uma sensação muito boa”, disse ele.
Na quarta-feira, 13, o vaso foi leiloado por US$ 107.100 a um colecionador de arte privado não identificado na Europa. Cerca de US$ 83.500 foram para Vincent, e cerca de US$ 23.600 foram para a Wright Auction House.
Os especialistas que avaliaram a peça determinaram que ela fazia parte da série “Pennellate” que Scarpa desenhou na década de 1940. Não está claro quantos vasos desse tipo foram feitos, disse Wright.
Ele disse que ficou mais impressionado com a condição impecável do vidro.
“Se tivesse um arranhão – mesmo que fosse pequeno – provavelmente teria sido vendido por menos de US$ 10 mil”, disse ele. “Isso foi como um bilhete de loteria premiado.”
Não ficou claro como o vaso chegou à loja Goodwill. Um representante da Goodwill Industries não foi encontrado imediatamente no domingo, 17.
Especialistas da Wright Auction House inicialmente estimaram que o vaso poderia trazer entre US$ 30 mil e US$ 50 mil. Apesar do valor monetário, Vincent disse que sabia que não queria ficar com ele.
“Quando descobri como eles são raros e o valor que poderiam ter, isso me deixou meio nervosa por tê-lo, porque qualquer coisa poderia acontecer com ele”, disse ela. “Quando você tem uma peça tão cara, isso faz você pensar, ‘e se?’”
Sua mente se voltou para o vaso sendo derrubado, alguém invadindo sua casa ou o vaso sendo arruinado por um incêndio ou algum tipo de desastre natural.
“Eu sabia que queria devolvê-lo ao mundo da arte. Eles não sabiam que isso existia”, disse Vicente. “Eu sinto que eu o salvei da obscuridade.”
E, de certa forma, ele a salvou também, disse ela.
Em janeiro, Vincent, que treina cavalos de polo, comprou uma casa de fazenda construída em 1930. Ela precisa de grandes reformas e, por enquanto, está sendo aquecida com dois aquecedores. Com o dinheiro recém-adquirido, ela espera atualizar seu sistema de aquecimento, instalar uma máquina de lavar louça e adicionar cercas.
Vincent disse que ela visita brechós com a mãe desde que era menina e desenvolveu um olhar para tesouros escondidos ao longo dos anos. Vincent também disse que é uma ávida fã do “Antiques Roadshow” e adora pesquisar suas compras.
No passado, ela comprou itens por alguns dólares, como uma escultura em madeira de Bali e litografias de Burt Groedel, que ela acredita que valiam alguns milhares de dólares.
Em todos os seus anos de compras em brechós, porém, ela nunca esperou que uma descoberta mudasse sua vida, mas isso é parte da diversão, disse ela.
“Você nunca sabe o que vai encontrar”, disse Vincent. “É a emoção da caça.”
Estadão