Quem procura por Essequibo pode ter diversas respostas sobre quem é o país dono do território: a Guiana assume o território como seu desde o início do século XX — e a Venezuela, depois do referendo mambembe comandado por Nicolás Maduro neste último final de semana, enxerga o terreno como seu, a ponto de encaminhar uma anexação forçada da área.
O Google Maps, no entanto, irá se recusar a dar tal resposta. Quem acessa a plataforma de mapas e clica sobre qualquer ponto de Essequibo, passa a ter como resposta um “Indisponível” na área.
O mesmo vale para as poucas cidades na região de quase 160 mil km², rica em petróleo e minerais que Caracas quer chamar de sua. Lethem, que faz a única ligação rodoviária com o Brasil, não pertence a nenhum estado, na filosofia do Maps. Mesmo o mapa passa a ter as fronteiras em tracejado, em áreas onde há disputas territoriais em aberto.
Não é uma política nova: o Google Maps se viu sob pressão pela primeira vez sobre o tema em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia unilateralmente, após invadir o território soberano de Kiev. Desde então, a empresa indica que no lugar está a “Península da Crimeia”, sem no entanto indicar a qual nação cabe a soberania do local.
Situações assim aparecem aos montes na plataforma, em quase todos os continentes: no Saara Ocidental (reivindicado pelo Marrocos), no Sudão e no Sudão do Sul, na Caxemira (área disputada simultaneamente por China, Paquistão e Índia) e no que a plataforma vagamente chama de “Geografia do Chipre”. Além, é claro, de grande parte do território israelense— o Maps não te dirá a quem pertence as Colinas de Golã, e coloca tantas linhas tracejadas que não se consegue entender onde começa e onde acaba a soberania de cada Estado. Isso, no entanto, pode mudar de acordo com o país que se acessa o mapa.
Ao tirar o pé do tema da Guiana, o Google acabou por diminuir o território que considera sob domínio Georgetown a uma faixa de terra que chega a menos de 50 km de largura. Ao tracejar a fronteira sul com o Suriname (alvo de uma disputa com Paramaribo que remonta aos anos 1840), o governo de Irfan Ali vê seu país murchar dentro do mais popular globo terrestre.
Crusoé