O jornal O Estado de S. Paulo, em editorial publicado nesta segunda-feira, 20, criticou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por prestar solidariedade ao ministro da Justiça, Flávio Dino, em vez de apurar por que membros do crime organizado conseguiram duas reuniões na pasta comandada por Dino.
Desde a semana passada, quando o Estadão revelou que Luciane Barbosa Farias, conhecida como “Dama do Tráfico” e mulher de um líder do Comando Vermelho no Amazonas, foi recebida duas vezes por assessores próximos de Dino, o governo Lula passou a criticar quem fez as denúncias. Lula prestou solidariedade ao ministro, que estaria sendo “alvo de absurdos ataques artificialmente plantados”.
O próprio Dino afirmou que não vai demitir os assessores que receberam Luciane. Ela foi condenada em outubro a 10 anos de prisão por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas recorre em liberdade. O marido dela cumpre pena de 31 anos de prisão.
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, cuja pasta pagou passagens para Luciane ir a um evento em novembro, considerou a divulgação das informações como “ataques difamatórios” e a classificou como uma “tentativa generalizada, por parte de extremistas de direita, de a todo momento fabricar escândalos e minar a reconstrução da política de direitos humanos”.
“Haja empáfia”, afirma o Estadão. “Eis o modus operandi petista. Acham-se superiores mesmo quando seus erros são expostos. Em vez de prestarem as informações ao público e admitirem o erro, atacam genericamente, sem nenhuma prova, politizando infantilmente a questão.”
Estadão diz que Lula deveria se preocupar com a aproximação do crime organizado com o governo
Luciane Barbosa Farias fez postagem sobre a reunião com o secretário nacional de Políticas Penais do Ministério da Justiça, Rafael Velasco Brandani, e com outras autoridades do ministério de Dino | Foto: Reprodução/Instagram
“É estarrecedor”, afirma o Estadão. “O crime organizado atua à luz do dia para se aproximar da política e interferir nela, e o governo do PT parece considerar tudo isso normal.” O jornal nota que a preocupação do governo “não é investigar o caso, tampouco atuar para que a administração pública federal fique menos exposta às investidas políticas das facções criminosas”. “A prioridade petista é defender o companheiro Dino, que estaria sendo injustamente atacado.”
O Estadão lembra que a política de segurança pública do governo Lula é considerada um fiasco até agora, mas Lula só se preocupa com “eventuais consequências políticas do escândalo”.
“Com isso, Lula da Silva reitera o padrão de comportamento adotado até agora na área da segurança pública. Não entendeu a gravidade do problema. Não se preocupa com a população, que sente diariamente os efeitos e todas as sombras que a criminalidade gera sobre a vida em sociedade. Não tem nenhum plano concreto para prevenir os crimes e enfrentar os criminosos. Sua atenção está voltada exclusivamente para as eventuais consequências políticas do escândalo da participação da mulher do traficante ‘Tio Patinhas’ em reuniões do Ministério da Justiça e Segurança Pública.”
O jornal afirma que “governar é muito mais do que agir guiado por cálculos político-eleitorais” e “exige um mínimo de comprometimento com o interesse público”. Apesar disso, Lula, mesmo com a revelação de que as facções criminosas têm acesso à alta cúpula da administração federal, “Lula optou por cuidar do interesse do seu ministro que, coitado, não estava sabendo das tais reuniões”.
O Estadão afirma, ainda, que “o governo do PT zela por si e apenas por si” e que “não há reconstrução possível do País onde imperam a irresponsabilidade e a desfaçatez”. E conclui: “O mínimo que o governo poderia fazer seria afastar ou ao menos advertir os secretários envolvidos no caso. Mas o sr. Dino já descartou essa possibilidade, dizendo que, se o fizesse, estaria se ‘desmoralizando’. Conclui-se que ele preferiu desmoralizar o país”.
Revista Oeste