A Defensoria Pública do Distrito Federal aponta que outros 18 réus do 8 de janeiro detidos no Complexo da Papuda enfrentam alguma dificuldade de atendimento médico ou decorrente de problemas de saúde na unidade prisional. Os casos foram levantados em relatório do órgão para apurar o contexto em que ocorreu a morte de Cleriston Pereira da Cunha, que faleceu nesta segunda-feira ao passar mal durante banho de sol.
No relatório, os defensores apontam que a maioria dos detentos do 8 de janeiro ouvidos relataram a necessidade de atendimento médico, psicológico e psiquiátrico enquanto enfrentam dificuldades para conseguir a medicação adequada ou o acompanhamento dos problemas de saúde. As autoridades ouviram muitos relatos de presos com hipertensão — um dos quadros de saúde de Cleriston — e problemas no coração, além de demora para conseguir ser recebido por uma equipe médica.
Um dos réus ouvidos pela Defensoria disse ter quadro de estreitamento do ureter, com a necessidade de sonda para urinar, condição que dependeria de acompanhamento contínuo com o urologista. No entanto, ele informou que ficou oito meses aguardando o agendamento de consulta com urologista, que só teria sido registrado em outubro. Outro detento relata ter quadro de pressão alta de difícil controle e informa que a equipe médica ainda não teria acertado a dosagem da medicação.
Há ainda caso de um dos presos em uma das etapas da Operação Lesa-Pátria, deflagradas pela Polícia Federal para identificar organizadores e incitadores dos atos golpistas de 8 de janeiro, que relatou ter laudo médico de depressão grave e pressão alta que estaria apenas recebendo remédio para dor e febre. Ele informou à Defensoria que não tem prescrição para antidepressivos nem atendimento psiquiátrico e psicológico. Outro detento informou que foi preso na Papuda com um corte na testa e, apesar de o ferimento ter sido fechado com pontos na ocasião, não teria recebido medicamentos e acompanhamento médico posterior.
Conforme mostrou O GLOBO, a Defensoria identificou que Cleriston Pereira da Cunha, que morreu nesta segunda-feira, demorou 40 minutos para receber atendimento médico quando passou mal e, quando a equipe chegou ao local, ele já teria morrido. No dia, colegas de cárcere do réu do 8 de janeiro ainda informaram que a área de saúde da unidade prisional estava fechada por se tratar de um dia com ponto facultativo — no dia 20, é comemorado o Dia da Consciência Negra.
Procurada pelo GLOBO, a Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape) ainda não retornou os questionamentos da reportagem.
O Globo