O despachante Juliano Martins, que ficou quatro meses preso por ordem do ministro Alexandre de Moraes, afirmou que a Polícia Federal errou ao acusá-lo de estar em Brasília nos atos de 8 de janeiro. Em conversa com a coluna, o manifestante disse que se sente injustiçado por um “erro grotesco” em seu pedido de prisão.
“A PF errou. Quero acreditar que foi por causa do grande volume de inquéritos. Foi um erro grotesco. Eu recebi uma foto do 8 de janeiro no WhatsApp e repostei no meu Instagram, como várias pessoas fizeram. Como a PF me acusa de estar em Brasília? Falo sem medo porque posso provar tudo”, afirmou Juliano Martins.
“Em 8 de janeiro eu estava em São Paulo, usei meu cartão de crédito lá normalmente. Eu anexei meus extratos bancários e conversas de WhatsApp no processo. Não recebi ou mandei um Pix para protestos. Fiquei quatro meses preso. Nesse período, perdi meu pai, meu irmão e meu cunhado. Emagreci 12 quilos, tenho crises de ansiedade. Me sinto injustiçado”, completou.
Juliano Martins ficou preso de 17 de agosto a 6 de dezembro, em Joinville (SC). Agora, o despachante tem cumprido medidas cautelares em sua cidade, São Francisco do Sul (SC), que fica a 200 quilômetros de Florianópolis. Usa tornozeleira eletrônica e segue com bens e redes sociais bloqueados. Até agora, não foi denunciado pela PGR, isto é, não é réu. O processo segue em curso.
A PF enviou o pedido de prisão a Alexandre de Moraes em 7 de junho deste ano. O documento afirmou que “as investigações indicam que Juliano seria organizador de caravanas a Brasília para os atos antidemocráticos, […] tendo participado das invasões ocorridas em 8 de janeiro”.
Em seguida, acima de uma foto da invasão do Congresso no 8 de janeiro compartilhada por Juliano no Instagram, o relatório da PF disse que “postagens atribuídas a Juliano indicam a participação física nos fatídicos atos”. Por fim, a PF pediu que Moraes ordenasse prisão preventiva, busca e apreensão, quebra de sigilos fiscais e telefônicos, bem como bloqueio de bens.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) foi contra a prisão preventiva de Martins em pelo menos três ocasiões. A primeira foi em 27 de julho, quando alegou que “não há indícios” de que Juliano e outros investigados “avançaram e invadiram, com violência e grave ameaça, a sede dos Três Poderes”.
Moraes acolheu o pedido da PF em agosto e citou que “fortes indícios de materialidade e autoria dos crimes” de Juliano haviam sido “inequivocadamente demonstrados”. O ministro ordenou a prisão com base nos supostos crimes de atos terroristas, inclusive preparatórios; dano; associação criminosa; abolição violenta do Estado Democrático de Direito; e golpe de Estado.