Pouco tempo depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oficializou a indicação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira (27), aliados do ministro da Justiça dispararam telefonemas para integrantes da bancada evangélica no Congresso.
O movimento tem como objetivo abrir um canal de diálogo, com vistas à apreciação do nome de Dino pelo Senado. À CNN, parlamentares que compõem o bloco no Legislativo disseram, no entanto, não estarem dispostos a sentar à mesa com o indicado por Lula para o STF.
A postura é oposta à que foi adotada em relação ao hoje ministro da Corte Cristiano Zanin. À época do périplo pelo Senado, o advogado caiu nas graças de integrantes da oposição e teve excelente recepção entre os evangélicos.
A aversão a Dino entre os religiosos não está ligada à chamada pauta de costumes, mas sim ao fato de que, hoje, grande parte da bancada no Congresso vê no ministro da Justiça um perfil similar ao de Alexandre de Moraes —o que é rejeitado, principalmente, entre bolsonaristas.
Embora Dino seja senador eleito pelo Maranhão, a avaliação recorrente entre integrantes da oposição —e principalmente entre evangélicos— é que ele tem uma atuação “distante da política”. À CNN, parlamentares disseram que, sentado na cadeira de ministro do Supremo, adotaria uma postura de “perseguição à classe política”.
A resistência de abrir conversas com Dino também leva em conta o fato de que grande parte dos evangélicos estavam atuando pela indicação de Jorge Messias, ministro-chefe da Advocacia-Geral da União e integrante da Igreja Batista.
Segundo relatos feitos à CNN, líderes da bancada evangélica foram chamados no Palácio do Planalto para consultas sobre o eventual apoio das igrejas a Messias.
Auxiliares de Lula chegaram a perguntar se, numa eventual indicação de Messias, os principais nomes da comunidade evangélica fariam manifestações públicas favoráveis a ele. Ouviram como resposta que, se essa fosse a decisão, os líderes das igrejas mais relevantes do país poderiam, inclusive, desembarcar em Brasília para um ato formal de apoio ao chefe da AGU.
Esses parlamentares também foram questionados sobre o real tamanho do grupo no Congresso. Hoje, são mais de 180 integrantes entre Câmara e Senado.
Diante do apoio expressivo a Messias, a avaliação entre os evangélicos é que não faria sentido, neste momento, qualquer gesto de aproximação a Dino.
Apesar de apontarem um cenário de dificuldade, os oposicionistas ao ministro da Justiça não apostam numa rejeição de seu nome no Senado. Um desses parlamentares diz que, mesmo que Dino passe num quadro apertado, ele deve ter os 41 votos necessários para sentar na cadeira do Supremo.