O Exército afirmou que, atualmente, o movimento da fronteira do território brasileiro é normal em Roraima. Em meio à tensão na região por conta da disputa entre a Venezuela e Guiana pela região de Essequibo, o Centro de Comunicação Social do Exército divulgou nota informando que mantém, por meio do Sistema de Inteligência e de alertas, monitoramento e prontidão de seus efetivos para garantir a inviolabilidade da fronteira brasileira.
A Força vai enviar à região:
- 16 Guaicurus, viaturas blindadas multitarefa 4×4
- 6 Guaranis, viatura blindada de transporte de pessoal, anfíbia e com capacidade para transportar até 11 militares
- 6 Cascavel, blindado que possui como armamento principal um canhão 90 mm e como armamento secundário duas metralhadoras 7,62 mm, sendo uma antiaérea e outra coaxial ao canhão, possui ainda 6 lança-fumígenos
Os blindados levarão cerca de 20 dias para chegarem a Boa Vista.
As viaturas Guaicurus, um veículo leve sobre rodas (VBMT-LSR) 4X4 LMV-BR foram incorporadas há pouco tempo ao Exército, e receberam esse nome em homenagem a uma tribo indígena guerreira, que habitava os sertões do Centro-Oeste brasileiro e que era famosa por utilizar cavalos para caçar e atacar seus inimigos.
Gráfico mostra o blindado brasileiro “Guaicuru”, (VBMT-LSR) 4X4 LMV-BR, da IDV — Foto: Arte O GLOBO
O Exército antecipou o envio de 60 militares e blindados para reforçar a segurança em Pacaraima — cidade de Roraima próxima à tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. Pacaraima é um ponto usual de entrada de venezuelanos que deixam seu país em busca de oportunidades ao Brasil.
“O Exército monitora a região para, a qualquer sinal de aumento de tensão, rever a quantidade de militares no território”, afirma a pasta.
“O reforço de efetivo já enviado ao local já estava previsto dentro do Planejamento Estratégico do Exército, que previa a evolução do atual Esquadrão de Cavalaria Mecanizado para um Regimento de Cavalaria Mecanizada, com foco em dar apoio a operações contra o garimpo. A mudança resulta em aumento do número de militares na área, além de viaturas blindadas, as quais serão deslocadas do Sul e do Centro-Oeste do país para Roraima”, diz o texto.
Também de acordo com o Exército, a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Roraima, intensificou sua ação de presença nesta faixa de fronteira com seu efetivo de quase dois mil militares.
Aumento de tropa recentemente
Recentemente, o Exército brasileiro aumentou para 130 o efetivo para patrulhamento na fronteira com a Venezuela. O Pelotão Especial de Fronteira de Pacaraima, em Roraima, que normalmente opera com 70 homens, ganhou o reforço de mais 60 militares na semana passada.
A ampliação do efetivo faz parte da ativação do 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado (18° R C Mec) com sede em Boa Vista, Roraima, a partir da transformação do 12º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (12° Esqd C Mec).
O coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em Ciências Militares, explica que um regimento é composto por três esquadrões, o que significa que o Exército pretende triplicar a capacidade militar desse pelotão em Boa Vista.
— Os carros blindados que estão sendo enviados para lá fazem parte do equipamento deste regimento — disse Gomes Filho ao GLOBO. — Eles serão empregados em qualquer tipo de operação em que o regimento seja envolvido, desde uma operação de alta dificuldade, como uma guerra, até eventuais ações subsidiárias de combate a ilícitos transfronteiriços.
A crise entre Venezuela e Guiana também é acompanhada com atenção pelo Ministério das Relações Exteriores, segundo a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe no Itamaraty.
— Estamos falando em alto nível com os dois países e esperamos que a solução seja pacífica — afirmou a diplomata.
Mapa do território em disputa entre Venezuela e Guiana — Foto: Editoria de Arte
A crise
A Venezuela argumenta que o Rio Essequibo é a fronteira natural desde o estabelecimento da Capitania-Geral da Venezuela pela Espanha em 1777. O país alega que o Acordo de Genebra, assinado em 1966 com o Reino Unido meses antes da independência da Guiana, anulou o Laudo Arbitral de Paris, de 1899, que dava ganho de causa a Londres na disputa com Caracas. O acordo, no entanto, apenas reconhecia as reclamações venezuelanas e remetia a solução do problema a uma comissão mista que buscaria uma saída de consenso por meio de negociações. O mesmo documento estabelecia que, em caso de não haver entendimento, a questão seria referida à ONU, que poderia escolher uma entidade de arbitragem. As Nações Unidas remeteram a disputa à Corte Internacional de Justiça (CIJ), seu principal tribunal, em medida rechaçada por Caracas, que não reconhece sua jurisdição sobre o tema.
Único país da América do Sul que tem o inglês como idioma oficial, a Guiana se tornou oficialmente parte do Império Britânico em 1814, após o território ter sido cedido pela Holanda, que estava no poder desde o século XVI, depois de ser tomado por tropas britânicas em 1796. Antes disso, a região já havia sido explorada pelos espanhóis no século XV, mas não chegou a ser colonizada, como a vizinha Venezuela. Mesmo independente, até hoje a nação integra a Comunidade Britânica, grupo composto por 53 países que fizeram parte do antigo Império.
Até 1831, o território guianês era dividido nas colônias de Essequibo, Demerara e Berbice, mas foi unificado sob domínio britânico, quando passou a se chamar Guiana Inglesa. A raiz do problema atual, inclusive, remonta a este período, época em que as fronteiras eram estabelecidas por meio de acordos entre potências europeias.
De um lado, a Guiana se atém a um laudo arbitral de Paris de 1899, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Do outro, a Venezuela se apoia em sua interpretação do Acordo de Genebra, firmado em 1966 com o Reino Unido antes da independência guianesa, em que Londres e Caracas concordam em estabelecer uma comissão mista “com a tarefa de buscar uma solução satisfatória” para a questão, uma vez que o governo venezuelano na ocasião considerou o laudo arbitral de 1899 “nulo e vazio”. No acordo, no entanto, Londres apenas reconhece esse posicionamento de Caracas, mas não respalda sua interpretação de que sentença de 1899 foi baseada em uma fraude. (Com Ansa)
O Globo