Em conversas no WhatsApp obtidas pela coluna de Paulo Cappeli/Metrópoles, o então chefe da Agência Brasileira de Inteligência, Saulo Moura da Cunha, agradeceu a Aloizio Mercadante por ter recebido o apoio do petista para ocupar o mais alto posto da Abin, no começo do ano.
Dias depois, em 10 de janeiro, relatou a terceiros que o ex-ministro de Dilma, atual presidente do BNDES, teria lhe “pedido cargos”. Procurado, Mercadante negou a versão.
“Bom dia, Saulo, você estará na posse da [ministra] Anielle Franco ou [do diretor-geral da Polícia Federal] Andrei Rodrigues, queria conversar um pouco”, escreveu Aloizio Mercadante, ao meio-dia do fatídico 8 de Janeiro.
No mesmo aplicativo de mensagens, Saulo respondeu:
“Bom dia, ministro. Estarei na posse do Andrei, sim”.
Dois dias depois, em conversa com um aliado da Abin, Saulo relatou:
“Encontrei Mercadante agora na posse do Andrei”.
O interlocutor perguntou: “Pediu cargos?”
E o então chefe da Abin replicou:
“Sim. E disse que iria falar com o PR (presidente da República)”.
Antes disso, Saulo chegou a agradecer a Mercadante pela nomeação para o cargo de chefia na Abin:
“Caro ministro Mercadante. Aqui é Saulo. Agradeço imensamente o apoio para a minha nomeação na Abin, publicada hoje. Estou à sua inteira disposição aqui na agência”, escreveu o ex-chefe da agência, em 2 de janeiro.
O presidente do BNDES respondeu parabenizando Saulo pelo “grande desafio” que teria pela frente.
Não fica claro por que Mercadante, presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento, mantinha interesse no funcionamento da Abin, que tem como função principal municiar o presidente da República com informações estratégicas [e na maioria das vezes sigilosas] em diferentes áreas.
Assim como o ex-chefe do GSI Gonçalves Dias, Saulo Moura foi exonerado por Lula do comando da Abin em meio aos desdobramentos do 8 de Janeiro.
Mercadante nega pedido por cargos
Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, Mercadante negou qualquer pedido por cargos.
“Ele não pediu cargos. Pediu indicações para compor um grupo de trabalho para uma análise/ diagnóstico do setor, como ocorreu em todas as áreas do governo.
No caso da Abin, esse GT propôs o deslocamento do órgão do GSI para a Presidência da República, o que de fato acabou acontecendo depois”, afirmou a assessoria do ministro.
Escândalo da espionagem
Recentemente, a Abin se viu envolvida em um escândalo ocorrido ainda na gestão Bolsonaro. De acordo com a Polícia Federal, servidores da agência usaram um sistema israelense para, de forma ilegal, monitorar a geolocalização de jornalistas e autoridades públicas, como ministros do STF.
A PF chegou a fazer buscas e apreensões na própria sede da Abin e a prender servidores da agência. Como mostrou a coluna, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, demonstrou incômodo com a forma como a operação foi deflagrada.
Metrópoles/Paulo Cappelli