O Brasil registrou recorde de empresas inadimplentes em outubro de 2023. Foram 6,64 milhões de companhias com dívidas fora do prazo no período, segundo dados da Serasa Experian antecipados ao Poder Empreendedor.
Em 1 ano, o crescimento de empresas inadimplentes foi de 4,79%. Na comparação com o mesmo mês de 2019, no pré-pandemia, a alta foi de 10,49%.
O avanço contínuo do número de pessoas jurídicas inadimplentes é visto desde maio de 2023.
As dívidas somaram R$ 125,8 bilhões. O valor médio de cada débito é de R$ 18.957.
Para os pequenos negócios, a inadimplência também é recorde. Atingiu 5,92 milhões de corporações do segmento em outubro de 2023 e representam 89,1% de todas as pessoas jurídicas.
A maior parte (69,5% em setembro) dos empregos do Brasil é criada pelo pequeno negócio. As micro, pequenas e médias empresas são maioria de 94% no país, segundo dados do governo federal. As dívidas negativadas afetam todos que dependem do setor.
Os resultados se explicam por uma série de fatores macroeconômicos, como a alta nos juros e na inadimplência. A análise é de Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
O especialista avalia que há um efeito cascata: com juros e inflação altos, o poder aquisitivo dos cidadãos diminui e as empresas perdem clientes. As taxas elevadas também dificultam o pagamento dos débitos pelas pessoas jurídicas.
Luiz espera que a inadimplência não caia a curto prazo, mas a tendência é a estabilidade para começar a arrefecer em 2024, especialmente a partir do 2º trimestre.
A Selic (taxa básica de juros) está em 12,25% ao ano desde setembro. A expectativa é que termine 2023 a 11,75% e fique de 10% a 9% até o fim de 2024. Na prática, as alíquotas são maiores para pessoas jurídicas e físicas.
A prévia da inflação acelerou para 0,33% em novembro, mas abaixo do resultado do mesmo período do ano anterior.
“A inadimplência é uma variável meio defasada em relação ao ciclo econômico. Precisa acumular uma um período de inflação suficientemente baixa durante um bom tempo e uma quantidade de reduções de taxa de juros para que isso em algum momento possa começar a surtir efeito”, declarou Rabi em entrevista ao Poder Empreendedor.
SERVIÇOS PESAM MAIS
A inadimplência de corporações do setor atingiu o maior nível da série: 3,62 milhões. Os negócios de serviço foram os mais prejudicados durante a pandemia e os efeitos ainda perduram.
“Esse é o público mais vulnerável. Quando você tem o aumento da inadimplência, normalmente o serviço é o setor que é mais impactado”, disse Rabi.
Os setores do comércio (2,43 milhões) e da indústria (500 mil) têm resultados melhores, com níveis abaixo de antes da pandemia.
O economista da Serasa Experian disse que ambos os segmentos já começam mais consolidados por natureza. Os empresários industriais normalmente contam com um investimento maior em maquinário, por exemplo. Os de comércio, com estrutura. Há mais preparo e, portanto, estabilidade: “Tem uma estrutura de capital um pouco mais substancial. Serviços, não. O investimento inicial é muito baixo”.
LULA EXPANDE O CRÉDITO
O Poder Empreendedor mostrou nesta reportagem que os bancos públicos –Caixa, Banco do Brasil e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)– foram os que mais emprestaram a pequenos empresários no 2º trimestre de 2023. É uma tentativa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de fomentar a economia e criar mais empregos.
Rabi avalia que “expandir por expandir não é correto”. Na prática, segundo a análise dele, não adianta fornecer o dinheiro se as empresas não terão condições de pagar. O economista afirma que uma possível expansão sem necessidade pode piorar a situação dos pequenos negócios.
Créditos: Poder 360.