As doenças cardíacas estão entre as principais causas de morte no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Cuidar do coração e manter exames de rotina em dia são atitudes essenciais para todas as pessoas.
As doenças cardiovasculares podem aumentar 30% em períodos mais frios durante o ano, principalmente em temperaturas abaixo de 14°C. Pessoas com idade entre 75 e 84 anos são aquelas que apresentam mais complicações no coração e são consideradas vulneráveis.
Os casos de AVC (acidente vascular cerebral) também ocorrem com 20% de frequência no inverno, e há um aumento de 5% nos casos de dissecção de aorta — deterioração da parede da artéria que se ramifica do coração e acaba se rompendo ou se deslocando.
De acordo com SIH/SUS (Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde), houve um aumento de 36,8% no número total de internados no ano de 2021 durante os meses de junho a setembro.
Entre os problemas está a miocardite, doença mais comum em criancas, mulheres grávidas e pacientes com comprometimento do sistema imunológico.
A miocardite se caracteriza pela inflamação do músculo do coração, conhecido como miocárdio, que é o responsável pelo bombeamento de sangue oxigenado para todo organismo.
Causas
A enfermidade pode ser causada por uma série de fatores agressores, porém o mais comum são as infecções virais.
Para o cardiologista e professor de cirurgia cardiovascular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Diego Gaia todo mundo está sujeito a ter miocardite: “Ela pode ser causada por uma série de vírus, por medicamentos [quimioterápicos são alguns exemplos] e por doenças reumatológicas e imunológicas, como o lúpus”.
Gaia explica ainda a ação do vírus no coração. “O vírus desencadeia uma reação imunológica no coração e inflama as células responsáveis pela contração do músculo ou por seu sistema elétrico. O coração afetado pode ter sua força diminuída com comprometimento do bombeamento de sangue. As arritmias também podem ocorrer e muitas vezes são graves.”
Ele esclarece que o processo de diminuição do bombeamento pode adicionalmente comprometer o fluxo sanguíneo para outros órgãos, o que causa insuficiência renal e hepática.
Alguns vírus são identificados como possíveis causadores, entre eles:
• Coxsackie B
• Sars-CoV-2
• HIV
• Influenza
• Herpes humano 6
• Parvovírus
Nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos, a miocardite está mais ligada ao parvovírus B19 e ao vírus de herpes humana. Já nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a doença é mais frequentemente associada à miocardite reumática, à doença de Chagas ou à aids, conforme descreve o Manual MSD. O consumo exagerado de álcool também desencadeia a doença.
Sintomas
Os pacientes podem apresentar desde nenhum sintoma até as consequências mais graves, dependendo da evolução e da situação do quadro.
Os sinais são variáveis e os mais comuns são: falência aguda, desenvolvimento irregular do coração no bombeamento de sangue para os demais órgãos, dor no peito, cansaço, febre, falta de ar, arritmias e palpitações, dor de cabeça, inchaço nas pernas e morte súbita.
A miocardite pode ser aguda, subaguda ou crônica, segundo o Manual MDS.
• Aguda — com duração de apenas alguns dias;
• Subaguda — estende-se por semanas ou meses;
• Crônica — quando o tratamento não resolve.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por meio da análise clínica do cardiologista e por exames. O tempo de duração da doença e do estado geral de saúde depende de cada paciente.
O especialista orienta que existem diferentes formas para diagnosticar a doença. “Eletrocardiograma, exames de sangue que medem a inflamação [PCR e VHS], exames de sangue, que medem lesão ao músculo do coração [troponina — enzimas liberadas após alguma lesão no coração], eletrocardiograma, que mostra a redução da força do coração, ressonância do coração e, por vezes, uma biópsia é indicada para esses casos.”
Tratamento
O tratamento depende do quadro clínico do paciente, avaliado após o resultado dos exames. Ele pode ser feito com anti-inflamatórios, mas no caso de pacientes mais debilitados, como ocorre na fase aguda, há restrição de exercícios físicos, para dirigir ou desempenhar qualquer outra atividade que gere impacto. Preferencialmente, a pessoa tem ficar de repouso.
“A maioria dos casos é autolimitada e se resolve com o uso de medicamentos que agem contra a inflamação. Assim as medidas de suporte costumam ser temporárias e o paciente volta a ter uma vida normal.”
No caso de o tratamento ou o uso de anti-inflamatórios não apresentar os resultados esperados, há possibilidade de cirurgia. Mas, as operações são raras. “Alguns casos podem necessitar de sistemas de coração artificial temporário, definitivo ou até mesmo transplante”, destaca o médico.
Ele alerta também: “Depois do tratamento algumas pessoas podem permanecer com comprometimento da força do coração, porém a grande maioria se recurpera totalmente.”