Os argentinos enfrentaram dificuldades para abastecer os seus veículos na segunda-feira (30).
O país, que é um grande produtor de petróleo e gás de xisto, tem sofrido com a escassez de gasolina e diesel desde o final da semana passada, devido a problemas de refinação interna e a falta de dólares atrasou as importações.
O ministro da Economia e candidato presidencial, Sergio Massa, culpou as petroleiras e indicou que estas retêm ações “para especulação”. Do setor empresarial respondem que não há combustível.
Carros parados no meio da estrada, outros estacionados em locais inusitados e filas muito longas nos postos de gasolina são imagens cada vez mais comuns desde a última quinta-feira. A falta de gasolina afetou o consumo no varejo, embora os atacadistas também tenham sentido o impacto.
A Federação Argentina de Entidades Empresariais de Transporte Automóvel de Carga (Fadeeac) alertou em comunicado na sexta-feira sobre uma “crescente escassez de combustível”.
A Fadeeac acrescentou que esta crise “impacta diretamente a produtividade e a rentabilidade” do transporte de cargas “sendo por isso vital para a economia” do país, já que, segundo os seus números, o setor distribui 94% das mercadorias.
O presidente da Federação dos Empresários de Combustíveis da República Argentina (Fecra), Vicente Impieri, disse à CNN que a normalização do abastecimento pode levar “alguns dias”.
O Ministério da Energia informou que na sexta-feira foi acordada a importação de 10 navios com combustível, durante uma reunião com as petroleiras para procurar soluções para o problema da escassez. Massa definiu esta terça-feira (31) como prazo para que o problema seja resolvido.
“É muito raro” que falte combustível no país de Vaca Muerta [campo de petróleo], considerada a segunda reserva de gás não convencional do mundo. Essa foi uma das definições mais contundentes do ministro da Economia sobre a situação atual, em entrevista ao canal LN+.
No meio desta crise, Massa colocou a responsabilidade nas empresas petroleiras. Segundo o ministro, “houve uma retenção de stocks” devido às especulações sobre uma possível desvalorização após as eleições presidenciais de domingo, 22 de outubro.
Isso não aconteceu, ao contrário do que aconteceu no dia seguinte às primárias de 13 de agosto, quando o governo decidiu aumentar o valor do dólar oficial em 21%.
O ministro e presidenciável também argumentou que o término do congelamento dos preços dos combustíveis previsto para esta terça-feira teria funcionado como elemento de especulação para retenção de estoque devido à incerteza sobre quanto aumentará o valor dos combustíveis após o referido acordo.
O secretário da Fecra, Hernán Landgrebe, negou qualquer versão de retenção de estoque.
“Não podemos nos dar ao luxo de parar de vender”, disse o representante do setor à CNN. “Convido-vos a passar pelos postos fechados e verificar se os tanques estão vazios”, acrescentou.
Massa mencionou petroleiras específicas, como a TecPetrol. A CNN entrou em contato com a equipe de comunicação da empresa, mas ela não respondeu.
Mercado interno e externo
“O produtor tem que escolher se vai vender no mercado externo ou no mercado interno e tem o dobro do valor do barril em dólar, ele decide vender no mercado externo e estocar. Essa é a razão”, disse Massa.
Os indicadores explicam este desequilíbrio. Segundo números do site GlobalPetrolPrices de 23 de outubro, o preço internacional do litro da gasolina é de US$ 1,34.
Na Argentina esse preço é de US$ 0,86, medido com a referência oficial do dólar. Se medido com o dólar paralelo ou azul, o preço do litro da gasolina cairia para cerca de US$ 0,30 no mercado interno.
Esses números mostram que, sem considerar as diferenças de poder de compra, a gasolina na Argentina é muito barata em comparação com outros países da região. No Brasil, segundo a GlobalPetrolPrices, seu valor por litro é de US$ 1,14; no Uruguai, US$ 1,94; no Chile, US$ 1,44, e no México chega a US$ 1,34.
“Se as petroleiras não regularizarem a situação até terça-feira, não poderão exportar na quarta-feira”, alertou o ministro da Economia.
Para Daniel Montamat, ex-secretário de Energia (1999-2000), as exportações não explicam a razão do problema. O valor do combustível na Argentina sofre distorções em decorrência de aumentos ou congelamentos de preços acordados com o governo, o que afetaria a oferta de gasolina. “Isso a reduz”, disse Montamat.
Massa alegou que as empresas petroleiras desfrutam de benefícios fiscais como parte dos acordos de regulação de preços. “O governo abriu mão de arrecadar impostos para manter o preço para o povo”, disse o ministro.
Do setor petroleiras explicam que estes benefícios são insuficientes. Uma fonte de uma das empresas produtoras da Argentina disse à CNN que “enquanto o preço da gasolina aumentou cerca de 60% no ano, o custo de produção cresceu quase 120%”.
CNN