Um dia depois de se reunir com Lula (PT), a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse a interlocutores que deve permanecer à frente do partido durante as eleições do ano que vem.
Gleisi teve seu nome cotado para a Secretaria-Geral da Presidência, para o Ministério do Desenvolvimento Social e para o Ministério da Justiça —cadeira hoje ocupada por Flávio Dino (PSB), indicado por Lula para o Supremo Tribunal Federal. A possibilidade de ela ser nomeada abriu um debate no PT sobre a sucessão na sigla.
De acordo com relatos, a deputada reiterou ao presidente a avaliação de que pode contribuir mais no comando do partido. Petistas não descartam, porém, a possibilidade de ela mudar de ideia diante de um apelo futuro de Lula para uma pasta do porte da Casa Civil, central para a articulação governista.
Gleisi comandou a Casa Civil de 2011 a 2014, na gestão Dilma Rousseff.
Sobre o Ministério da Justiça, ainda segundo relatos, ela ponderou que não se enquadra no perfil ideal para a pasta.
A escolha do futuro ministro da Justiça dependerá do desenho que Lula definirá. Caso a pasta não seja desmembrada, ganham força nomes como o de Ricardo Lewandowski, ministro aposentado do STF, e Wellington Lima, secretário de Assuntos Jurídicos da Presidência.
Lula voltou a sondar aliados nos últimos dias sobre a possibilidade de fatiar o ministério e criar a pasta da Segurança Pública. Mas essa hipótese é considerada remota por aliados.
Ainda que não vá para o Ministério da Justiça, aliados ainda veem da parte de Lula o desejo de incorporar Gleisi a uma das cadeiras da Esplanada, durante uma reforma ministerial esperada para ocorrer no início do próximo ano.
O maior entrave para isso, porém, é justamente encontrar um sucessor de peso no PT que tenha as condições de conduzir o partido durante a eleição municipal.
Entre os cenários traçados por integrantes do governo, está a possibilidade de Gleisi ir para o lugar de Márcio Macêdo na Secretaria-Geral. Nesse desenho, Macêdo passa a ser cotado tanto para presidir o PT como para ser candidato à Prefeitura de Aracaju.
Outra hipótese seria Gleisi substituir Rui Costa à frente da Casa Civil. Segundo aliados, ela aceitaria esse convite.
Além disso, interlocutores da presidente do PT dizem que ela própria demonstra resistência a assumir determinados cargos. Pessoas próximas ponderam que ela teme sofrer desgaste caso seja ministra da Justiça, posto extremamente delicado por abrigar a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Em outra frente, dizem que na presidência do PT ela tem mais visibilidade do que em ministérios de menor porte, como é o caso da Secretaria-Geral.
Gleisi chegou a ser cotada ainda na transição para assumir um ministério, mas Lula argumentou que precisava dela para conduzir o partido.
Na ausência de um sucessor natural para substituí-la, os nomes do líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), do presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Rui Falcão, e do senador Humberto Costa (PT-PE) têm ganhado força para o comando do partido.
O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, também passou a ser cotado e tem o apoio de parlamentares. Reservadamente, petistas dizem que ele tem cacife para comandar o partido e representaria uma renovação do PT.
Antes de definir os outros postos na Esplanada, Lula deve resolver a situação da Justiça. O presidente pediu para que Flávio Dino fique à frente do ministério pelo menos até ser sabatinado pelo Senado, na próxima quarta-feira (13). Segundo aliados, o petista quer evitar que o cargo seja ocupado interinamente por Ricardo Cappelli, secretário-executivo de Dino, após ele ter provocado irritação no PT devido a superexposição.
Há ainda a possibilidade de que o mandatário deixe o assunto para o ano que vem, uma vez que o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, tem indicado que a posse do novo integrante da corte ficará para meados de fevereiro.
Dessa forma, Dino deve seguir no comando do ministério até que Lula encontre seu sucessor ou até a posse no STF.
Há outros cotados para a Justiça. Um dos principais, o ministro Jorge Messias (AGU), que também disputou a vaga do STF, chegou a ser considerado para a pasta, mas indicou que prefere continuar onde está.
Segundo interlocutores, além de ter preferência pela AGU, ele só está disposto a mudar de ministério se puder ter “porteira fechada”, o que não deve ocorrer. Na Polícia Federal, por exemplo, não há nenhuma perspectiva de mudança, uma vez que o diretor-geral, Andrei Passos, é indicação do próprio Lula.
Lewandowski também é tido como um dos principais nomes à sucessão de Dino.
Hoje consultor da CNI (Confederação Nacional da Indústria), ele esteve ao lado de Lula nos últimos dias durante viagens internacionais no Oriente Médio e na Alemanha. Interlocutores de Lula, contudo, negam que tenha havido um convite ou mesmo sondagem.
Aliados do ministro aposentado dizem que ele não poderia recusar um eventual convite de Lula, ainda que esteja bem na iniciativa privada.
Se Gleisi tem o peso do partido e o fato de ser mulher a seu favor, uma eventual opção por Lewandowski poderia livrar Lula de um novo problema: a disputa entre siglas aliadas por mais espaço na Esplanada.
Auxiliares palacianos já dão como certo que a sucessão do ministro da Justiça, filiado ao PSB, não deve ser por um nome do partido. Hoje a legenda tem quatro secretários: Cappelli, na Secretaria-Executiva; Augusto Botelho, na Secretaria Nacional de Justiça; Tadeu Alencar, na Secretaria Nacional de Segurança Pública; e Elias Vaz, na Secretaria de Assuntos Legislativos.
O PSB quer garantir que eles permaneçam no ministério, ainda que o titular da pasta seja de outra legenda.
O PT, por sua vez, ainda tenta emplacar nomes da sigla na chefia da pasta, como Wadih Damous (PT), outro secretário no Ministério da Justiça, e o advogado Marco Aurélio de Carvalho.
Folha de SP